Desespero
Sou aquele canto animal da boca
Que você morde logo antes do gozo
O querer de uma vida irreal e louca
Aprisionada em ingênuos tons pastéis
O mito de uma falsa segurança
Fruto de divina providência morta
Que você agarra a unhas, esperando
Sempre a salvação que bate à porta
Mas eis que a dor que agora te alucina
É o grito rouco que em ti ecoa — tão sem jeito —
Daquele você mesmo que sozinho clama
Pois o próprio-amor que tens aqui no peito
E que da luz débil e inconstante te iluminas
É esse o mesmo amor que por aí te amam