O que mais impressiona em Porto Alegre, sem sombra de dúvida, é o céu. O céu aqui é de um azul tão… improvável, de uma profundidade que não parece possível. E dizem que fora do verão a luz é ainda mais incrível, com seus tons pastéis de outono, suas sombras longas de inverno, como diria Caio Fernando Abreu, e seu brilho cintilante de primavera. Um azul que me observa a cada esquina do caminho.
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Bom, a segunda coisa que mais impressiona em Porto Alegre é que até os motoboys esperam o pedestre terminar de atravessar a rua se o farol abre. Eu não consigo imaginar isso em São Paulo.
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A cidade está vazia, dizem, mas eu não me importo. É bom não dividir de vez em quando, nem que sejam as pedras da calçada.
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Observo o misto de ansiedade e alegria que ele carrega enquanto pega as chaves do apartamento novo, corre pra lá e pra cá na tentativa de comprar cozinha, geladeira, ter tudo pronto pro amor que vem. Ele não sabe que no afã de começar tudo com o pé direito, o esquerdo também acompanha a caminhada e é assim que ele não cai. Observo e não posso deixar de notar intimamente que quero isso pra mim também, embora não saiba muito bem como, quando ou onde.
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O tempo tem sido camarada, limpo e azul, suportavelmente quente e com direito a brisa quando a tarde cai. Parece ter ser animado e esquentado um pouco pro fim de semana. Ainda quero ver o pôr-do-sol no rio Guaíba.
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Eu nunca mais vou querer saber de chantilly na minha vida depois de ter provado da bomba royal — a saber, salada de fruta coberta em quatro camadas, de creme de nata e sorvete napolitano, o sorvete mais gelado da paróquia — da Banca 40 do Mercado Municipal. Aquilo, sim, é que é creme de nata, o resto é gordura hidrogenada!
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Metade do que vim fazer aqui ainda não sei muito bem. Vim visitar um amigo. Vim conhecer alguém que me conhece e me acompanha há muito tempo. Vim agradecer. Vim pedir auxílio. Vim olhar o caminho. Vim lamber velhas feridas que eu insisto em manter abertas ou simplesmente não sei como fechá-las. Acho, e apenas acho, que vim olhar pra mim com um pouco mais de distância.
Trago amor, levo amor aqui comigo, meu amor.
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Mas eu queria você aqui. Sinto a tua falta, sinto falta do teu abraço e do teu beijo. Pra você ver como são as coisas, eu até sinto falta do teu silêncio — saudade do canto do teu olho, de admirar o teu belo perfil calado.