O universo resolveu que este ano ia jogar as coisas na minha cara, de novo e de novo. Dores, amores, necessidades, cansaços, dissabores e loucuras alheias de todos os tipos a ponto de me fazer olhar pras minhas loucuras com um pouco mais de carinho. Será essa uma maneira delicada de brincar de pingue-pongue com o meu foco? Ora bolas, se todo mundo pode surtar e perder completamente a noção, o senso de pessoa, de pessoas, então por que eu também não posso dar uma de louco? Me aguardem…
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Tenho quase certeza de que meu inconsciente é uma entidade independente que se alojou em mim pra cumprir sei lá que função dentro dos planos universais ou nem tanto. De que outra maneira seria possível explicar tanto sadismo? Ninguém seria tão cruel consigo mesmo ao reavivar, mesmo que inconscientemente, lembranças, sonhos, vontades, saudades… Ou seria?
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Quem vai acreditar quando eu digo que estou bem? Eu estou. Há em mim a vontade de caminhar. Mas tem aquele quê que se perdeu dentro do peito, sabe? E, bicho, o que você faz com isso? O quê?
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Festa. Inauguração. Pessoas muito queridas de um lugar e um tempo de onde eu saí destruído. Não, não é arrasado, é destruído mesmo — ou auto-co-destruído, não importa — e intoxicado de dor. Daquilo acho que não restou mais nada de importante. O que restou, contra todos os prognósticos, foi uma vontade inexplicável de viver e amar. E amei. Então amei. E não foi fácil, mas eu a-mei. A chama soube achar um caminho, no meio da dor, de crescer de novo e tentar. A chama venceu, encontrou um caminho pra existir, independentemente. O amor… não. Ele fez o que pode, existiu (e existe), quiçá plantou suas sementes, mas não venceu — talvez ele tenha sido pra isso mesmo, mas vai me fazer acreditar!
Mas a festa, com gente de outro tempo, outra história. Ouvi vários “como você tá lindo!”, “como você tá gostoso!”, “você tá ótimo!”, “que bom te ver!”, sorrisos, abraços, cuidados e interesses sinceros e não nego: foi muito bom dar essa volta por cima e ver que eu tava fazendo a coisa da maneira certa, sim. O que plantamos com um pouco de nós, generosamente, permanece. A história é uma só: a minha.
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eu desprezo quem foge, quem se esconde por trás do anonimato, do disfarce, do silêncio e da covardia travestida de indiferença. (Zel)
Desprezo? Não, eu não consigo, é quase impossível. Se há um quê de envolvimento emocional, seja da natureza que for, não rola. Eu tenho pena. Mas isso também é coisa que envolve dores muito particulares, não é algo ao qual ultimamente eu esteja disposto. Então, como não é o desprezo, que me levaria ao desligamento desejado, nem a pena, que tem, sim, aquela pitada incômoda de auto-comiseração, deixemos cada um no seu canto, cada um cuidando da própria vida. Pra melhor?
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Reticências. Eu já aprendi a esperar por alguns momentos de reveses da memória — essas ondas que parecem querer testar minhas raízes contigo — e esperar por essas viradas das engrenagens entre o eu e o outro e suas dores características. E quer saber? Não adianta nada, dói do mesmo jeito. Um dia talvez eu aprenda a dizer adeus sem enfiar um punhal no peito com isso. Mas hoje, duvido. Sempre soube que ia sentir a tua falta, assim como sempre deixei clara minha alegria na tua presença. Ainda choro um pouco nos armários daquela música — lembra, quando eu estava “a te esperar” cantando no refrão? Pois que não importam os três pontinhos, há uma imagem na memória: a legenda muda, mas aquela foto continua sendo linda, como você. E… bom, isso, hoje, dói, né? Ainda não sei o quanto te perdi, o quanto te encontrarei. Não tem mais você por aqui pra eu saber.
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E no entanto, há uma chama aqui dentro (eu confio nela) que arde mais que o sol.
Eu quero o amor, sim. O que eu não quero é a vulnerabilidade, por enquanto.