Porque hoje chove
Peguei tuas mãos nas minhas e li tua vida na eternidade de um minuto a dois. De muito beijá-las teus dedos ficaram impressos na minha boca. Foi para devolver tua identidade que te beijei. Mas de tanto beijar perdi eu a minha que ficou dispersa nas marcas indeléveis das minhas mordidas em teu corpo. Agarraste-me então em fúria carinhosa e escreveste tua história na volta do meu pescoço enquanto meu drama eu te impingia na imensidão das tuas costas. Armado o palco do espetáculo tântrico o enredo não coube mais em dedos e bocas e a trama viva desse nosso desconforto enrolou-se junto aos tropeços que ficaram ao pé da cama. De lá não saí eu nem tu ficaste mas um eu-tu-nós despontuado que ora é verso e ora é frase. Um todo ser amalgamado e sem mesura que padece de um langor que é em si só calor e jura de um fogo consumado enquanto chove ao fim da tarde.