Sinto saudades

Sinto saudades. Saudade de pessoas com as quais não consigo mais falar. Pessoas que eu não sei mais onde estão, nem como vão, mas que deixaram suas marcas indeléveis aqui nesse peito. Pessoas de muito antes. É uma saudade curiosa que pergunta: "Por onde andará fulano? Será que casou? Será que mudou?" Mas é uma saudade da memória.

Sinto saudade de algumas pessoas que não posso mais ver neste plano. É uma saudade consolidada do que já foi. É uma saudade histórica.

Sinto saudade de pessoas que não sumiram, não mudaram, não morreram. Pessoas que estão ao alcance dos dedos, mas cujos caminhos não trilho mais porque não posso. Porque é difícil e eu não sei como, embora queira a presença viva de seus rostos. São vocês cujas vozes ainda escuto. São pessoas cujas marcas ainda não se definiram no peito, são pessoas cujas presenças ainda vagueiam por esse domínio, sem ter certeza onde parar. É uma saudade que vibra, selvagem e mutante. É uma foto com um sorriso fora de contexto. É um abraço, uma conversa e um beijo guardados na estante. São caminhos, encruzilhadas, partidas e chegadas. Pessoas amadas.

Caminhos que se cruzam, caminhos que se afastam e se encontram. Como um trem encarcerado ao próprio trilho, eu, passageiro de mim mesmo a olhar em anseio pela janela, assim vai minha saudade de cidade em porto, de porto em cidade. Saudade... saudade... saudade...