Morfina

Pequenas doses de amor para dores diárias:

Jantar com os amigos.
Estudar muito, mas nem tanto.
Ver a chuva na janela aberta — essencial que esteja aberta, também os armários.
Sentir o sol.
Olhar a lua.
Ir ao cinema. Chorar.
Ir ao cinema. Não chorar.
Receber a notícia maravilhosa de vida nova chegando!
Comprar CDs. (Socorro!)
Um corte de cabelo.
Uma tarde no Playcenter com a linda-irmã.
Ler com avidez.
Ler com preguiça.
Reler tudo porque não prestou atenção em nada — ô, cabeça!
Um conto de amor disciplinado de Lygia Fagundes Telles.
O teu olhar de esguelha. O teu perfil. Tuas mãos alongadas.
E uma dose sempre salutar — não importa o que digam os médicos — de chocolate.

Pensamentos próprios de versos emprestados

A formosura do teu rosto obriga-me
e não ouso em tua presença
ou à tua simples lembrança
recusar-me ao esmero de permanecer contemplável.
Quisera olhar fixamente a tua cara,
como fazem comigo soldados e choferes de ônibus.
Mas não tenho coragem,
olho só tua mão,
a unha polida olho, olho, olho e é quanto basta
pra alimentar fogo, mel e veneno deste amor incansável
que tudo rói e banha e torna apetecível:
caieiras, desembocaduras de desgostos,
idéia de morte, gripe, vestido, sapatos,
aquela tarde de sábado,
esta que morre agora antes da mesa pacífica:
ovos cozidos, tomates,
fome dos ângulos duros de tua cara de estátua.
Recolho tamancos, flauta, molho de flores, resinas, rispidez de teu lábio que
suporto com dor
e mais retábulos, faca, tudo serve e é estilete,
lâmina encostada em teu peito. Fala.
Fala sem orgulho ou medo
que à força de pensar em mim sonhou comigo
e passou um dia esquisito,
o coração em sobressaltos à campainha da porta,
disposto à benignidade, ao ridículo, à doçura. Fala.
Nem é preciso que o amor seja a palavra.
“Penso em você” – me diz e estancarei os féretros,
tão grande é minha paixão.
(Amor, Adélia Prado)

Sim, eu penso. Constantemente.
Mas muito mais do que isso, eu sinto.
E de sentir, o pensamento me escapa.

Horóscopo (de ontem)

Tensão entre Sol e Marte, este em seu signo, aumenta! Considerando também o bloqueio da Lua e de Plutão, melhor é pegar leve nas relações, não gastar dinheiro e evitar agir na base da pressão. Você reserva suas energias para momentos de maior chance de vitória. No amor, nada de ciúmes! (Folha)

Sei… Agora? AGORA? Além de atrasado, eu gostaria de saber o que isso tem a ver com o caminhão sem freio que quase passou por cima de mim ontem de tarde. Ah, quando eu digo caminhão sem freio, eu quero dizer caminhão sem freio. É, azul. Entre a pista da direita (a minha) e a calçada — preciso explicar que não há espaço para um caminhão ali? —, quase arrancando o meu restrovisor e beijando o poste. Sabe, não fosse a possibilidade de ter virado patê, acho que eu teria achado bonita a chuva de faíscas da fiação elétrica em cima da minha cabeça. Cinematográfica.

Barbudo, eu tô tomando nota, viu? De tudo! Eu não sei se as tuas linhas tão certas, mas tô pra ver caligrafia mais torta! Tá fácil, não! Pega leve, caralho!

Bode

Como diria uma boa e velha amiga: tem dia que a noite é escura.

Diário Oficial

Agora, pra dar pitaco aqui, tem que digitar o codigozinho da imagenzinha bonitinha. Peguem seus óculos. Cansei de ficar catando feijão no meio dos spams malditos.

Oração ao Tempo

És um senhor tão bonito
Quanto a cara do meu filho
Tempo Tempo Tempo Tempo
Vou te fazer um pedido
Tempo Tempo Tempo Tempo

Compositor de destinos
Tambor de todos os ritmos
Tempo Tempo Tempo Tempo
Entro num acordo contigo
Tempo Tempo Tempo Tempo

Por seres tão inventivo
E pareceres contínuo
Tempo Tempo Tempo Tempo
És um dos deuses mais lindos
Tempo Tempo Tempo Tempo

Que sejas ainda mais vivo
No som do meu estribilho
Tempo Tempo Tempo Tempo
Ouve bem o que te digo
Tempo Tempo Tempo Tempo

Peço-te o prazer legítimo
E o movimento preciso
Tempo Tempo Tempo Tempo
Quando o tempo for propício
Tempo Tempo Tempo Tempo

De modo que o meu espírito
Ganhe um brilho definido
Tempo Tempo Tempo Tempo
E eu espalhe benefícios
Tempo Tempo Tempo Tempo

O que usaremos pra isso
Fica guardado em sigilo
Tempo Tempo Tempo Tempo
Apenas contigo e migo
Tempo Tempo Tempo Tempo

E quando eu tiver saído
Para fora do teu círculo
Tempo Tempo Tempo Tempo
Não serei nem terás sido
Tempo, Tempo, Tempo, Tempo

Ainda assim acredito
Ser possível reunirmo-nos
Tempo, Tempo, Tempo, Tempo
Num outro nível de vínculo
Tempo, Tempo, Tempo, Tempo

Portanto peço-te aquilo
E te ofereço elogios
Tempo Tempo Tempo Tempo
Nas rimas do meu estilo
Tempo Tempo Tempo Tempo
(Caetano Veloso)

Oscar

Na categoria “o pior dia da minha vida”. Um forte candidato, pelo conjunto da obra.

Tristeza. Aguda. Profunda. Mortal. Sem sentido. Sem gesto. Sem verbo. Sem eco. Sem par. Sem trilha. Sem trilhos. Sem nada. Um tiro no peito. Um grito no vácuo. Uma fotografia sem cor. A expressão cinematográfica e pessoal de uma dor.

Encontro marcado

Eu peço um tempo. Então, crianças, sejam bem boazinhas e não ateiem fogo à casa. Eu volto — e isto eu te prometo com o meu coração apertado, com tudo o que eu já disse e mantenho, eu prometo que eu prometo que eu prometo que a gente tem um encontro marcado, tá me ouvindo? É só o tempo de eu ir ali e matar o meu dragão. É que eu tenho esta lança na mão e agora não posso largá-la.

Tia Lygia cuida de vocês. Obedeçam à Tia Lygia — exceto no chorar, chorar pode:

Da vocação

Na vocação para a vida está incluido o amor, inútil disfarçar, amamos a vida. E lutamos por ela dentro e fora de nós mesmos. Principalmente fora, que é preciso um peito de ferro para enfrentar essa luta na qual entra não só o fervor mas uma certa dose de cólera, fervor e cólera. Não cortaremos os pulsos, ao contrário, consturaremos com linha dupla todas as feridas abertas. E tem muita ferida porque as pessoas estão bravas demais, até as mulheres, umas santas, lembra?

Costurar as feridas e amar os inimigos que odiar faz mal ao fígado, isso sem falar no perigo da úlcera, lumbago, pé frio. Amar no geral e no particular e quem sabe nos lances desse xadrez-chinês imprevisível. Ousar o risco. Sem chorar, aprendi bem cedo os versos exemplares, não chores que a vida / é luta renhida. Lutar com aquela expressão de criança que vai caçar borboleta, ah, como brilham os olhos de curiosidade. Sei que as borboletas andam raras mas se sairmos de casa certos de que vamos encontrar alguma… O importante é a intensidade do empenho nessa busca e em outras. Falhando, nao culpar Deus, oh! por que Ele me abandonou? Nós é que O abandonamos quando ficamos mornos. Quando a vocação para a vida começa a empalidecer e também nós, os delicados, os esvaídos. Aceitar o desafio da arte. Da loucura. Romper com a falsa harmonia, com o falso equilíbrio e assim, depois da morte — ainda intensos — seremos um fantasminha claro de amor. (A Disciplina do Amor, Lygia Fagundes Telles)

Velha bossa

Vou te contar
Os olhos já não podem ver
Coisas que só o coração pode entender
Fundamental é mesmo o amor
É impossivel ser feliz sozinho…

— É? — pergunto eu.

250 anos

Aniversário de Mozart hoje, sabiam?
E eu nem cantei nada dele hoje… Herege!

Xarope

Receita para desanuviar:

– Arranje aquela amiga (ou amigo), disposta, que te entenda, mas não te abane.
(Tem que ser disposta, e não da boca pra fora, porque você tá precisando, porra!)
– Pegue um dia de chuva depois de uma semana quente que nem o inferno.
– Vá ao Stuppendo, sem carro, e tome uma chuva de molhar a cueca.
– Passe 2h conversando sobre tudo, sobre todos e sobre tudo sobre você.
– Tome duas taças de sorvete simplesmente divino e terrivelmente gelado.
– Volte pra casa quando começar a cheirar feito cachorro molhado.

Agora, se você é do tipo que fica doente, gripa fácil — eu adoeço por dentro e o que me entope o peito não é catarro, chuva nunca foi o que me mata, amor —, sei lá, leva uma aspirina. Ou guarda-chuva. Melhor, não saia de casa. É perigoso lá fora.

Mc Censura

Que história é essa de “#####”?! Não acredito que os McMicros filtram palavrão. Ah, vá! O troço nem navega direito e ainda fica regulando a p… dos outros?

e-Murphy

Diretamente do McDonald´s, entre um pouco de trânsito e um pouco mais de trânsito eu descubro que a única coisa que não abre aqui é a ##### do GMail. Abre Google, abre o inútil do Orkut, abre o blog, como se pode ver, mas o e-mail, de onde eu precisava pegar uma informaçãozinha, nem por decreto.

Não sabia que Murphy gostava de junky food. :P

Todo santo dia — realinhamento

Eu fico aqui escrevendo esse monte de bosta que pouca gente vai entender — ou ligar, ou qualquer coisa — enquanto deveria estar resolvendo questões práticas. É realmente muito construtivo. Vou cuidar da vida que clama. Vejamos, por onde?

Desnorteado

Nasce a lua que mingua e se atrasa em torno de mim, e eu choro. É tarde. Muito tarde pra ser de novo aquele poço de segurança, aquele “referencial”, como você diria; eu só posso, só consigo ser modelo de mim mesmo. E temos aqui um problema: eu mesmo quem, cara-pálida? Procuro entre dobras de alma e existência, corpo e sentimento, pensamento e emoção; cada reino parece clamar por um argumento e eu permaneço indefinido. Acho que me fiz sólido porque foi assim que aprendi a lidar com a desestrutura alheia. E de repente me pergunto, sem estrutura ou querendo me desfazer dela: quando é que fui farol? Quando foi que eu fiz isso? E o que eu faço agora com este desejo de uma luz forte me conduzindo, apontando, dizendo o que eu já disse tanto? Nem sei o que falo.

Choro porque quando cai a noite o que me resta é esta dicotomia e esta minha incapacidade de andar em linha reta de quem nasceu pra galopar, mas não sabe. Qual desses horizontes é o meu? Se pelo menos você me desse a tua mão… É um pensamento dfícil de reprimir enquanto olho as minhas, dobradas sobre o colo.

Caminhos

Por quê?…
E quando o farol se perde, quem é que indica o caminho?

Blablablá

As formigas invadiram de vez a mesa do micro. Tão miudinhas, as danadas, que eu me pergunto se o computador não está vazando bits — isso explicaria muitos dos seus comportamentos estranhos, embora seja até redundante falar assim.

+

Puta pé d’água, meu!

+

Depois de muitos e muitos dias ela veio, por falar em formigas. Fazia tempo que não me dava vontade de doce, daquelas de salivar. Abençoado seja aquele que inventou o leite condensado e o chocolate em pó. Só o brigadeiro salva!

+

A gente fala, fala, cansa de falar e ainda sai com a sensação de que não conseguiu dizer aquilo tudo da maneira que devia, ou certa, se é que há. Será que os teus olhos tristes entenderam que quando eu digo que preciso não é porque eu ache que você não possa me dar? Eu só queria que você soubesse que há coisas que eu também não sei. E tenho um medo muito grande, às vezes, de sei lá o quê.

Ó, prestenção!

Já lhe dei meu corpo, minha alegria
Já estanquei meu sangue quando fervia
Olha a voz que me resta
Olha a veia que salta
Olha a gota que falta pro desfecho da festa
Por favor

Deixe em paz meu coração
Que ele é um pote até aqui de mágoa
E qualquer desatenção, faça não
Pode ser a gota dágua
(Chico Buarque)

“Que vejo flores em você”

Sim, eu sou ridículo. Houve um tempo em que meu super-ego não permitiria, mas hoje, sim, sou ridículo, tão ridículo que consigo rir de mim sem a menor culpa. É que chega um dia e a gente entende, aprende a querer ser feliz.

Você também?

Pois eu, não! A última coisa que eu pretendo neste calor é enfrentar uma fila desmedida de gente alucinada pra comprar um ingresso pro show do U2. E não é preconceito, muito pelo contrário: apesar de não ser fã de carteirinha — se bem que ser fã de carteirinha, no sentido descabelatório do termo, nunca foi muito o meu perfil —, eu gosto da banda. Mas é que eu simplesmente não-vejo-nada nesses shows, a não ser que esteja lá no gargarejo. Como eu não fui abençoado com uma credencial, nem pretendo gastar a fortuna exigida, so sorry, bom show pra vocês.

E tem mais, eu me irrito com a trogoditice que impera nesses eventos; jogar garrafinha na cabeça dos outros, por exemplo, pra mim, é coisa de gente estúpida e tenho ganas de arremessar o primeiro paralelepípedo que encontrar de volta — acho que lá não estão disponíveis. Pessoa pacífica que sou, mantenho distância. Acho que é por isso que eu sou muito mais afeito aos teatros, salas de concerto ou casas de shows. Do U2, depois eu vejo o DVD. Tenho cá as minhas frescuras.

Mas tem gente que se diverte, 26h na fila, essas coisas, deu lá no jornal. Credo!

Diálogo

Eu confesso. Eu queria não ter de explicar nada, falar nada, pedir nada. Queria ser entendido assim, quase de cara, especialmente quando eu preciso ser entendido, quando estou mais frágil. Mas eu sei — até esqueço, mas sei — que é justamente nessas horas que eu preciso explicar, deixar claro, muito claro, o que eu sinto. É foda. Mas ainda bem que é possível. Afinal, o outro não tem a menor obrigação de saber o tamanho do meu calo. E vice-versa. Minha maior dificuldade é, sem sombra de dúvida, lidar com o silêncio, quando por falta de eco, em seus vários planos.

Fera

Diga que me ama!
E não diga mais nada,
pois não quero ouvir.
Não há em ti uma só palavra
que possa arrancar de mim,
as veias cálidas, a face arfante,
o pau que pulsa de encontro ao teu.
Não tens idéia do meu desejo,
pois quando de longe o viste
escondeste tu em teu sorriso.
Se ao menos sentisse a fagulha
mínima e animal a te açoitar
as ancas, não pensaria: gozaria
felicidade por cada poro
de tua pele lânguida. Lambida.
Geme que me ama…
Atreve-te! De que tens medo?
Encosta tua mão boba
em minha boca
e sente que te mordo
a segurança descabida.
Reage! Olha nos meus olhos
enquanto te agarro com jeito
as pernas frouxas
e não treme de tesão. Varão!
Minhas marcas em teu corpo
são tua melhor paixão. Tenta.
Teu destino — me amar —
é só o que espalho
no peito com meus dedos.

Unloved

Daí eu surto. E quero ver me chamarem de louco!
Me guardo inteiro, me cubro de flores, me encho de amores. E me diz, pra quê?

Repeat

Salta um anjo de marfim
Olhos de cristal
No portal um mandarim
Azul real
Invisível trampolim
Céu de vitral
Abre as asas querubim
É imortal

Dançam estrelas em suas mãos
E no piano o coração das águas
Navegador de um oceano
Além do mar
Além do fim

Salta um anjo de marfim
Olhos de cristal
Abre as asas querubim
É imortal
(Eternamente, André Mehmari e Rita Altério)

André Mehmari e Ná Ozzetti — piano e voz. Pérolas.

Porque poucas palavras dizem muito.
Porque o que não é palavra, a voz entoa, a nota toca.

Angústia

Desde ontem. Aperto. Tristeza? Desânimo.
Tô cansado de brigar. Cansado de fazer valer.
Bem cansado de falar, de ter que dizer, de buscar.
De saco cheio de alimentar, empenhar, impelir, esperar, crer.
Não me perguntem. Não sei. Não sei mais. O quê?

Vou dançar salsa.

Lá vem a noiva!

E começou cedo este ano! O primeiro casamento já foi marcado pro próximo fim de semana. Eu acho mesmo que o povo tem mais é que casar, ser muito feliz, fazer cerimônia com música ao vivo — muito chique! — e me chamar pra cantar, claro.

Re-torno

Uma semana fora e agora de volta. Algum punhado de e-mails (nada de absurdo, ainda bem) e uma e-leitura que, se já era atrasada, agora é alienação em pessoa. O problema é que eu me pego pensando se quero realmente saber da vida alheia. Acho que quero ver os olhos mesmo. Poucos.

+

Novos e queridos amigos de infância e a perspectiva de mais DDD pela frente.

+

Mais uma coisa que me chamou a atenção em Porto Alegre: não tem pernilongos! Ou então eles não gostam de sangue estranho, pois tem calor, tem água, tem janela aberta, mas eu não me dei conta de nenhuma picada. Os de casa já tão aqui rondando, inferno! Eu daria o Nobel a quem inventou o Protector elétrico.

+

Coisas pra fazer, decisões pra tomar, rumos pra seguir. Mas amanhã, que hoje eu quero sossego, chegar, matar a saudade, essas coisinhas gostosas, sabe?

Até que a morte me separe

Comprei um anel de prata na praça. Joguei moeda na fonte pro meu povo.
Uma cerimônia antiga de amor — a aliança, o meu casamento comigo. Amém!

Tri legal

O que mais impressiona em Porto Alegre, sem sombra de dúvida, é o céu. O céu aqui é de um azul tão… improvável, de uma profundidade que não parece possível. E dizem que fora do verão a luz é ainda mais incrível, com seus tons pastéis de outono, suas sombras longas de inverno, como diria Caio Fernando Abreu, e seu brilho cintilante de primavera. Um azul que me observa a cada esquina do caminho.

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Bom, a segunda coisa que mais impressiona em Porto Alegre é que até os motoboys esperam o pedestre terminar de atravessar a rua se o farol abre. Eu não consigo imaginar isso em São Paulo.

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A cidade está vazia, dizem, mas eu não me importo. É bom não dividir de vez em quando, nem que sejam as pedras da calçada.

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Observo o misto de ansiedade e alegria que ele carrega enquanto pega as chaves do apartamento novo, corre pra lá e pra cá na tentativa de comprar cozinha, geladeira, ter tudo pronto pro amor que vem. Ele não sabe que no afã de começar tudo com o pé direito, o esquerdo também acompanha a caminhada e é assim que ele não cai. Observo e não posso deixar de notar intimamente que quero isso pra mim também, embora não saiba muito bem como, quando ou onde.

+

O tempo tem sido camarada, limpo e azul, suportavelmente quente e com direito a brisa quando a tarde cai. Parece ter ser animado e esquentado um pouco pro fim de semana. Ainda quero ver o pôr-do-sol no rio Guaíba.

+

Eu nunca mais vou querer saber de chantilly na minha vida depois de ter provado da bomba royal — a saber, salada de fruta coberta em quatro camadas, de creme de nata e sorvete napolitano, o sorvete mais gelado da paróquia — da Banca 40 do Mercado Municipal. Aquilo, sim, é que é creme de nata, o resto é gordura hidrogenada!

+

Metade do que vim fazer aqui ainda não sei muito bem. Vim visitar um amigo. Vim conhecer alguém que me conhece e me acompanha há muito tempo. Vim agradecer. Vim pedir auxílio. Vim olhar o caminho. Vim lamber velhas feridas que eu insisto em manter abertas ou simplesmente não sei como fechá-las. Acho, e apenas acho, que vim olhar pra mim com um pouco mais de distância.

Trago amor, levo amor aqui comigo, meu amor.

+

Mas eu queria você aqui. Sinto a tua falta, sinto falta do teu abraço e do teu beijo. Pra você ver como são as coisas, eu até sinto falta do teu silêncio — saudade do canto do teu olho, de admirar o teu belo perfil calado.

Adeus, ano vel… já foi?

Reveillon logo ali, na praia. O logo ali de muita gente pro meu gosto, mas tudo bem. Gente simpática, acolhida calorosa, como sempre. Mas fui porque quis e por um único motivo que muito não me convenceu — amor, confiança e comprometimento: no entanto, repito pra mim mesmo os três ingredientes mágicos que eu cultivo e busco, como um mantra. Paciência. Olha, eu juro que se durasse uma semana eu desistia no meio e vinha terminar aqui em casa, nem que fosse sozinho!

Mas amanhã eu vou pra Porto Alegre, com algum tempo pra pensar — e ser pensado, espero! Tá tudo muito bom, muito bem, mas se esta semana não for uma delícia, acho bom não falarem comigo por um mês. Ou mandarem o guincho.

Ora pro nobis

Quem me conhece deve estar sentindo falta de um pouco de presença, um pouco de verbo, um pouco de carinho, um pouco de implicância… um pouco mais de mim. E devo dizer que no momento não tenho. O ano fez o favor de consumir muita coisa. Não quero cair na tentação de dizer que foi um ano bom, nem na armadilha de que foi um ano ruim. O ano foi — bom e ruim — e eu ainda não consigo digeri-lo, então coloco ele pra fora. Nesse ano eu conquistei muita coisa: o diploma que eu buscava e me devia, antes de mais nada; espaço profissional, que eu construo pedra a pedra; algumas boas amizades (e liberdade de outras não tão boas assim); enfim, eu cresci mais um bom tanto. Esse ano me exigiu muita coisa: amorosamente, nem preciso explicar, há quem soube, há quem viu, ponham vários asteriscos nesse item; me trouxe faltas, ausências que me tocaram; não tentei a pós que eu nem sabia ao certo se queria; amarguei meio ano meio sem saber o que fazer, contando as moedas, dei de cara com muita porta até achar uma que abrisse; senti a inveja e o veneno alheios, a mágoa sem porquê.

E esse ano não acaba! Neste exato momento minha tia, a irmã mais próxima de minha mãe, que já havia fraturado a fíbula num tombo de escada, está internada no Hospital do Servidor com um tumor no cérebro, aguardando a cirurgia na segunda. Entre ela sentir que as vistas não estavam batendo e a internação, foi um mês, apenas um mês. Passou o Natal no hospital, vai passar o Ano Novo também. E agora a chance de que sua vista direita fique com seqüelas é grande. Não há certeza de que o tumor seja primário ou secundário, só de que ele precisa ser retirado imediatamente, pois a sua localização e tamanho oferecem risco de vida.

Qualquer sensação de impotência que eu já tenha sentido é pinto perto deste ano. Eu me agarro às minhas conquistas como a amuletos, como se uma coisa desse créditos pra resolver as outras. É muita coisa pra eu digerir de uma só vez.

Então, eu agradeço os votos de todos e peço desculpa se não separo o joio do trigo na hora de fazer os meus. Eu quero, acho, apenas que esse ano termine da melhor maneira possível; eu não agüento, não quero mais — peço, rogo, imploro pela saúde de minha tia! De conquistas e alegrias estou satisfeito; de dores, farto. Que 2006 seja um ano de alívio. Que cada chuva venha pra lavar, pra encher regatos, lágrimas pra apagar incêncidos d’alma. Que o vento venha pra soprar feridas e pra fecundar as plantas. Que a noite caia, silenciosa. Que o sol nasça mais uma vez. E outra. E outra. Pois o sol existe. Que este seja um ano de sonhos despertados.

(sic)

Abre aspas.

e vocês não sabiam que amores não expressos morrem? ou matam, é verdade. (Zel)

Fecha aspas.

“Voar, voar
Subir, subir…”

Eu preciso de-ses-pe-ra-da-men-te viajar.
O chão que eu piso aqui hoje me dói dos pés à cabeça.

+

Ontem fiz um bate-e-volta até Valinhos pra visitar uma prima que mora no Canadá e está aqui de passagem — único dia possível. Alguém há de me entender quando digo que senti tanto alívio como se eu fora pra outro mundo, fora de mim.

+

Falta muito pra Porto Alegre chegar? Dia 2 é muito longe?

Profundas reflexões de Natal. Ou não.

Acho que foram umas 10h batendo perna nesta última sexta-feira. Da Paulista ao Shopping Center Norte e de volta, e pra Fnac, e de volta pra outro shopping. É, deixei tudo pra última hora. É, é, promessa de ano novo, vai esperando!

+

Eu odeio shopping sem localizador! Acho um absurdo ser obrigado a ficar rodando à toa quando já sei o que quero, como em 90% dos casos. Os outros 10% e a sola do sapato são por conta da tia velha (amigo secreto) que não disse o que raios queria ganhar. Azar dela se não gostar! E não adianta, eu enrolo até a morte pra sair e comprar se eu não sei o que escolher.

+

Também odeio não encontrar o presente idealizado, mas adoro quando o faço. E quando o faço, pago, quando posso. O problema é que às vezes eu embaralho essas condições. Só não dou mais presentes porque eu ainda tenho alguma noção de que eu preciso viver até os trabalhos voltarem no começo do ano.

+

Ganhei/comprei um relógio tão lindo! Eu explico. Ganhei um relógio bem legal de uns alunos — eles deram um presente assim pra cada regente/professor, mas era um modelo esportivo e eu já tinha um muito bom. Então lá fui eu trocar por um modelo social. Claro que o que eu escolhi era mais caro e claro que eu paguei. Seria muita falta de educação rejeitar um presente dado tão de bom grado! ;)

+

Já tenho a minha sandália de couro nova pro Ano Novo! Então com a máquina fotográfica, o meio-relógio e o livro encomendado acho que posso — pra não dizer que devo — encerrar o capítulo compras. Mas eu queria tanto alguma camiseta, camisa, bata bem branquinha! Assim, bem simplezinha… Alguém me prende, já!

+

Tá feliz neste Natal? Fez feliz neste Natal? Então tá bom. Faz de conta que você leu aqui uma mensagem inspirada. Agora vai lá dar um pouco de amor a quem se ama, a quem te ama, porque tem horas, nêgo, que é só isso que se pode fazer, e a gente simplesmente esquece. Não se esqueça da luz. Vou tentando daqui, com alguma fé.

“You give me Flickr…”

Muito tempo atrás eu disse que só teria um álbum de fotos — ou fotolog, que seja — na internet quando tivesse uma câmera digital. Pois então, digam “xis”: I’m flickr’d!

Agora agüenta a psicose da pessoa… :P

Meio desligado

Ando calado, eu sei.
Em parte porque há o que eu não quero falar.
Em parte porque não sei o que (ou como) dizer.

É a idade…

E porque eu deixei passar: no último dia 10 este blog fez cinco anos!
Fala a verdade, é muita falta do que fazer, diz aí, que aqui já foi demais.

Santa Clarice, padroeira destas parcas letras, abençoai, abençoai…

Milágrimas

Tem dias que a gente se sente
Como quem partiu ou morreu…

+

Com a garganta meio estranha, áspera, peguei aquele CD finalmente pra ouvir — claro que eu chorei. Lágrimas doídas. Milágrimas. Dizem que a cada mil lágrimas um milagre acontece. O único milagre que eu espero hoje é que elas sequem de vez. Mas entre faixas e memórias eu vou buscando os acordes menos diminutos.

+

O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração…

+

A garganta tá realmente estranha. E eu com um ensaio, cinco casamentos, uma aula — a outra, cancelei — e um concerto importante (pra mim, pros outros, pra todo mundo), daqui até sábado à noite; definitivamente não é uma hora boa pra voz faltar. Daqui até domingo todo carinho é mais do que bem-vindo, já que ninguém pode cantar (ou chorar) por mim — e nem é isso que eu quero.

+

A gente toma a iniciativa
Viola na rua, a cantar…

+

“aqui dentro desse pedaço de corpo onde fica o coração parece que caiu uma bomba e ficou o buraco; ou que alguma coisa se foi sem eu saber pra onde. a gente sabe que não vai morrer e nem se acabar, mas tudo se mexe lá dentro pra ocupar o vazio e não deixar o estrago piorar e matar um pouco mais — e mexer coisas de lugar sempre dói, vocês sabem.”

Você já leu isso aqui que ela escreveu? Então leia. Quem sabe, com sorte talvez você entenda porque eu rio quando faz-se o dia, mas choro quando me cai a noite.

+

Mas eis que chega a roda-viva
E carrega a saudade pra lá…

Milhagem

Um amigo queridíssimo precisando de mim no sul.
Outros por quem a saudade dói, no norte.
Saudade também à nordeste, aqui e ali.
Um amor que vem.
Outro que vai.
Dois aniversários.
Muito trabalho.
Algum rumo.

E eu aqui vivendo tudo, absorvendo, amando, chorando, querendo tudo e nada.
Há dias em que eu gostaria que o mundo existisse só até onde minha vista alcança.

A dinamização da libido

Entre os dias 29/11 às 14:33h e 21/12 às 03:58h, o planeta Marte estará formando um ângulo harmonioso em relação ao planeta Vênus do seu mapa astral, Guilherme. Este tende a ser um período particularmente positivo para o sexo, o prazer, uma fase em que você provavelmente sentirá que está irradiando um magnetismo pessoal maior, e de fato estará… Convém aproveitar o momento, circular mais, fazer-se ver, exibir-se um pouquinho não faz mal a ninguém, afinal de contas.

O magnetismo pessoal irradiado neste momento vai bem além da mera esfera sexual, entrando em todas as suas áreas sociais, do trabalho às amizades. As pessoas estarão percebendo em você um “tesão maior” para fazer as coisas, uma percepção de que você estará tendo mais prazer em viver a vida. E você, é claro, poderá contaminar positivamente os outros com esta qualidade, neste momento. (Personare)

Então tá, vou anotar na agenda — nota: comprar camisinha, opa!

As time goes by

Foi segunda passada, né? Eu esqueci e só fui me lembrar bem depois. Na verdade, achei estranho você no meu pensamento assim tão insistentemente e daí me dei conta — não sei se era você que se lembrava ou uma parte de mim, aquela que nunca esquece; algo me diz que ambos, mas acho que isso agora não importa.

Sabe, eu achei bom não lembrar. Foi bom não pensar no assunto. Pela primeira vez eu fiquei feliz em esquecer. E não é pelas lembranças, que quem realmente me conhece sabe que eu as guardo todas, em belas caixas, em lindas imagens, coisas que apenas meus olhos viram, somente meus ouvidos ouviram, tudo o que eu senti e sei que fiz — e eu fiz muito. Não, não é pelas lembranças, mas sim pelo peso que eu sempre dou a elas, o peso de tudo que eu sinto. Foi bom não lembrar da alegria de te ver pensando alto no tempo que passaríamos juntos ou o que faríamos então, por exemplo. Meu deus, foi bom escapar daquela dor! Uma dor que por mais que eu explique e todos entendam — até você —, só eu conheci. Foi bom não me lembrar um pouco de você. Foi bom mesmo não me lembrar de nós. E não me entenda mal, mas emocionalmente falando, eu já tô de saco cheio de ser esse burro de carga.