Quando você foi embora, fez-se noite em meu viver
Forte eu sou, mas não tem jeito
Hoje eu tenho que chorar
Minha casa não é minha e nem é meu este lugar
Estou só e não resisto, muito tenho pra falar
Solto a voz nas estradas, já não quero parar
Meu caminho é de pedra, como posso sonhar?
Sonho feito de brisa, vento vem terminar
Vou fechar o meu pranto, vou querer me matar
Vou seguindo pela vida me esquecendo de você
Eu não quero mais a morte, tenho muito que viver
Vou querer amar de novo
E se não der, não vou sofrer
Já não sonho, hoje faço com meu braço o meu viver
Solto a voz nas estradas, já não quero parar
Meu caminho é de pedra, como posso sonhar?
Sonho feito de brisa, vento vem terminar
Vou fechar o meu pranto, vou querer me matar
(Milton Nascimento e Fernando Brant)
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Uma amiga minha diz que o drama é o combustível do universo — e como é que eu poderia discordar? Eu diria que o drama é como a entropia, que consome tudo sob o céu da criação; bem dizer o caos.
Então teríamos, de um lado a entropia, o caos, a paixão e o drama; do outro a entalpia, a ordem, a razão e o amor. Um bagunça, o outro arruma. Um é o que se tem, o outro é o que se perde. Um conserva, o outro transforma. Um é o que enrijece, o outro é o que transcende. E o que às vezes está num time, outras vezes está no outro…
Mas o que eu quero dizer com isso?
Nada. Eu só estou aqui de passagem; entropicando.
Na verdade, eu sei: o drama é um vício. E não é assim que a gente lida com o vício, falando dele, admitindo e tirando ele do caminho toda vez que ele aparece fazendo a gente tropeçar? Então, o que eu tento fazer hoje é respirar fundo e fazer coisas simples e que me dão foco quando eu sinto que o bicho tá pegando. Uma de cada vez. Funciona!
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E já que eu estou filosófico, falemos — sem muito esforço, para evitar a fadiga — do dia dos namorados. Vocês vão dizer que isso foi há quase duas semanas. Eu sei, mas eu começo a escrever as coisas e largo mão. Este post por exemplo, eu esqueci, ficou perdido na gaveta.
Mas voltando. Eu não ligo, sério. É claro que, se estou namorando, é fácil (e gostoso!) entrar nessa onda. Mas não é por causa do dia dos namorados que eu vou me sentir amado — tem datas bem mais importantes, além de bem mais pessoais, como aniversário de namoro, por exemplo, e tem o dia-a-dia. Ou melhor: se eu não estou namorando, como é o caso, não é por isso que eu vou querer cortar meus pulsos nessa data específica. É muito pouco para um drama. Se é para sentir falta de um amor eu não escolho o dia — aliás, quem dera, seria bem mais conveniente! Eu sinto falta de um amor quando eu não me basto. É naqueles momentos feitos para serem compartilhados, quando uma alegria pede abraço, uma tristeza pede colo, um idéia pede ouvidos, um desejo pede boca, um problema pede ombro. (E não são todos os problemas, que alguns são só meus mesmo.) É quando um travesseiro pede o outro e uma xícara pede duas. Quando eu não sei mais muito bem o que vim fazer no mundo, daí então eu sinto falta de alguém para fazer do mundo um lugar menor e eu não me sentir ali tão perdido. Olhando assim, quem não há de convir que o dia dos namorados é um nada?
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Eu não queria falar de choro em dois posts seguidos, mas não vai dar para escapar. É que existem choros e choros. Como eu não assisto novela, alguém mais aqui chorou assistindo House semana passada, quando a namorada do Wilson morre? Aquilo dói na pessoa, sabe? Como é fácil manipular as emoções as pessoas! — eu já deveria saber.
Mas eu achei legal o que ela disse sobre raiva não ser a última coisa que ela queria sentir. Penso que quando chegar a minha hora de subir um andar eu não quero ter nada disso também, especialmente pequenas mágoas. Venho me empenhando nisso e acho até que há algum progresso acontecendo. E antes que alguém pense “ó, que bom coração, como ele é bonzinho”, não é nada disso, até porque, convenhamos, que diferença faz pro mundo eu sentir mágoa de alguém ou não? Eu é que não quero ficar arrastando correntes à toa; isso tem a ver única e exclusivamente comigo, assim, egoísta, bem entendido. Vai que eu morro e fico aqui feito assombração! Deve ser que nem repetir o ano na escola: você já viu tudo aquilo e vai ter que ficar ali de novo. Tô fora! Sempre fui bom aluno. Quando eu me for, quero mesmo é ir embora.
Não, não estou fazendo planos de viagem antecipada…
Apenas aprendendo a levar pouca bagagem.
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Pronto, vocês já têm um bom tanto de filosofia barata. Enjoy!
Deixem uma moedinha no chapéu ali do lado.