Ditabunda

Tem todo um bafafá rolando por causa do tal editorial da Folha, lá por meados de fevereiro, né? Pois é, eu só fiquei sabendo mesmo por causa da celeuma. É o jornal e seu revisionismo tacanho — e oportunista, vamos combinar, para um jornal que sempre se orgulhou de ser de centro-esquerda —, são os intelectuais de esquerda inflamando-se indignados — e, se menos oportunistas, também parciais, como todo discurso inflamado —, é o militar reformado fazendo comparações superficiais, é o jornal de novo, perdendo definitivamente a isenção e a elegância. Enfim, é o pau comendo, para variar. A única expressão realmente sensata, pacrece-me, foi a de Fernando de Barros e Silva, na própria Folha, que veio elegantemente ilustrar o quanto todo mundo está errado.

Mas uma coisa que me chamou a atenção no meio da argumentação toda foi a intrigante definição de valores: quer dizer então que existem ditaduras melhores que outras? Me digam… Não, me digam com sinceridade! Eu não sabia que ditadura de direita era diferente de ditadura de esquerda! Vou tentar me lembrar disso da próxima vez que toda e qualquer liberdade humana for ameaçada. Ora vamos, uma ditadura só e melhor que outra quando somos a favor dela. No fim de contas (de corpos, se preferirem) dá na mesma. E acho que hoje podemos afirmar com tranqüilidade que qualquer ditadura — tenha ela o background histórico que tiver, e aí, sim, temos uma questão de fato para discutir, não para justificar, mas para entender, incorporar e evoluir socialmente —, eu repito, toda ditadura é vil.

Isso dito, podemos seguir adiante sem pisar no mesmo buraco?

Missiva

Hoje senti sua falta, daquele jeito resiliente, que resiste a uma caminhada, dois copos de cerveja, faxina e arrumação de armário. Foi quando desci a rua e a tarde caía. Fazia um calor modorrento e o céu parecia pintado de um azul improvável, com uma lua pendurada, rindo insolente. Tanto lembrei de outras luas, já sem rostos, que senti minhas mãos vazias. Mercedes cantava nos meus ouvidos e eu ensaiava alguns passos, alheio, para não cair em mim.

De repente, me senti pequeno e inútil. É sempre assim quando acontece, me torno miúdo, quieto, melancólico. Sei das peças que eu mesmo prego em mim — essa é uma delas, antigo sucesso dos palcos; hoje é só reprise. Já não me aborreço porque sei que passa depois de uma boa noite de sono, geralmente. Então faço como os livros do móvel da sala: empilho-os no chão para que cada história escolha seu caminho e os devolva cada um ao seu devido lugar. Tiro coisas e troco de lugar, bagunço tentando me organizar. E então durmo com a mão no peito, procurando um papel para você na minha vida.

Eu só queria que você soubesse.

Dois irmãos

Nos teus olhos
nem sempre
me vejo no espelho
e muitas vezes enxergo
contraste.

Mas não são também
os contrapontos
do desejo
o equilíbrio
dessa arte?

We apologize — and yet, we don’t.

Às vezes, simplesmente é muito. É quando aquelas defesas, tão fragilmente erguidas, despencam. É como encarar a audiência nu, sem piada nem gracejo, sem toalha, sem jeito. E nenhuma audiência, por mais crítica que seja — e nunca o são tanto assim —, é pior que o próprio espelho.

“…Se lembra quando toda modinha
Falava de amor
Pois nunca mais cantei, ó maninha…”

Cinza

“Acabou nosso carnaval
Ninguém ouve cantar canções
Ninguém passa mais brincando feliz
E nos corações
Saudades e cinzas foi o que restou…”

Carnaval traz sempre um quê de ressaca, mesmo quando não se bebeu — o meu caso. É um sentimento de vazio, quase tristonho, de quem quis muito e acabou meio sem querer no final. É aquele beijo que você quis roubar. Aquele rosto que levou teu olhar e não devolveu. Ou a cantada que você recebeu. O sorriso que alguém te deu e você não teve onde guardar. Não há bolsos no carnaval, a gente só leva o que consegue pendurar no pescoço. É uma alegria que, mesmo não sendo forçada, não é natural. Tanto desejo parece que esgota a gente e acordar na quarta-feira é sempre um pouco gris.

Acho que nosso problema é querer viver um eterno carnaval, como se não fosse possível ser feliz fora da folia. É a loucura que se instaura, fantasiada de razão, já que nada disso vale a pena, pois no carnaval — não me leve a mal — nada é certo, nada é prometido, apenas o querer constante e insaciável é permitido. E nosso desejo continua bloco afora, por entre uma gente que nem se vê, se abraça e se beija e caminha sem rumo, sem jeito, sem fim.

Mas no entanto, é preciso cantar. É preciso encontrar novos carnavais. E algum deles há de ser menos folia e mais canção, menos tristeza e mais sorriso, menos saudade e mais coração. E que o Carnaval seja apenas uma lembrança de dias gostosos de uma felicidade sem motivo. Uma fantasia de nós mesmos onde a gente achava que sabia e cantava cantigas de amor, quando o que buscava, sem saber, era um canto de paz.

“Porque são tantas coisas azuis
E há tão grandes promessas de luz
Tanto amor para amar de que a gente nem sabe…”

Oscarito

Eu nunca tive realmente muita vontade de assistir à premiação do Oscar — eu nunca fui um fã que preste, é verdade. Daí que quando, pela primeira vez eu tenho esse impulso, devo agradecer à maravilha que é a internet e suas trasmissões… well, piratas. Porque claro que eu cancelei a TV a cabo por falta de uso (fora o preço abusivo).

Pena que mesmo assim eu não me toque do horário da cousa — não é que eu esqueci, eu não sabia mesmo! Mas valeu pelo gran finale ao ver o Sean Penn levar o douradinho. Não valeu pela Meryl Streep — quero meu dinheiro de volta!

Got Milk?

Nasci em meados dos 70, mas acho que só comecei a acordar no finalzinho dos 90, já que na adolescência a gente só pensa que sabe das coisas; a adolescência é um sonho — ou um pesadelo. Talvez por isso a questão toda da emancipação do movimento gay pra mim seja apenas… história. Mais ou menos a diferença que deve ser quando eu penso no período da ditadura e quando meus pais é que pensam. Eles tiveram amigos presos, eles conheceram gente que sumiu ou fugiu às pressas pro exterior, e isso porque nunca pegaram em armas. Da mesma forma, as histórias mais tristes que eu conheço do mundo gay não são minhas. Minha saída do armário foi tão simples quanto dizer: “mãe, você sabe que teu filho é gay, né?”, e apresentar meu primeiro namorado, ou levar o outro pra almoçar numa casa cheia de família italiana num domingo de Páscoa; sem exagero. Não tenho mérito nenhum nisso. Eu tenho é sorte, muita sorte de ter nascido numa família amorosa e tolerante, que tem lá seus vários problemas, mas que nunca tratou esse tipo de diferença como um fantasma, um estigma.

Isso não me livrou de ter meus próprios fantasmas, entretanto. As maiores opressões que já sofri até hoje foram minhas, frutos de insegurança, medo, carência, etc. Mas sobretudo, o sentimento que a gente compra do mundo de ser errado. Tudo isso cai por terra quando você se sente pronto pra (se) enfrentar. Com 16, 20, 40 anos ou mais, há sempre um processo de emancipação, em relação ao mundo ou a si próprio.

E é por isso, acho eu, além da lírica humana (que atenua certas cruezas históricas) e da interpretação irretocável do Sean Penn no papel principal, que Milk me pegou em cheio. Porque não dá pra ficar indiferente quando você vê sua natureza sendo atacada impiedosamente, num exercício de hipocrisia sem limites. Muito menos quando de dentro da minoria uma voz se ergue, uma luz se acende, uma esperança se impõe. Isso é épico. Isso mexe com a gente.

+

Deixei os gatos ontem assistindo Aristogatas na TV, na esperança de que eles ganhassem um pouco de bons modos.

A julgar pelo rolo destroçado de papel higiênico que eu encontrei esta manhã, não gostaram nem um pouco do filme.

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Acabei de ver que este ano sai uma refilmagem de Star Trek. Vai ser um fiasco, os personagens não terão o mesmo jeitão, eu não sei como o enredo terá a mesma força depois de tanta ficção científica e uma horda revoltosa de trekkers vai se inflamar contra o que eles dirão ser indigno da memória da USS Enterprise — eu vou ficar de olho no Sr. Spock.

Vai ser lindo, mal posso esperar!

“…While combing my hair now,
And wondering what dress to wear now…”

Sabe que eu gostei dessa história de ficar mudando de template?

Agora só falta eu criar vergonha na cara e mudar aquele branco da parede da sala… Devagar, né? Que lá não é só clicar e pronto.

+

Eu ando doido com as coisas de casa. Quero uma luminária pro teto da sala. Quero que meu tapete fique pronto pra ontem. Quero almofadas coloridas. Quero uma mesa linda de jantar — essa é foda!

Só o dinheiro que não acompanha o meu ritmo. Ninguém deveria vir ao mundo com mais gosto que dinheiro. Parece que tudo onde eu bato os olhos é mais caro. Qualé? Tem graça não!

Se eu tivesse o mesmo gás pra arrumar as minhas coisas que eu tenho pra procurar coisinhas… Bom, eu seria virginiano, é verdade.

+

Tirei aquela caixa do fundo do armário. O teu presente eu dei, o móbile de papel colorido acho que vou pendurar na sala. Mas os mil tsurus amarelos e prateados que eu dobrei pra você fiz voar. Eles agora habitam céus de algodão. Dizem que mil tsurus trazem sorte. Eu não podia mantê-los presos num fundo de armário, sorte — assim como o amor, assim como a amizade, assim como a felicidade — é algo que não se deve engaiolar.

O óbvio

Eu mereço um amor possível — não um amor inventado, não um amor idealizado, não um amor perfeito, não um amor bandido; possível.

Já tava na hora dessa verdade entrar na minha cabeça e no meu coração.

+

Um oferecimento: coisas não necessariamente relacionadas anteriormente que poderiam muito bem passar longe daqui, mas não.

Da não-linearidade das coisas

Porque faz tempo.

+

Coração na mão. É quando você não sabe o que fazer. Ou quando sabe, mas não pode. Ou quando pode, mas não deve. Ou quando deve, mas não consegue. Ou quando consegue, mas não adianta. Ou quando adianta, mas é pouco…

Deu pra entender?

+

Oito anos de blog. E para quê? Metade poderia muito bem não ser escrita — ou dita, bem como na vida. Erros. Acertos. Bolas na trave. Ora bolas, quando eu paro para pensar, vejo que não sou mais eu em muita coisa, mas é aí que mora a injustiça: todo prado deve ao seu solo, cada camada que nele se assenta, a sua exuberância.

É por isso que eu estou ali e que cada pedaço, cheio de sua verdade temporal, sou e sempre serei eu, mesmo sem mais ser.

+

Chorei muito quando você se foi. Muito. Mas respeitei sua escolha silenciosa de partir. O mais difícil foi dizer adeus — um adeus que você nunca ouviu, dito para aquele pedaço de você que carraguei comigo (onde será que você me guardou? não importa). Foi quando fiz a minha escolha de não te procurar mais, de não saber de ti. Tive que colocar a razão sobre o desejo, simplesmente, e não por outro motivo: te procurar me faz mal e eu não posso permitir que você me machuque desse jeito, se você nem está aqui.

Mas se a razão acode, ainda assim o sentimento prevalece. Sem drama. E eu sinto, muito, como sempre senti. Sinto tudo, mesmo quando não faz sentido, porque é da minha natureza e porque é preciso purgar, pois sentimento engolido vira doença; e sentir é muito nobre. Portanto, eu sinto muito. Eu sinto muito…

…Futuros amantes, quiçá
Se amarão sem saber
Com o amor que eu um dia
Deixei pra você

+

Doismesesemeio sem monitor, vocês têm noção?
Eu quero que a Samsung morra e a notícia corra.

Sabe aquele jogo que eu tava doido pra jogar? Não joguei. Sabe aqueles filmes que eu tava esperando janeiro pra assistir? Não rolou. As séries? Nem. Eu tô para ver pós-venda mais esculhambado.

Amiga dona de casa, se você tem algo da Samsung, reze para que continue funcionando bem bonitinho porque senão… Agora, se a garantia acabou há, tipo, um mês, como no meu caso, reza, mas reza muito, pode ir rasgando a própria roupa e pedindo perdão se você, como eu, deu peteleco nas bolas de Cristo pendurado na cruz.

E prepare-se para muito Procon, que eu tô me preparando para um Pequenas Causas.

+

E tudo o que eu queria naquelas noites era abraçar teu cheiro e beijar teu sono.
Era o que você não queria me dar e o que eu não podia te pedir.

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E como a vida não pode deixar de ser bela, a casa anda cheia dela. Rabicó e Menina crescem como se não houvesse amanhã. As plantas trazem serenidade e suas cores pouco a pouco vêm tomar conta do espaço. Quer dizer, isso quando a Menina não resolve arrancar-lhes as folhas ou derrubar o vaso — o exuzinho de quatro patas.

Para ajudar mantenho água e sal grosso do lado da porta. E alfazema nos travesseiros, sempre fofos, os lençóis limpos. Enquanto isso o corpo pede alma e a vida pede calma.

Temp[orary|late]

Preguiça. Eu odeio mexer em html, php então, nem se fala! Simplesmente não sei, tenho que ficar analisando os scripts pra entender como funciona e daí alterar, incluir, tirar o que eu quero. Já não tenho mais tanta paciência pra tentativa e erro.

Depois que troquei o MT pelo WP, o Figaro, que já estava às moscas ficou pra lá de largado. Cada vez que eu abro uma página de código um torpor dos diabos me toma e eu arranjo outra coisa pra fazer.

Então vamos aderir aos templates pré-fabricados, né? Não é muito original, mas eu não tô nem aí. Um dia, quem sabe, eu me animo. Ou não.

Será que alguém tá morrendo de vontade de me dar um template novo? Hm… não?

Ato fálico

Essa merece registro.

Estava a bi amiga no restaurante japonês, obviamente já louca de saquê. Mesa com seis. Garçom danado.
— Moço, a gente vai querer mais sushi, sashimi e dois temakis. E ela vai querer um glory hole
Entra o coro:
HOT ROLLS!!!
Mão no colar.

Francamente…

Horoscópico

Há um tempo eu gastava o meu tempinho publicando o meu horóscopo aqui — na verdade, há um tempo eu gastava o meu tempinho publicando qualquer coisa aqui. Mas ontem — a saber, domingo, que eu ainda não dormi —, depois de passar mais de seis horas numa mesa, petiscando, bebendo e falando da vida amorosa, da vida não-amorosa e da vida alheia com um amor de amiga, depois de uma semana de emoções saborosas, porém indigestas, fui dormir com febre. É, febre. Aquilo que eu nunca tenho, mas que às vezes eu tenho.

Daí que eu acordo hoje e abro meu e-mail:

A Lua se faz minguante entre os dias 17/11 e 19/11, Guilherme, sugerindo algum stress emocional. O risco aqui é de adoecimento por conta de excesso de passeios e farras. Procure observar a importância de manter o recolhimento e a discrição, ainda que a Lua na nona casa esteja lhe impelindo para viagens ou estudos em excesso. Relaxar as emoções é absolutamente essencial neste momento!

Então, né? Agora já foi. Dipirona ni mim.

Cafezinho

E tudo o que eu queria falar era do absurdo que eu tenho achado de pagar uma fábula por cafés por aí. Culpa do Google. É só nesta terra que Starbucks e que tais conseguem cobrar o absurdo que cobram por uma mísera xícara de café? E falando da Starbucks, QUALQUER coisa ali é absurdamente cara. E vive cheio. Quem entende?

Cafezes

Ok, eu já vi que não é novidade, mas é novidade pra mim. Ou não, vai ver que eu já soube disso, mas uma amnésia pós-traumática apagou qualquer vestígio dessa lembrança da minha cabeça. E, de qualquer modo, o absurdo também não ajuda, eu acho que vou acabar esquecendo tudo de novo, então vale a nota.

Quer dizer que eu estou aqui, quietinho, na minha, curtindo a minha vidinha, cuidando de coisas que só dizem respeito ao meu umbigo e tem gente por aí — muito pouca gente, acredito (ou espero) — tomando café de bosta?

Parece algum tipo de barrinha de cereais, não? Tá servido?

Eu sei que o tal do bichinho só come os frutos mais doces e maduros, eu sei que tem todo o processo químico que embosteia os grãos (mas não os digere, olha só, que maravilha!), conferindo aromas e sabores, hm… únicos, e sei também que tudo é lavado, lavado, lavado, torrado, moído, fervido, etc. Tudo isso eu sei, senhoras e senhores. Mas o que me espanta mesmo, não é o fato de ter gente que paga uma fábula pra experimentar essa iguaria — talvez um dia eu até experimente, vai saber! O que me espanta é pensar que alguém, um dia, viu um cocô cheio de bolotas, viu que era café, e teve a idéia piramidal de experimentar!

Você consegue se imaginar pensando: “Hmmm… Esses grãos de café quase não estão digeridos, o que significa que as enzimas do trato intestinal de seja lá o que for que os comeu deve ter apenas alterado ligeiramente a estrutura das proteínas da semente. Isso pode ter ficado muito bom!” Não, né? Você provalemente, como eu, pisaria em cima de um troço desses e pensaria, no máximo: “Eca! Algum bicho aqui cagou café! Que nojo!” E é provavelmente por isso que quem vende esse néctar deve estar podre de rico. E nós, não, caro leitor. Nós temos nojo de café com cocô.

Um mundo onde gente toma sopa de ninho e café de bosta. Não é à toa que às vezes eu me sinta meio deslocado.

Fora do ar

Ah, não tenho nada de interessante pra falar! A quem interessa que eu comprei sofá novo? Que importa se tava sol e não choveu?

Então. Quando alguma coisa realmente minha tomar forma, daí eu escrevo. Nada disso é meu, veja, nada disso sou eu. Não mais.

Mas só pra não passar em branco, diz aí que eu tô feliz.

Não brinca!

Banda larga brasileira está entre as piores do mundo, diz estudo (O Globo)

O Brasil tem uma das piores redes de banda larga do mundo, segundo um estudo que analisou a internet rápida em 42 países do mundo. Na pesquisa, consuzida pelas universidades de Oxford e Oviedo, a pedido da Cisco, o Brasil ficou a frente apenas de Chipre, México, China e Índia.

Numa escala de 0 a 100 o Brasil fez 13 pontos, valor considerado inadequado para o uso de aplicativos comuns na rede hoje em dia, como navegação web, downloads de música, streaming básico de vídeo e chat por vídeo.

Etc, tal e coisa, coisa e tal… É mesmo, minha gente? Eles fizeram pesquisa pra descobrir isso? Era só me perguntar: 13 pontos, que nada, seriam uns 3, se muito!

Sem mais sarcasmo para o momento. :P

Olimpiada

Eu não assisti a abertura. Não, eu não lembrei mesmo, provavelmente estava dormindo. Mas como a internet é minha pastora e download não faltará, logo eu resolvo isso.

E nem era sobre isso que eu queria falar. Esses dias me peguei assistindo TV por acaso. Porque é assim que eu assisto TV, muito de vez em quando e por acaso; sou incapaz de lembrar, por exemplo, que quinta às 10h da noite passa… O que é que tem de bom na quinta às 10h da noite mesmo? Enfim, não faz diferença, eu não vou lembrar de assistir! E ainda chamo novela das nove de novela das oito.

Voltando. Eu estava assistindo TV por acaso e me peguei pensando no absurdo de alguns esportes. Por exemplo, o que leva uma pessoa a treinar salto com vara? Não pode ser pra ficar em forma, vamos combinar. Nem pra ficar famoso e rico. Agora você imagina o Joãozinho ou a Mariazinha ficando grandinhos, virando pros pais e dizendo: “Eu quero ser atleta!” Daí os pais, já conformados que não vão ter um médico, engenheiro, economista ou advogado na família vão lá e compram uma bola pros guris. Ou uma bicicleta. Ou uma raquete. Ou uma peteca, que seja! A criança olha com aquela cara de desolação e diz: “Mas eu queria uma vara!” E aí, minha gente? Se bem que deve servir pra pular muro, vai que o rebento se dá bem na bandidagem?

Boxe eu não vou nem comentar! E aí, já é pessoal: eu não consigo entender por que duas pessoas ficam se batendo até quebrar todos os ossos da face, os dentes, terem um derrame ou que tal. Pra mim, a diferença disso e de uma briga de galo, é que o galo não tem escolha.

Mas na categoria de bizarrice olímpico-esportiva eu acho que nada ganha da marcha olímpica. Quem foi que inventou isso, meu deus?! Como eu vi mais de um dizer, parece que o caboclo tá mascando um chiclete com a bunda! Ou com vontade de fazer xixi. Ou com um grilo dentro da tanga. Ou então, minha teoria é que são todos dançarinos de lambada que, com o declínio do estilo, migraram, evoluíram e marcharam! Dá até pra ouvir: “Chorando se foi, quem um dia só me fez chorar…” É piada, só pode ser.

O bem queimado

Apesar da piada ter vindo rápida — eu sei, péssima; não sei o que acontece com os meus neurônios vez em quando —, depois de um fim de semana brilhante, receber a notícia do incêndio que consumiu o Teatro Cultura Artística foi um choque sem precedentes pra mim. Talvez porque eu passe pela sua frente dia sim, dia não, talvez porque uma boa parte dos concertos e recitais memoráveis aos quais eu tive o privilégio de assistir aconteceram no seu grande palco e, com certeza, porque São Paulo perde, pelo menos por enquanto, um de seus oásis.

No entanto, o fato do painel que coroa sua fachada e, com alguma sorte, o acervo fonográfico do teatro terem sido poupados traz alguma misericórdia à tragédia. E digo misericórdia porque me chamou a atenção para a impermanência das coisas, natureza também das artes performáticas. Cada nota ali tocada ou cantada só existiu no momento em que soou. Felizes os que as ouviram. Seu registro, embora muito afortunado, é mero espectro da música que ali teve origem.

Estou fazendo drama, diriam. Eu digo que não. Sem querer desmerecer o silêncio — até porque do silêncio nasce o som, da meditação nasce a idéia, do repouso nasce o movimento —, acredito que cada oportunidade perdida de se expressar é uma possível experiência artística perdida. E pessoalmente, cada afeto contido, cada gesto abortado, cada palavra negada é um pedaço de vida não vivido.

Portanto, o teatro é mais que sua estrutura soçobrada e que, acredito, será reconstruída. O Teatro Cultura Artística é um símbolo e abrigo da excelência artística possível. Seu palco é o conjunto dos pés que ali pisaram; sua platéia, a soma de mil sentidos.

“Yo no buscaba a nadie y te vi…”

— Fica aqui — ele disse.

E por um segundo eu juro que pensei em ficar e ganhar a vida cantando no metrô portenho. Um segundo… Um segundo que pareceu minuto, hora, enquanto eu me perdia naqueles olhos castanhos como os meus, enamorados como os meus. E enquanto os dias passavam, brincávamos de possível no impossível e escondíamos momentos de felicidade nos bolsos das calças para serem encontrados pela manhã.

Tanta doçura, tanta que o vento das madrugadas geladas não era capaz de cortar. O que me cortou foram os fios de lágrimas escorrendo de sua face devota. O que me cortou foram seus olhos me pedindo para ficar, enquanto sua boca pedia, tão gentil e urgentemente, para que eu me fosse antes do fim, antes dos outros:

— Eu não quero ver você entrar naquele táxi e ir embora — ele disse.

Mas ele disse tantas outras coisas, sem ter de usar uma única palavra. Meus dias foram pintados de azul; minhas noites, carmins. Foi na pele que eu aprendi um pouco de espanhol; na dele. Buenos Aires agora carrega uma outra beleza e eu já não sei como não voltar àquele porto. E por mais isolados e irreproduzíveis que por ora sejam, foram dias de doce abandono e intenso resgate. Queria lembrar também daquela outra música, que a despedida e seu universo tão restrito em nós abafou. Mas eu me lembro de você e isso basta — mentira!

As lágrimas que eu beijei foram as mesmas lágrimas que eu trouxe e depositei aqui; foram as tuas que me trouxeram as minhas de onde elas não conseguiam vir. Isso e uma música que fica para sempre, com o teu rosto, gravada, assim como meu perfume me pregou em você.

Mi Buenos Aires querido

A primeira impressão é de um pedacinho da Europa. Mas eu nunca fui à Europa, então essa é definitivamente uma impressão fabricada, apropriada, um saudade do que nunca se viu. A segunda é um pensamento fugaz, perdido em algumas esquinas: “Gente, eu tô em São Paulo!”, que vira fumaça quando o táxi entra na Av. Nove de Julho, quando se anda por San Telmo ou um prédio antigo e bem conservado assoma à vista; é outra arquitetura, outra idade. “Essa sensação acontece em todas as cidades grandes, todas elas são meio iguais no mundo”, ele diz. Mas é quando você começa a reparar nos cortes de cabelo, digamos, pitorescos, que você definitivamente se convence de que está é em Buenos Aires mesmo: será que algum outro lugar do mundo abusa tanto dos repicados? será que os mullets sobreviveram em cativeiro ao fim dos anos 80 tão bem quanto aqui?

Mas Buenos Aires é linda. Linda como uma cidade feita pra mim. Eu tenho esse hábito de me apropriar dos lugares que conheço, sabe? Absorvo como um suspiro e levo embora dentro de mim. Cada cor, cada som e cada cheiro é como um beijo roubado; cada beijo roubado é um retrato cravado no peito; cada peito, mais uma história de amor.

Dias sem você

Como se fosse saudade,
tirei o pó dos dias
e dei brilho no sorriso
para lembrar de você.

Limpei as janelas dos olhos,
troquei os lençóis da memória,
afofei o abraço;
até as plantas dos pés reguei.

Agora só falta te ver.

Este nobre vagabundo

Pra quem faz cara de “mas que moleza!” quando eu digo que acordo tarde no meio da semana. Que tal um ensaio começando às 21h do sábado, acordar às 8h do domingo pra uma missa e só chegar em casa lá pelas 23h, depois de sabe deus quantas horas de gravação?

Vagabundo é a p…!
É, aquela mesma.

+

O mais difícil dessa vida de músico é fazer o tempo render; nos dois sentidos. Você precisa de tempo pra estudar, tempo pra ensaiar, tempo pra dormir — a voz não resiste, não adianta — e tempo pra todas as outras coisinhas que todo mundo porventura tem, ou tem que ter. Mas você não entra às 8h e sai às 17h. Infelizmente, você também não tem carteira assinada e férias todo ano. E você perde tempo a toda hora; é um inferno: passou o dia e você não estudou aquela ária, não leu aquela música, não fez uma porra de um vocalise. A bagunça custa muito caro porque, efetivamente, não tem ninguém estalando a chibata nas tuas costas, te cobrando diretamente.

Aliás, toda a vez que alguém abre o sorrisão e, nas ocasiões mais improváveis, pede uma “palhinha” eu penso cá com as minhas pregas, as vocais: “Ei, me dá teu décimo terceiro?”

É fácil? Não. É possível? Sim. É provável. O que também não quer dizer que eu não pare vez ou outra, questionando minhas escolhas, meus caminhos. Às vezes, eu penso que tenho tantos talentos mais seguros pra me fiar, chãos mais firmes pra pisar… Mas daí eu olho pra trás e as outras escolhas parece que nunca existiram, não eram prováveis de fato, não pareciam… minhas.

Daí você vem e me pergunta: “Mas por que músico? Por que cantar?” E por mais poética, piegas ou absurda que pareça a resposta, ela vem sem pensar, simples e completa, quase óbvia: pra viver; não é?

Travessia

Quando você foi embora, fez-se noite em meu viver
Forte eu sou, mas não tem jeito
Hoje eu tenho que chorar
Minha casa não é minha e nem é meu este lugar
Estou só e não resisto, muito tenho pra falar
Solto a voz nas estradas, já não quero parar
Meu caminho é de pedra, como posso sonhar?
Sonho feito de brisa, vento vem terminar
Vou fechar o meu pranto, vou querer me matar
Vou seguindo pela vida me esquecendo de você
Eu não quero mais a morte, tenho muito que viver
Vou querer amar de novo
E se não der, não vou sofrer
Já não sonho, hoje faço com meu braço o meu viver
Solto a voz nas estradas, já não quero parar
Meu caminho é de pedra, como posso sonhar?
Sonho feito de brisa, vento vem terminar
Vou fechar o meu pranto, vou querer me matar
(Milton Nascimento e Fernando Brant)

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Uma amiga minha diz que o drama é o combustível do universo — e como é que eu poderia discordar? Eu diria que o drama é como a entropia, que consome tudo sob o céu da criação; bem dizer o caos.

Então teríamos, de um lado a entropia, o caos, a paixão e o drama; do outro a entalpia, a ordem, a razão e o amor. Um bagunça, o outro arruma. Um é o que se tem, o outro é o que se perde. Um conserva, o outro transforma. Um é o que enrijece, o outro é o que transcende. E o que às vezes está num time, outras vezes está no outro…

Mas o que eu quero dizer com isso?
Nada. Eu só estou aqui de passagem; entropicando.

Na verdade, eu sei: o drama é um vício. E não é assim que a gente lida com o vício, falando dele, admitindo e tirando ele do caminho toda vez que ele aparece fazendo a gente tropeçar? Então, o que eu tento fazer hoje é respirar fundo e fazer coisas simples e que me dão foco quando eu sinto que o bicho tá pegando. Uma de cada vez. Funciona!

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E já que eu estou filosófico, falemos — sem muito esforço, para evitar a fadiga — do dia dos namorados. Vocês vão dizer que isso foi há quase duas semanas. Eu sei, mas eu começo a escrever as coisas e largo mão. Este post por exemplo, eu esqueci, ficou perdido na gaveta.

Mas voltando. Eu não ligo, sério. É claro que, se estou namorando, é fácil (e gostoso!) entrar nessa onda. Mas não é por causa do dia dos namorados que eu vou me sentir amado — tem datas bem mais importantes, além de bem mais pessoais, como aniversário de namoro, por exemplo, e tem o dia-a-dia. Ou melhor: se eu não estou namorando, como é o caso, não é por isso que eu vou querer cortar meus pulsos nessa data específica. É muito pouco para um drama. Se é para sentir falta de um amor eu não escolho o dia — aliás, quem dera, seria bem mais conveniente! Eu sinto falta de um amor quando eu não me basto. É naqueles momentos feitos para serem compartilhados, quando uma alegria pede abraço, uma tristeza pede colo, um idéia pede ouvidos, um desejo pede boca, um problema pede ombro. (E não são todos os problemas, que alguns são só meus mesmo.) É quando um travesseiro pede o outro e uma xícara pede duas. Quando eu não sei mais muito bem o que vim fazer no mundo, daí então eu sinto falta de alguém para fazer do mundo um lugar menor e eu não me sentir ali tão perdido. Olhando assim, quem não há de convir que o dia dos namorados é um nada?

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Eu não queria falar de choro em dois posts seguidos, mas não vai dar para escapar. É que existem choros e choros. Como eu não assisto novela, alguém mais aqui chorou assistindo House semana passada, quando a namorada do Wilson morre? Aquilo dói na pessoa, sabe? Como é fácil manipular as emoções as pessoas! — eu já deveria saber.

Mas eu achei legal o que ela disse sobre raiva não ser a última coisa que ela queria sentir. Penso que quando chegar a minha hora de subir um andar eu não quero ter nada disso também, especialmente pequenas mágoas. Venho me empenhando nisso e acho até que há algum progresso acontecendo. E antes que alguém pense “ó, que bom coração, como ele é bonzinho”, não é nada disso, até porque, convenhamos, que diferença faz pro mundo eu sentir mágoa de alguém ou não? Eu é que não quero ficar arrastando correntes à toa; isso tem a ver única e exclusivamente comigo, assim, egoísta, bem entendido. Vai que eu morro e fico aqui feito assombração! Deve ser que nem repetir o ano na escola: você já viu tudo aquilo e vai ter que ficar ali de novo. Tô fora! Sempre fui bom aluno. Quando eu me for, quero mesmo é ir embora.

Não, não estou fazendo planos de viagem antecipada…
Apenas aprendendo a levar pouca bagagem.

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Pronto, vocês já têm um bom tanto de filosofia barata. Enjoy!
Deixem uma moedinha no chapéu ali do lado.

Disperso

Fecho os olhos para ver melhor.

São tantos os pensamentos que se vão naquele espaço entre os minutos que penso existir um outro eu, em um outro lugar, feito de pensamentos perdidos. Um outro eu que não existiria neste mundo, é certo, mas que é essencial para a minha sobrevivência. Sou eu.

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Há marés em mim. E dia desses revivi emoções antigas. Difíceis, doídas. Foi como assistir a um filme onde a gente chora. Não chorei, mas foi como se tivesse. Imersão pura. Engraçado isso de se assistir… Engraçado, o caralho! Pode ser necessário, revelador, libertador — e várias outras palavras que também acabam com “dor” —, mas eu podia passar sem essa; não há Cristo que me convença do contrário.

Tá, ok, revi, reli, revirei minhas entranhas. Agora vai mais uma pá de cal por cima, que a vida segue é adiante. E eu quero é mais.

E melhor.

Tem uma música na minha cabeça: “Você não soube me amar! Você não soube me amar! Você não soube me amaaaaaaaaaar!”

Olha só que coisa boa: eu soube amar. Eu sei. Deus, como é bom!

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E por falar em Cristo, eu não devia, mas vou falar, só para deixar bem claro que não me considero um espírito evoluído, mas ainda sou dono do meu nariz.

Você, cristã criatura que veio aqui dizer que falta Jesus no meu coração, vê se larga a mão de ser arrogante e não estraga a minha catarse. Ah, que coisa mais chata! Como você mesmo disse, leu um pedaço da minha história. E este pedaço, criança, é muito pequeno, é muito parcial e, acima de tudo, é muito meu. Sim, há um vazio, mas ele não tem o tamanho de Jesus, não, tem o tamanho da minha vida e de tudo o que eu ainda tenho para viver — duvido que Deus tenha te passado o script. E se Deus te mandou dizer que eu sou “dEle”, desculpa, ou você tá ouvindo coisas, ou Deus decididamente tá te encontrando pouca utilidade. Eu não discordo (nem concordo) que Deus pode me preencher esse vazio (sic), eu só discordo da sua interpretação da vontade divina. Estamos entendidos? Não responda, foi retórico.

Que Deus também te abençoe. Ou Namastê. Ou Saravá. E não, eu não estou sendo irônico, estou sendo inclusivo, e não intolerante.

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Porto Alegre continua tendo o céu de azul mais impressionante que eu já vi. As pessoas me perguntam: “mas o que de tão especial você vê naquela cidade?” Como se, para ser especial ela tivesse que ter praia, ou isso, ou aquilo. Eu vejo de olhos fechados. Porto Alegre tem a cara de um segundo lar para mim, onde eu sou extremamente bem recebido e acolhido; mãos cuidadosas onde eu repouso meu coração. Eu entendo, e me basta.

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Entrei na loja para comprar umas velas e acabei levando uma estrela. E as velas. E saí correndo antes que fosse tarde demais. Mas lá está ela, brilhante sobre o livreiro, iluminando o meu céu particular. Não é linda, linda, linda?

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Me alimento de sorrisos. Dos meus sobrinhos — as coisinhas mais ricas e doces. Dos meus amigos. De quem estou conhecendo. De quem revejo — e de quem não vejo guardo um sorriso no bolso. E de mim, quando miro o rosto no espelho antes de sair para a rua e cuidar da vida. Tenho esse cuidado: sorrio, para não me esquecer de ser feliz.

É verdade que eu choro. Mas quem não come torresmo, mesmo sabendo que lhe entope as artérias?

Janelas

Ser poeta é ser mais alto, é ser maior
Do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Aquém e de Além Dor

É ter de mil desejos o esplendor
E não saber sequer que se deseja!
É ter cá dentro um astro que flameja,
É ter garras e asas de condor!

É ter fome, é ter sede de Infinito!
Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim…
É condensar o mundo num só grito!

E é amar-te, assim perdidamente…
É seres alma, e sangue, e vida em mim
E dizê-lo cantando a toda a gente!
(Ser poeta, Florbela Espanca)

Amo-te muito e sem descanso e sempre
E mais que a tudo e que à realidade
E como um louco e com serenidade
Amo-te com a dor de um amor ausente

Amo-te agora e pela eternidade
Como um bom deus sempre presente
Amo-te aflito e amo-te contente
E sem passado e nome e sem idade

Amo-te como uma criança, puro e casto
E com desejo e um amor devasso
E com saudade e mais do que podia

Amo-te enfim como um castigo
Sem fim, errante e sem amigo
Te esperando pra me raiar o dia
(Soneto de amar, Gabriel Dinnebier)

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E é assim que, subindo no ônibus no meio da tarde ensolarada, na cidade que é sua sem dela ter nascido, você se vê refletido em você mesmo, duas vezes.

Sem coração

Se tem uma coisa que eu aprendi sobre amar nestes meus poucos anos de estrada é que não se pode medir o que a gente sente pelo eco que isso causa nos outros. Amar não tem nada a ver com ser amado e existem tantas formas de se amar, expressar ou exercitar esse amor que qualquer tentativa de comparar gesto e resposta é um absoluto tiro no escuro.

No entanto, é isso o que a gente quer e espera: resposta. E quando não há resposta, há mágoa — pequena, disfarçada, mas vai dizer que ela não existe? Na verdade, nos magoamos com nossas expectativas e jogamos no outro a responsabilidade pelos nossos anseios, os dejetos desse… amor?

O amor assim é uma criança mimada que precisa crescer e aprender a encarar a vida. Precisa aprender que nem tudo o que quer é dela e que o importante é fazer a sua parte. Se não é o que o outro espera, não adianta fazer bico, manha ou pior: fazer ofensa, grosseria. Amor assim, como uma criança igual, incomoda. Tampouco é o outro menos capaz de amar ou receber amor. Se não é o seu amor que ele quer, então não é. Ponto. Fim de história. Inútil enumerar ou discorrer sobre um sem-número de fatores. Estúpido deixar-se machucar em vão. É ridículo, é sofrido, é infantil. E tal qual crianças que se dão ou não, sem porquê, assim é o amor-criança. Ou a paixão.

Amor maduro é amor construído, que sabe o seu valor sem precisar que o outro o reconheça ou o receba. Ama sem medo, dá sem rancor. Quando sentires se alinham e pensamentos se completam, o amor caminha junto e cresce para se tornar o que tem de ser; ambos se beneficiam porque é gostoso, é positivo, é natural. Quando não, ele parte, porque se ama, antes de mais nada; sabe que na dor também há renovação. Não se cega com a decepção. Assim se aprende.

Amar assim enobrece. Aquele outro, emburrece.

What a wonderful day!

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I see trees of green, red roses too
I see them bloom for me and you
And I think to myself what a wonderful world.

I see skies of blue and clouds of white
The bright blessed day, the dark sacred night
And I think to myself what a wonderful world.

The colors of the rainbow so pretty in the sky
Are also on the faces of people going by
I see friends shaking hands saying how do you do
They’re really saying I love you.

I hear babies cry, I watch them grow
They’ll learn much more than I’ll never know
And I think to myself what a wonderful world
Yes, I think to myself what a wonderful world.

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Com um céu desses pela manhã, quem precisa de parabéns? ;)

Viajante

Se vai viajar
leva então na bagagem
um sorriso.

Se vai viajar me leva
um punhado de sol,
um bocado de brisa.

Guarda a memória
do retorno
no fundo dos olhos.

Back 2 Basics

Para todos aqueles que me perguntaram por que eu parei de escrever, a resposta: porque sim.

E eis que é hora de voltar. Ou melhor, seguir. Por mais que eu tente esgarçar o tecido da memória, já tenho idade suficiente para saber que ele não rasga, não em mim. Mas na verdade, tanta demora foi, em parte, por preguiça. E eu aproveitava essa pausa para ruminar mais um pouco.

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Disse adeus ao MT — essa é a parte da preguiça. A vontade de escrever andava pouca, daí que um upgrade para uma super-mega versão nova resolveu foder com os meus templates e tudo de repente ficou muito robusto, muito cheio de coisas e tags e variáveis e possiblidades e códigos… Ai, preguiça!

Como disse a loira com nome de rainha: “chega uma hora que tudo o que você quer é facilidade, né?” Como o WordPress importou tudo bonitinho — coisa que o MT não fez, parou no meio, pediu arrego —, eu me rendi. E por aí vamos, devagar e (quase) sempre. Uma odisséia. Não venham com muita sede ao pote.

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Quando partires em viagem para Ítaca,
faz votos para que seja longo o caminho,
pleno de aventuras, pleno de conhecimentos.
Os Lestrigões e os Ciclopes,
o feroz Poseidon, não so temas,
tais seres em teu caminho jamais encontrarás,
se teu pensamento é elevado, se rara
emoção afora teu espírito e teu corpo.
Os Lestrigões e os Ciclopes,
oirascível Poseidon, não os encontrarás,
se não os levas em tua alma,
se tua alma não os ergue diante de ti.

Faz votos de que seja longo o caminho.
Que numerosas sejam as manhãs estivais,
nas quais, com que prazer, com que alegria,
entrarás em portos vistos pela primeira vez;
pára em mercados fenícios,
e adquire as belas mercadorias,
nácaras e corais, âmbares e ébanos,
e pergumes voluptuosos,
e a maior quantidade possível de perfumes;
vai a numerosas cidades egípcias,
aprende, aprende sem cessar…

Guarda sempre Ítaca em teu pensamento.
É teu destino aí chegar.
Mas não apresse absolutamente tua viagem.
É melhor que dure muitos anos…
e que, já velho, ancores na ilha,
rico com tudo que ganhaste no caminho,
sem esperar que Ítaca te dê riqueza.

Ítaca te deu a bela viagem.
Sem ela não te porias a caminho.
Mas já nada tem a dar-te.

Embora a encontres pobre, Ítaca não te enganou.
Sábio assim como te tornaste, com tanta experiência,
já deves ter compreendido o que significam as “Ítacas”.
(Konstantinos Kaváfis, 1911)

Happy whatever

Sete anos de blog. Hoje. Às traças. Mas se eu disser que estou sentindo aquela falta é mentira. Parece que as vozes na minha cabeça se calaram — e não foi tarja preta. Quer dizer, elas estão longe de estarem caladas, mas estão mais interessadas em falar entre si, ou fora daqui, ou não, ou sim, não sei. Quem sabe se com as páginas arrumadas o fluxo volta? Mas agora não. Depois, depois, que eu tenho uma pia cheia de louça suja pra lavar.

Ah, sim. Feliz aniversário, Clarice. O que você fazia quando não escrevia?

Gato e rato

É impressionante — e quase revoltante — a capacidade das pessoas de procurarem e buscarem quem não às procura. Pior que isso, só eu.

É claro que eu (me) identifico, claro que eu (me) diagnostico. Mas o que eu posso fazer além de rir — chorar não dá, já sofri com isso, agora chega —, apreciar a cena, até dar um ou dois palpites, mas girar com força nos calcanhares e seguir por outro caminho? É como se na ponta do meu olhar já tivesse uma encrenca. Se isso fosse causa e não conseqüência, diria até que gosto. Eu nem procuro, eu tropeço.

Pois se tiver que levar uma vida inteira pra mudar esse padrão, então que seja. Eu mudo, nem que seja por pura teimosia. Venham, encrencas; façam fila! Meu olho tá treinado e a caneta vermelha também.

Expresso 161

Sabe lá quem começou. Eu aderi.

1- procurar um livro próximo (o primeiro que aparecer, não vale procurar um livro);
2- abri-lo na página 161;
3- procurar a quinta frase completa;
4- postá-la no seu blog;
5- não escolher a melhor frase nem o melhor livro;
6- repassar a outros cinco blogs.

E eis que surge:

Depois dos dias todos de chuva, de novo o céu traz o azul, que escondera, aos grandes espaços do alto. (Livro do Desassossego, Fernando Pessoa)

Jurado pra morrer de amor

O telefone toca no fim do ensaio e eu choro. É minha mãe avisando que Caiçara, a gata, a minha gata, não está bem, que se eu puder, não demore a aparecer. Conheço minha mãe, a mensagem é clara e urgente. Desvio rotas, horários. Desvio-me de um futuro para que ele não se apresse em chegar e me adianto, tento passar à sua frente.

Ela está tão magra, tão magra, meu deus! Magrela e triste, acocorada como ficam os gatos doentes numa tristeza ausente. Eu me rasgo. Pela primeira vez em mais de doze anos ela não quer colo. Não faz festa, não dispara a correr pela casa porque viu o que só os gatos vêem. Seu miado é sofrido, pungente.

A mensagem, a cena, tudo isso rompe a frágil estrutura temporal que me sustenta e atiça uma dor que ronda. Tudo morre. Uma tia que morreu de câncer. A irmã de um amor também. Morre também o amor, assim como uma amizade antiga. Por uns segundos eu olho ao meu redor e tudo está morrendo, o tempo de tudo parecendo tão curto e a vida que resta parecendo tão longa ao mesmo tempo.

Como tudo o que é óbvio, o desespero torna sem sentido. As horas, ouço as horas de um minuto. A lágrima é quente, mas deixa um fio gelado, um traço de noite trazendo o silêncio que cala o grito, que esvazia o peito, que cessa o rito.

Finda o turbilhão e uma certa ordem natural dentro de mim se restabelece. Eu também morro lentamente e isso, por incrível até que me pareça, traz certa tranquilidade. Morro para os que vêm depois de mim, morro no coração dos outros. Eu também deixo um rastro. Eu também os abandono à sua própria sorte.

Morrer se torna então um privilégio, eco e continuação de uma existência. Pois não há como morrer senão nascendo e nascer não traz em nada o que vivi, enquanto morrer carrega em si uma vida inteira. E se hoje morro e choro a morte de uma vida, de um amor, de uma amizade, é porque amei. E se amei, nasci.

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Caiçara, do alto de seus longos e peludos 12 anos se recupera lentamente de uma insuficiência renal crônica. Após uma semana de aplicações de soro endovenoso e mais sei lá quantos complementos e medicamentos, ela começa a recuperar a personalidade e o charme espalhafatoso que fazem dela Caiçara. Desce a escada correndo e enche de pêlos os colos das visitas. Não deve mais comer carne vermelha e sua ração agora é especial para doentes renais.

Caiçara está aposentada, afinal de contas já é uma alegre senhora e enquanto se mantiver alegre, cuidaremos dela. Eu conversei com ela. Disse que qualquer que fosse sua missão ela já estava mais do que cumprida e que ela estava livre para partir ou ficar, se nossa companhia a fizesse feliz.

Caiçara é uma gata, que fique bem entendido, mas é também uma das minhas melhores amigas. Não sei quantas pessoas entenderiam isso e também não me importo. O que me importa é que várias vezes, quando eu precisei — e disso eu tenho certeza —, ela estava lá, sem que eu procurasse ou pedisse, simplesmente porque, de felina maneira, provavelmente, ela sabia.

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Poderia ser a madrugada de 10 de outubro de 2006, quando minha irmã entrou no meu quarto e eu acordei, sem que uma palavra fosse dita. Guardo ainda a temperatura do seu rosto, o brilho das suas lágrimas, o tamanho da nossa dor, feito um retrato ou um filme. Faz um ano hoje que saudade e alívio se misturam sem se anular, feito correntes de água quente e fria, feito um rio que encontra o mar. Faz um ano hoje que minha tia se foi. E ontem, sem lembrar de imediato, almocei com minha prima, cozinhamos juntos, comemos pão, compramos coisinhas e nos cuidamos.

( * )

E por falar em cu, este template tá todo cagado.
Mas eu tô com preguiça de html. Ou melhor, <preguiça>.

Mãe d’Água

o sobrado de mamãe é debaixo d’água
o sobrado de mamãe é debaixo d’água
debaixo d’água por cima da areia
tem ouro, tem prata
tem diamante que nos alumeia

Sob o céu

Guardar uma coisa não é escondê-la ou trancá-la.
Em um cofre não se guarda coisa alguma.
Em cofre perde-se a coisa à vista.

Guardar uma coisa é olhá-la, fitá-la, mirá-la por
admirá-la, isto é, iluminá-la ou ser por ela iluminado.

Guardar uma coisa é vigiá-la, isto é, fazer vigília por
ela, isto é, velar por ela, isto é, estar acordado por ela,
isto é, estar por ela ou ser por ela.

Por isso melhor se guarda o vôo de um pássaro
Do que um pássaro sem vôos.

Por isso se escreve, por isso se diz, por isso se publica,
por isso se declara e declama um poema:
Para guardá-lo:
Para que ele, por sua vez, guarde o que guarda:
Guarde o que quer que guarda um poema:
Por isso o lance do poema:
Por guardar-se o que se quer guardar.
(Guardar, Antonio Cicero)

Epifânio

Me deu vontade de falar de alegrias.

Porque às vezes parece que eu só falo de coisas tristes e de dramas. É que eu falo do que eu sinto. Muitas vezes é mais importante o que você sente do que os fatos em si. Acontece que o mundo é feito de fatos, ou melhor, a “realidade” — o que é realidade, afinal? o que eu sinto não é real? não transforma o tempo e o espaço ao meu redor? —, o dia-a-dia, são regidos por fatos. Então, eu reservo um grande espaço aqui para o que eu sinto. E mesmo assim nem tanto, porque o que eu sinto é muito. Às vezes fere o que os outros sentem. Pessoas queridas, amadas demais. E eu não quero, ser mal interpretado aqui é muito, muito fácil, não quero ferir a quem eu amo dizendo o que sinto sem pensar. Então, muito do que eu digo, é destilado, filtrado até sobrar o máximo de mim e o mínimo dos outros. Esta é a minha opção, foi assim que eu escolhi. Porque sentimento é que nem sangue.

Mas eu estava dizendo que me deu vontade de falar de alegrias e escrevendo assim, sem freio, fugi do assunto. Eu falo de alegrias e de epifanias. A epifania de amar e a alegria de se desarmar diante da expressão do amor, que você dá ou recebe. Agora há pouco estava ao telefone contando uma boa notícia ao marido de uma amiga (ela dormia) e recebi uma resposta tão feliz, tão sincera e gratuita, de alguém que nem me parecia tão próximo, mas demonstrou uma alegria tão expontânea pela minha felicidade que eu me senti abençoado. Bobagem? Eu sou fruto do que eu sinto e eu me senti abençoado. A mim basta. Amigos que conhecem minhas dores e sabem que são minhas, assim como é minha a responsabilidade de superá-las, mas que não se desviam delas. Amigos que se alegram com as minhas alegrias e me fazem mais feliz com as deles. São esses os amigos que eu quero cultivar e para esses amigos eu dou meu ombro, minha força, meu amor.

Eu acho que quanto mais a gente aprende a ser sozinho, mais entende o valor dos sentimentos compartilhados. E é muito bom saber que a minha alegria vence distâncias (do mundo ou da alma) e ilumina também aqueles de quem eu gosto. E vice-versa. Isso é uma alegria além da alegria, uma alegria-amor. E gosto não só porque gostam de mim, mas também porque respeitam o que eu sinto e sabem o quanto isso é importante pra mim. Além disso, gosto porque gosto, porque são pessoas de quem vale a pena gostar e têm o seu quê de iluminação.

Viver é mais do que alegrias e tristezas.
Viver é o que em nós floresce depois de alegrias e tristezas.

Causa mortis

Não bastasse o retorno ao bairro ter se tornado uma aventura — uma aventura lenta, uma aventura bem lenta — com a Av. Washington Luiz, a principal via de acesso, completamente bloqueada no sentido bairro, ir “para a cidade”, como alguns dizem, tá que tá dando ódio! Por que, ó senhor, por que todo mundo não pode passar só com uma espiadela? Por que todo mundo tem que pisar no freio até praticamente parar em plena avenida pra ver um prédio queimado e preto?

Pesar? Não me faça rir…

Essa mania que paulistano tem de admirar tragédia alheia me envergonha. Porque fazer algo, mesmo, só uns poucos fazem, e nem é o caso ali, onde não se tem nada pra um civil fazer. Vergonha alheia forte!

Milênios, milênios

Engraçado como meu sentimento por você confunde o tempo e o espaço. Uma mistura do que não é mais com o que não foi. O futuro de um pretérito. Nesse encontro de parelelos você existe — você se deixa existir? eu te crio? —, uma incógnita carinhosa numa equação de coordenadas que eu não compreendo muito bem. Um amor… é, um amor. Ponto. Qualquer outro detalhamento parece diminuí-lo e ferir leis universais. Um amor que existe e não sei de onde, mesmo que a gente não se ame. Amores serão sempre amáveis.

Sopro

Ventos de mudança. Eu posso sentir o cheiro de seus dedos roçando o mato e levantando de leve a poeira que a chuva assenta. Penteando a copa das árvores. Levando o inverno embora. Nuvens assomando brancas aos telhados. Eu posso ver o futuro dobrando a esquina e ouvir o dia sorrindo.

“Vim só dar despedida…”

Nas palavras do compositor: “eu não sou daqui também, marinheiro / mas eu venho de longe e ainda / do lado de trás da serra / além da missão cumprida”. Mas não fico doente, apenas saudoso. Visito os cantos que se assemelham ao canto da memória, ao tom dos sentidos, e as quinas que puxam fiapos de lembranças como fios de roupas que não vestimos mais. Eu, como filho de sol poente, é impossível não me identificar, então deixo a música e a homenagem. E uma não-despedida.

Tão adeus quanto retorno, é reconfortante ver que afinal eu estava certo comigo, que eu não preciso transformar paraísos em infernos, que o tempo cuida de purgar e dar alento e ajuda a separar o que é precioso — porque o amor é sempre precioso — do que é irrelevante. E se o paraíso tem o seu quando, eu sou um produto da minha memória, racional e afetiva, e carrego o paraíso comigo.

Então eu brindo. Brindo ao que fui e ao que senti e ao reflexo do reflexo do reflexo. Brindo às tantas paredes que construímos pela vida e que nos sustentam à despeito do mundo. Elas ficam, mas levamos conosco os quadros de nossos dias.

Tanabata Matsuri

Estrela, estrela
Como ser assim
Tão só, tão só
E nunca sofrer
Brilhar, brilhar
Quase sem querer
Deixar, deixar
Ser o que se é

No corpo nu
Da constelação
Estás, estás
Sobre uma das mãos
E vais e vens
Como um lampião
Ao vento frio
De um lugar qualquer

É bom saber
Que és parte de mim
Assim como és
Parte das manhãs

Melhor, melhor
É poder gozar
Da paz, da paz
Que trazes aqui

Eu canto, eu canto
Por poder te ver
No céu, no céu
Como um balão

Eu canto e sei
Que também me vês
Aqui, aqui
Com essa canção
(Vitor Ramil)

La solitudine

Alguns pecados parecem ser mortais, por mais alheio que seja o pecador.
Mas eu não consigo pensar em penitência mais cruel que a saudade.

Ainda assim, não se culpa pelo que não se sabe, então saudade é só saudade.

Saudade é só.

Fórceps

Partir. Partir-se.
Parto-me como que para partir de mim.

+

No começo era aquela coisa, uma necessidade de pertencer que me agoniava — para não falar das escolhas conseqüentes. Hoje é essa sensação de não pertencer a ninguém, a lugar nenhum ou coisa alguma, e eu me pego pensando seriamente se pertenço a este planeta. Não me adequo, não me encaixo, não me encontro e parto. Sou um ser social dessocializado, numa recaída. Eu não me reconheço.

Um desejo, uma oração

Eu já sei o que eu quero:
uma janela para o céu.
Sempre aberta.
De onde eu possa olhar as estrelas
e correr ligeiro atrás delas.