Cidadania

Vocês já notaram que quando um ônibus está cheio nesta cidade as pessoas se fazem de sonsas pra não ter que ceder os lugares especiais a quem eles são reservados por lei? É assim, o ônibus tá cheio e marmanjo deixa a velhinha ali espremida no corredor pra não ter que levantar sua real bunda do lugar. Percebam a lógica egoísta por trás disso: é melhor a velhinha — ou mãe-e-criança, etc. — ficar ali no aperto do que eu! Tá pouco se fodendo pra velhinha ou pra lei.

Isso me irrita tanto que esta semana eu vim pra casa encarando ostensivamente um animal desses. Eu tava sentadinho no meu lugar e o ônibus encheu. Quando eu vi a velhinha parada em pé do meu lado, olhei pro banco de trás, o reservado, e peguei o desgraçado desviando o olhar pra fora, fazendo a linha “nem é comigo”. Levantei, cedi meu lugar, parei do lado da besta e não desgrudei o olho; pela cara e pelo modo como ele desceu do ônibus, espero ter incomodado bastante.

Sabe, eu acho graça. Tá assim ó dessa gente reclamando seus direitos, descendo a ripa no governo, maldizendo a sorte, a vida, o caralho. Nessa hora todo mundo é cidadão, certo? Pois eu espero que esse tipo de gente se foda muito, de verdade.

Tanto há mar

Há que se cuidar
da água
para que não vire poça.

Ser lago,
uma concentração
do tempo
e de mim.
Subir nuvem
e descer chuva
por novos caminhos.
Um recomeço,
uma gota,
um dia a mais.

Hoje sou arroio,
amanhã cresço rio.
E o destino
do meu curso
por mata e pedra
há de me levar
para o mar.

Vim só dar despedida

“…Filho de sol poente
Quando teima em passear
desce de sal nos olhos doente de voltar…”

Enquanto fazia as malas naquela cidade penso que fechava um pedaço de mim. Estrada de caminhos cortados. Nunca levei tanto tempo pra fazer uma mala, acho que nunca recolhi tantos pedaços de mim perdidos, pensando pelos cantos.

Olho pra dentro e sinto medo, fecho os olhos e sinto frio. Olha pra fora e sinto… não sei se sinto (o que sinto). Olho pois os meus amores, que eu já alimentei tanto. Uns dormem, outros padecem. E há os que se foram, com a graça dos céus, se foram. Melhor assim — ? —, preciso mesmo me cuidar. Olho pra fora e pra mim.

Abro as malas em casa, na cidade que eu não sei mais se é minha, e há um pote de doce quebrado. Sei então que esta é a minha mala.

Promessa

Tenho amor.
Não vendo,
não empresto,
nem troco.
Não dou
(o coração
que é meu).
Mas amo.

Talvez num tempo da delicadeza…

[“…Onde não diremos nada
Nada aconteceu
Apenas seguirei, como encantado
Ao lado teu”
]
(Chico)

…seja possível então eu ser o que eu sinto,
e todo o sentimento talvez não seja demais.

Copa e cozinha

Acho que é justo dizer: c’est fini!
Eu sei, foi péssima. Mas lá também não ajudaram, então…

Uma parede chamada Cristina

Aos 33 anos, a parede da cozinha resolveu enfartar. Na prorrogação de Alemanha versus Portugal, a dita começou a estalar que nem madeira no fogo e os azulejos descolaram quase todos da parede. Só não caíram porque tavam grudados uns nos outros. Daí toca afastar a geladeira, subir na escada e ir descolando um por um — e a agonia daquilo tudo resolver descolar de vez? — antes que despencasse tudo.

Enquanto isso, os pênaltis comendo lá na sala!

Azulejos portugueses, só podem ser.

A censura da censura

Eu não sei se fico bravo comigo porque escrevo o que sinto ou porque fico bravo comigo porque escrevo o que sinto. Além de tudo eu tenho um superego recursivo!

Eu devia dar aulas de superego. Curso avançado. Vou ficar podre de rico! Não vai resolver nada… Mas o terapeuta que eu vou pagar depois disso vai, tenho fé! :P

+

Vamos esquecer esse assunto?
Vamos, né? Então.

+

Eu canso do drama.
Eu canso do blasé.
Eu canso.
Cansei.

Coisa de irmão

É impressionante. Foi a Argentina perder pra Alemanha que metade dos nicks no meu msn começaram a expressar a nossa já tradicional rixa. Seria engraçado, não fosse trágico a gente chegar na final e dar de cara com a Alemanha. Eu vou continuar com o meu esquema natação-nem-sei-que-time-tá-jogando, sempre que possível, já que eu entendo patavina de futebol. Guardo tudo pra, quiçá, final.

Retrô

Dia desses cheguei no Metrô e fui comprar o há séculos tão tradicional bilhete múltiplo de 10 — aquela maravilha, sabe, que te livra das filas, que tem troco fácil, que te garante várias viagens sem se preocupar se você tem dois reais E DEZ no bolso, na última hora.

Pois bem, a mulher olhou educadamente pra mim e disse: “Só tem unitário!”, com uma cartela imensa de bilhetes na mão. Eu pisquei, meio sem entender, afinal, nunca vi bilheteria do Metrô ficar sem bilhete, que coisa estranha. Ela sacou no ato a minha dúvida — não devo ter sido o primeiro — e retificou: “Não existe mais bilhete múltiplo, só o unitário!”.

Foi então que eu olhei pro cartaz de preços e vi que que o espaço dos bilhetes múltiplos de 2 e de 10 estavam com uma tarja preta em cima. E disse, em bom português e pouca educação: “Mas quem foi o IMBECIL que teve uma idéia IDIOTA dessas?!” — obrigado, senhor, pela moça não ter achado que a pergunta era pra ela. Acho que ela tem se feito a mesma pergunta cada vez que algum mané aparece com uma nota de 50 paus na mão querendo comprar um bilhete de 10.

A minha surpresa foi tão grande e a minha vergonha em comprar um bilhete unitário com uma nota de 50 foi tão sincera que eu saí de lá com uma cartela de 10 bilhetes, um troco de 29 reais e uma tremenda cara de bobo: eu esqueci completamente da existência do bilhete único! Eu sempre comprei os bilhetes múltiplos por causa da praticidade, do desconto e pra não ficar na mão — se eu tenho um bilhete, eu tenho uma passagem.

Fui no site do Metrô e, ligando os ponto temos que, se você é usuário freqüente apenas do Metrô/CPTM, agradeça ao PSDB, você não tem mais desconto ou praticidade alguma na compra dos bilhetes. Se você usa apenas ônibus ou ônibus e Metrô/CPTM, agradeça ao PT, você tem o bilhete único. Simples, não? O resto você pode xingar, esconjurar e amaldiçoar quem for de direito, sem crise.

O universo resolveu que este ano ia jogar as coisas na minha cara, de novo e de novo. Dores, amores, necessidades, cansaços, dissabores e loucuras alheias de todos os tipos a ponto de me fazer olhar pras minhas loucuras com um pouco mais de carinho. Será essa uma maneira delicada de brincar de pingue-pongue com o meu foco? Ora bolas, se todo mundo pode surtar e perder completamente a noção, o senso de pessoa, de pessoas, então por que eu também não posso dar uma de louco? Me aguardem…

+

Tenho quase certeza de que meu inconsciente é uma entidade independente que se alojou em mim pra cumprir sei lá que função dentro dos planos universais ou nem tanto. De que outra maneira seria possível explicar tanto sadismo? Ninguém seria tão cruel consigo mesmo ao reavivar, mesmo que inconscientemente, lembranças, sonhos, vontades, saudades… Ou seria?

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Quem vai acreditar quando eu digo que estou bem? Eu estou. Há em mim a vontade de caminhar. Mas tem aquele quê que se perdeu dentro do peito, sabe? E, bicho, o que você faz com isso? O quê?

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Festa. Inauguração. Pessoas muito queridas de um lugar e um tempo de onde eu saí destruído. Não, não é arrasado, é destruído mesmo — ou auto-co-destruído, não importa — e intoxicado de dor. Daquilo acho que não restou mais nada de importante. O que restou, contra todos os prognósticos, foi uma vontade inexplicável de viver e amar. E amei. Então amei. E não foi fácil, mas eu a-mei. A chama soube achar um caminho, no meio da dor, de crescer de novo e tentar. A chama venceu, encontrou um caminho pra existir, independentemente. O amor… não. Ele fez o que pode, existiu (e existe), quiçá plantou suas sementes, mas não venceu — talvez ele tenha sido pra isso mesmo, mas vai me fazer acreditar!

Mas a festa, com gente de outro tempo, outra história. Ouvi vários “como você tá lindo!”, “como você tá gostoso!”, “você tá ótimo!”, “que bom te ver!”, sorrisos, abraços, cuidados e interesses sinceros e não nego: foi muito bom dar essa volta por cima e ver que eu tava fazendo a coisa da maneira certa, sim. O que plantamos com um pouco de nós, generosamente, permanece. A história é uma só: a minha.

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eu desprezo quem foge, quem se esconde por trás do anonimato, do disfarce, do silêncio e da covardia travestida de indiferença. (Zel)

Desprezo? Não, eu não consigo, é quase impossível. Se há um quê de envolvimento emocional, seja da natureza que for, não rola. Eu tenho pena. Mas isso também é coisa que envolve dores muito particulares, não é algo ao qual ultimamente eu esteja disposto. Então, como não é o desprezo, que me levaria ao desligamento desejado, nem a pena, que tem, sim, aquela pitada incômoda de auto-comiseração, deixemos cada um no seu canto, cada um cuidando da própria vida. Pra melhor?

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Reticências. Eu já aprendi a esperar por alguns momentos de reveses da memória — essas ondas que parecem querer testar minhas raízes contigo — e esperar por essas viradas das engrenagens entre o eu e o outro e suas dores características. E quer saber? Não adianta nada, dói do mesmo jeito. Um dia talvez eu aprenda a dizer adeus sem enfiar um punhal no peito com isso. Mas hoje, duvido. Sempre soube que ia sentir a tua falta, assim como sempre deixei clara minha alegria na tua presença. Ainda choro um pouco nos armários daquela música — lembra, quando eu estava “a te esperar” cantando no refrão? Pois que não importam os três pontinhos, há uma imagem na memória: a legenda muda, mas aquela foto continua sendo linda, como você. E… bom, isso, hoje, dói, né? Ainda não sei o quanto te perdi, o quanto te encontrarei. Não tem mais você por aqui pra eu saber.

+

E no entanto, há uma chama aqui dentro (eu confio nela) que arde mais que o sol.
Eu quero o amor, sim. O que eu não quero é a vulnerabilidade, por enquanto.

Guerrilha é, antes de tudo, um impulso?

…Vou votar no Lula, porque acho que é uma experiência nacional muito interessante. Evidente que estou decepcionado com tudo isso. Mas eu não sou moralista. Difícil não aceitar que seja possível construir a partir da classe operária uma possibilidade de liderança. Já vimos que o Lula está eleito. Não sou eu que vou desmerecer o meu presidente da República, se foi o povo que disse que é. Minha visão do voto não é moralista, é guerrilheira: vamos em frente. (Sabatina Folha / Paulo Mendes da Rocha)

Bicho, até que enfim alguém com um pouco de tutano! O texto nem é sobre as eleições — e eu nem sou o primeiro a citá-lo —, então, se você está prestes a entrar nos comentários pra escrever qualquer merda habitual sobre política, escândalo, que você já sabia e quem mandou votarem nele, querido retardado, não o faça; poupe-nos da sua mente brilhante e vá ler o texto umas quinhentas vezes até entender que o conceito (assim como o buraco) é mais profundo.

A cidade: urbanismo, desejo, liberdade e (in)segurança. Idéias bem interessantes.

Mas em tempo, se dependesse de mim, todos aqueles prédios de gosto duvidoso e estilo “neoclássico” seriam implodidos, se possível com os diplomas dos seus arquitetos dentro. Troço horroroso! Eu vou pagar todos os meus pecados se um dia morar num pirulito daqueles. Espero que dinheiro não embote o meu senso estético.

You’re nonsense, dear!

Sabiam que até pouco tempo atrás — fim do ano passado, talvez? —, na minha cabecinha sem noção, eu achava que São Judas Tadeu e o Judas que traiu Jesus eram a mesma pessoa? E eu pensava: Como é pode o dito maior dos traidores virar santo? Mas como eu nunca esperei muita coerência da Igreja Católica mesmo, então tudo bem. Pra completar, são pelo menos três Judas, né? Judas Tadeu, Judas Macabeu — que eu só sei por causa do oratório de Händel, de mesmo nome — e Judas Iscariotes, o traidor.

Aliás, eu não sou o único a fazer confusão. Segundo alguma alma caridosa, no Wikipedia, Judas são sete!

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O maior vórtice de gente sem noção é, sem dúvida, o Orkut. Eu teria dois ou três casos pra relatar, por dia, de gente absolutamente freak batendo à minha porta, se eu não tivesse nada mais interessante pra fazer, claro.

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Meu pai. Ah, meu pai… Vai fazer 60 anos este ano, sabe? E minha avó resolveu dar uma televisão nova pro caçulinha. Até aí, beleza, eu mesmo adoraria ganhar uma televisão nova. Mas depois de desembalada, ligada e configurada, bonitinha ali na estante da sala, ele resolveu fazer sei lá o que, com ferramentas, no nicho onde jaz a linda TV nova. Preciso dizer que ele riscou a frente da TV? Ai, como isso me dói…

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Caiçara, a gata, anda acumulando carência ao longo dos anos. Atualmente ela se joga aos nossos pés e colos — com as unhas, veja bem — no computador, cama, mesa, jornal, pia ou onde for em desesperados e dramáticos pedidos de afeto: me ame, me ame, me ameeeee*… Quem vê pensa que vai ser jogada no lixo. E eu me sinto até frio e insensível diante de tanta carência. Eu, prestenção.

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Um Toyota Corolla roubado foi recuperado na manhã de ontem por policiais rodoviários graças a um erro de grafia na adulteração das placas. O nome da capital catarinense estava grafado como “Frorianópolis”. (Folha)

Sem comentários.

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Do horóscopo, só o highlight: “Seu gosto por pessoas esquisitas e diferentes pode trazer dores de cabeça!” Ah, pode? :P Mal sabe ele o requinte que eu alcanço.

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Nadar no horário do jogo é ótimo! Pense numa piscina calma e vazia, só pra mim.

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Não, não, não! Pagar OITO reais de estacionamento pro cinema NÃO É algo razoável! De onde é que o Center 3 tirou essa idéia?

E por falar em cinema, toda essa discussão sobre o uso de bloqueadores de celulares nos presídios, mas eu defendo mesmo é o uso de bloqueadores de adolescentes nos cinemas. Já pensou, que maravilha: o espinhento entra no cinema e fica mudo, abre a boca e não sai um “a”. Inclusive, livraria a gente de pérolas de sabedoria proferidas com ar de espanto e indignação como “gente, que menino mau!” — A Profecia. Mas deixa pra lá, né? O filme já é meio sem noção por si só.

* Traduzido do felinês.

Farewell

…Amo el amor que se reparte
en besos, lecho y pan.

Amor que puede ser eterno
y puede ser fugaz.

Amor que quiere libertarse
para volver a amar.

Amor divinizado que se acerca
Amor divinizado que se va…
(Farewell, Neruda)

Acontece volta e meia e é quase uma sequência predeterminada de ações e momentos: um fim de tarde tranqüilo, uma certa languidez, alguma vontade de sair. Quando me pego estou ouvindo Ella, um piano ou uma orquestra leve por trás. Doce, melancólico. É é assim que a memória flui, senhora dos tempos interiores.

Neruda é quase uma disposição que a necessidade me traz. (Ella canta “Reach for tomorrow”, de repente.) E só há um caminho: adiante. Ali, à frente, não muito distante. É preciso partir pra poder realmente voltar, se é que um dia voltamos. O onde é o mesmo se o quando já não é mais? E o que dizer do quem, de nós, do eu?

Amar, amar, amar… Quando foi que eu aprendi? Não sei. E no entanto, eu quero sempre o primeiro amor em tudo: uma nova amizade, uma nova canção, um novo beijo. Quero acreditar que o dia que nasce hoje tem um novo sol. Um amigo acabou de me confidenciar que começa a namorar — ele nunca namorou de fato. E não há recomendação que me venha mais forte do que a felicidade do amor brotando. Fico feliz de uma maneira que nem é minha! Vai, coração, voa e ilumina o mundo que o mundo é teu, com todas as flores e todas as pedras. Todos teus os amores. Voa!

Sabe o que é pior? Quer dizer, não sei, talvez isso me salve da danação eterna uma dia, vai saber. Mas eu queria entender como é que eu consigo guardar sempre um pouquinho do amor de maneira tão pura — se não pura, sincera —; e depois de tudo, quando olho pra esses cristais de água luminosa e calor, alguns nervos ainda doem, nem que seja no mundo da memória. Ou no fundo do peito, onde começo a acreditar que ela reside. Mas eu sei, eu olho e vejo o amor ali. Não entendo essa dor, mas começo a aceitá-la e deixá-la ser, sem que pra isso eu deixe de ser.

Dizer adeus continua sendo o que há de mais difícil. Eu me despeço com uma flor da qual tirei os espinhos no peito, bênção maior da alegria que da dor. Quero pegar toda essa água que escorre pelas minhas fontes subterrâneas e soprar pequenas gotas multicores, pois ser feliz começa com querer ser feliz — eis o segredo ao qual se é tão pouco atento! Mas dizer adeus continua sendo o que há de mais difícil.

Andem, minhas pernas, que um medinho começa a querer se instalar de novo aqui no meu coraçãozinho combalido que tenta se vestir de alegre. Andem que é hora de partir! E eu não quero descobrir que calcei os sapatos trocados no meio do passeio.

Ó, ó, ó!

Vou escrever, ó lá! Pronto, escrevi.
Agora vai lá assistir o jogo. :P

Expedito

Alguém faça promessa pra eu criar vergonha na cara, organizar e publicar as fotos do aniversário dos trinta (e outras) antes que elas façam aniversário? Obrigado.

Por falar nisso, tá faltando coisa (momento, gente, lugar) interessante pra tirar foto ou é o meu olhar que anda assim tão desinteressado? É uma pergunta retórica, ok?

Reflexões solitárias emprestadas

E um dia virá, sim, um dia virá em mim a capacidade tão vermelha e afirmativa quanto clara e suave, um dia o que eu fizer será cegamente, seguramente, inconscientemente, pisando em mim, na minha verdade, tão integralmente lançada no que fizer que serei incapaz de falar, sobretudo um dia virá em que todo meu movimento será criação, nascimento. Eu romperei todos os nãos que existem dentro de mim, provarei a mim mesma que nada há a temer, que tudo o que eu for será sempre onde haja uma mulher com meu princípio, erguerei dentro de mim o que sou um dia, a um gesto meu minhas vagas se levantarão poderosas, água pura submergindo a dúvida, a consciência, eu serei forte como a alma de um animal e quando eu falar serão palavras não pensadas e lentas, não levemente sentidas, não cheias de vontade de humanidade, não o passado corroendo o futuro! O que eu disser soará fatal e inteiro. Não haverá nenhum espaço dentro de mim para eu saber que existe o tempo, os homens, as dimensões, não haverá nenhum espaço dentro de mim para notar sequer que estarei criando instante por instante, não instante por instante; sempre fundido, porque então viverei, só então serei maior que na infância, serei brutal e mal feita como uma pedra, serei leve e vaga como o que se sente e não se entende, me ultrapassarei em ondas. Ah, Deus, e que tudo venha e caia sobre mim, até a compreensão de mim mesma em certos momentos brancos porque basta me cumprir e então nada impedirá o meu caminho até a morte-sem-medo, de qualquer luta ou descanso me levantarei forte e bela como um cavalo novo. (in Perto do Coração Selvagem, Clarice Lispector)

Placebo

O tempo não cura tudo. Aliás, o tempo não cura nada. O tempo apenas tira o incurável do centro das atenções. (aqui, apud Fal)

E eu — aquele meu ladinho combalido — digo: eita porra…

Indelével

Às vezes, sem muito mais, eu sinto aquela última defesa, que nem é uma defesa, mas uma película bem fina de sanidade, de racionalidade, uma fronteira do que sou e que me define, de personalidade, algo infinitesimal que me separa do mundo e mantém tudo o que é emoção e sentimento, e que não é pouco, e que não tem forma, coeso; eu sinto ela se romper, quer dizer, romper já é por si só um termo muito, muito forte porque, na verdade, é um gesto tão dedlicado quanto o peso de um suspiro mais fundo. Então eu escorro pelo tempo que foi e que é, lateral e profundamente, e sinto espalhada em mim uma quase presença tua, essencial, que se (me) traduz numa saudade imensa de você. E é quando eu sei — não de pensar que sei, não de argumentar que sei, eu sei porque sei, porque meu corpo diz assim, porque teu corpo, gosto, cheiro, voz, olhar, teu gesto está ali, tua essência delicada e indelével inscrita na minha, ali, ou melhor, aqui, pra me lembrar — que te amei.

Inutilia

As palavras andam faltando porque andam faltando palavras, sabe como? Digamos que tenho deixado os pensamentos irem e virem com mais liberdade de forma. Quanto menos palavras num pensamento, melhor — acho que é este o caminho. Eu, que já pensei demais nessa vida, que já racionalizei até peido, mereço umas férias, não? Vamos viver um pouco, e não escrever uma tese.

+

Já amei demais também, mas aí é assim mesmo, não tem jeito. Ou escolho amar, ou finjo que não. É possível? Eu tenho é dó — será que tenho mesmo? — de quem não assume o que sente. Então, pra não ser hipócrita nem amargo, eu me fodo. Quer dizer, às vezes, e não só. Eu gosto do mergulho, è vero. A dois, se possível.

If I give my heart to you, will you handle it with care? — Ella diz.

+

Comprei teu presente já — é, o teu, não se faça de rogada!
Mas não conto, nem verso. Não tem prosa antes da hora. Aguarde.

+

Comprei um casacão forrado enooooorme, até os tornozelos! :D
Quero ver o vento do Guaíra, digo, Guaíba — burro! — me pegar agora.

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Criar vergonha na cara e selecionar e subir as fotos do aniversário, nada, né?

+

Quando eu morrer, se tiver algum tipo de julgamento ou coisa do tipo, tenho certeza de que vão enfileirar todos os potes de Nutella vazios pra eu prestar conta.

E eu vou alegar insanidade, tô nem aí.

Recadinho do coração

Música para uma mais-que-amiga:

Dona do Dom que Deus me deu
Sei que é ele a mim que me possui
E as pedras do que sou dilui
E eleva em nuvens de poeira
Mesmo que às vezes eu não queira
Me faz sempre ser o que sou e fui
E eu quero, quero, quero, quero ser sim
Esse serafim de procissão do interior
Com as asas de isopor
E as sandálias gastas como gestos do pastor

Presa do Dom que Deus me pôs
Sei que é ele a mim que me liberta
E sopra a vida quando às horas mortas
Homens e mulheres vêm sofrer de alegria
Gim, fumaça, dor, microfonia
E ainda me faz ser o que sem ele não seria
E eu quero, quero, quero, é claro que sim
Iluminar o escuro com meu bustiê carmim
Mesmo quando choro
E adivinho que é esse o meu fim

Plena do Dom que Deus me deu
Sei que é ele a mim que me ausenta
E quando nada do que eu sou canta
E o silêncio cava grotas tão profundas
Pois mesmo aí na pedra ainda
Ele me faz ser o que em mim nunca se finda
E eu quero, quero, quero, quero ser sim
Essa ave frágil que avoa no sertão

O oco do bambu
Apito do acaso
A flauta da imensidão
(Dona do Dom, Chico César)

PS — Lavou teu umbigo hoje?

Eu comentei em algum lugar — e-mail, se não me engano — que mais do que o proto-apocalipse paulistano de segunda-feira me assusta essa normalidade em que a cidade já se encontra, ou melhor, seus habitantes. Não, eu não estou com medo de que o PCC ataque de novo. Se não estava apavorado na segunda vou ficar agora por que mesmo? Eu estou com medo é dos comentários correntes, e da capacidade desse povinho bunda (de cima até embaixo) de se descabelar num dia e andar calmamente com cara de “ah, passou a chuva” no outro. Ê, boiada!

Isso, vamos todos culpar o governo, os bandidos e nossos pais, por que não? Afinal, já que é pra culpar, que se bote mais alguns traumas no pacote. Que tal aquela professora que te reprovou? Isso, teu chefe também! Ah, sim, a falta de sorte, né? Essa é boa. E aquele(a) desgraçado(a) que te deu um fora. Que beleza…

Aconteceu, virou manchete

Sobre o dia das mães (mas vale pra mães e pais, no geral), leiam isso aqui, da Zel.
Sobre o rebosteio em que se encontra São Paulo hoje, leiam aqui, da Dra. Games.

Eu vou só dizer que o abraço que eu dei ontem na minha mãe e o abraço que eu recebi de volta foram, literalmente, abraços de 30 anos. E que o fato de eu ter que desmarcar minhas aulas — sabe deus quando eu vou conseguir repô-las — me deixou azedo. Mentira, eu fico é fulo com esse pânico todo, com ou sem razão, pois os disparos das metralhadoras só são superados pela avalanche de disparates.

Alto (a)mar

De repente olhei pra trás e não vi mais o porto — eu havia partido
Segui com as velas bem altas gritando o teu nome no vento
As lágrimas do mar tinham um gosto de saudade tua
Hoje sou barco cheio de mim e de memórias
Tenho amor no peito, tenho o sol na proa
Tenho uma vida cheia de histórias
Tenho até muitas alegrias
Fé em algumas dores
Mas sou agora

Ser-Mãe

Instinto materno faz cadelas adotarem até bichos de outras espécies. (…) O instinto materno falou mais alto para Pitchula, uma cadela sem raça definida de nove meses, quando se deparou com quatro gatinhos órfãos recém-nascidos. Sem preconceito, ela resolveu adotá-los. (…) (Folha)

Minha homenagem a todas as mães, com filhos ou não, mulheres ou não.
Porque a pessoa é touro com lua em câncer, sabe o que é querer cuidar.

Mudaram as estações

Daí que eu abri um dos vinhos que eu ganhei de aniversário, servi-me de dose genrosa, roubei grandes lascas daquele parmesão especial que tentaram em vão esconder na geladeira, peguei uma pêra (eu gosto de acentuar pêra, gosto da fruta e de como a palavra joga o som do “ê” na ponta dos lábios, na borda de um beijo), escolhi duas músicas (uma de ida, outra de volta, eu volto, eu vou, eu volto) que se alternam ad libitum e vim aqui falar da vida, desfiar um verbo, desfilar um gesto, correr o dia, ter comigo o que se tem por aí.

Menino, este vinho é mesmo bom! Tinto, seco, porém macio, encorpado. Meus prediletos. Melhor ainda vai ser jogar a culpa nos argentinos se eu chegar bêbado pra cantar no casamento de hoje à noite. Os politicamente corretos, por favor dirijam-se ao guichê ao lado. Hoje é sábado.

Meu aniversário foi há uma semana. A “festa”, digo. E digo entre aspas porque ainda hoje aniversário pra mim tem cara de bexiga colorida e brigadeiro. Mas acho que aquele foi o melhor bolo que eu já fiz. Algumas ausências foram sentidas, e não tenho pudor nenhum em dizer que foram poucas, bem poucas, realmente. E também, algumas presenças foram notáveis. É doce ver que a distância é algo, de fato, relativa. Cercado de amores sinceros posso dizer que fui extremamente feliz. E se pudesse pedir… não seria aqui. O resto são folhas secas que o vento leva.

Os 30 anos são inestimáveis — para alguns, talvez os 29, os 31. Entre o outono e o inverno, é quando nasço e digo adeus. Abro os meus armários, visto um abraço, uma dor, uma alegria e um sorriso e fotografo certa luz com o calor de um dia frio.

Horóscopo

Os seus cinco sentidos estarão voltados para as pessoas hoje. Saberá senti-las, captando o que elas mais querem esconder, assim como seus mais secretos anseios. Isso é um dom, que também… (Folha)

Pára! Pára tudo! Dom de cu é rola. Pergunta: Quem foi que disse que eu estou interessado no que as pessoas querem esconder, nos seus anseios secretos, no caralho de rodas ou no sei lá o quê? Tô dizendo, eu aposentei a escavadeira emocional! Eu lá quero saber se o meu senso de justiça (sic) tá agudo hoje? Eu quero é saber se o senso de justiça dos outros é que tá bem calibrado. Ah, parei.

Vapt-vupt

Eu ia dizer “passa segunda!”, mas é segunda-feira.
Então, volta mais tarde. Ou não, quem sabe?

R.S.V.P. É o quê?

Eu juro que ano que vem eu vou é mandar um scrap de “valeu” geral pra galera e tá louco de bom. Mais de 200 recados, onde é que eu tava com a cabeça de querer respondê-los um a um? Tem aqueles inspirados, mas é de gente que te conhece mesmo e dispensa esse protocolo — ao vivo, inclusive, é mais gostoso o abraço.

Ó, céus!

Alguém me tira uma dúvida assim cruel, cruel?

De onde vem o termo “meme” (ou seria “memê”), que é como o povo chama os questionários, testes e quetais que a gente preenche e publica aqui e ali, sempre com informações altamente relevantes — eu, pelo menos, não consigo deixar de ler! — e propagação epidêmica?

O curioso obsessivo agradece.

Such a splendorous thing

Eu digo que os melhores anos estão apenas começando.

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Tem gente que acha bonito fazer o amigo chorar bem no final do aniversário. Droga, borrou tudo agora! :P

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Scraps, torpedos, telefonemas, beijos e abraços num dia corrido — alguns inesperados, confesso, outros esperados demais e recebidos com comoção. Pérolas de alegria genuína. É preciso que se saiba o quão são importantes pra mim — vocês aí, amores —, mas nem sempre é possível dizê-lo; vocês saberão em mim, em flor.

Je suis balzacão

Ah, enfim os 30… Vou dizer um negócio, eu nunca ansiei tanto pelo fim de um inferno astral. Eu sei que metade é coisa da nossa cabeça, mas se tá na nossa cabeça, então é passível de materialização. Tchau, Saturno, vai com fé e não volta logo, não! Me dá um folga.

+

Vocês viram o dia lindo de doer que fez hoje? Azul, azul, azul… É, pra mim! :D

+

Sem muita filosofia hoje. Acho que as resoluções são internas demais pra dar assim de mão beijada. Pra quem tiver a sensibilidade, coragem e principalmente disposição, meu já conhecido sorriso aberto; pra quem não, eu oblíquo — tesouro meu. Feliz Aniversário pra mim. =)

+

E vamos falar do que interessa: festa. Afinal, faço 30 anos e, bem ou mal, deu um trabalhão chegar até aqui! ;)

Se você sabe que é querido(a), nem preciso dizer: apareça! Se você não se acha assim tão querido, experimente — é o melhor momento pra novos sorrisos —, com certeza você vai conhecer gente bonita, inteligente, divertida e talentosa.

Onde: Santa Sara Bar (http://www.santasara.com.br)
Rua São Carlos do Pinhal, 461 (em frente ao Maksoud Plaza) 3285-4287

Quando: Sábado, dia 6 de maio, a partir das 21h30

Quanto: R$5,00 a entrada, comandas individuais (aniversário do Guilherme Bracco)

Vejo vocês lá! :D

Tchu-ru-ru

Não fosse amor não haveria planos
como uma onda quebraria cedo
Fosse um momento não faria estragos
Eu não estaria no chão
Não fosse amor não causaria medo
feito um brinquedo cansaria logo
Fosse ilusão não traria tanta saudade
E eu não choraria no chão
Então
Deve ser amor
Deve ser
Então deve ser amor
Amor
Não fosse amor não duraria tanto
a chama de um banho-maria brando
Fosse passado não passaria corrente
E eu não chamaria de amor
Eu não
Deve ser amor
Deve ser
Então deve ser amor
Amor
(Deve ser amor, Kid Abelha)

O inferno astral tá acabando e me deu um surto Kid Abelha adolescente. (Quem sou eu pra discutir com o que é per se?) A vida é assim mesmo. Eu que sou saudoso.

Nobreza amorosa

Teu perfil delicado
observa o mundo
em curvas e silêncio.

Pego tuas mãos
e é como o toque
grave e leve
de um tambor que
ressoa em mim.

Tua voz, não.
É aguda e macia
soa como brisa
um alento bom.

Você pisca
o canto do teu olho.
Momento
em que dobro
tua esquina.

E assim
com pedaços da
tua nobreza sutil
te reconstruo.

Prendo teu cheiro
vejo a tua luz.
De você tenho
todas as memórias
de um amor.

Pra você, Bicudinho.
Porque eu te devo o poema que meu coração quis escrever e o tempo não deu.

Segura a minha mão

E por falar em medos, fiquei pensando: não tenho medos concretos. Quero dizer, a Zel tem medo de taturana, há quem tenha um medo inexplicável de barata — ok, não é a coisa mais bonitinha do planeta e certamente não é a de hábitos menos nojentos, mas não morde, não queima, não ataca —, eu tive uma colega no colégio que tinha pavor de, pasmem, borboleta — ela saía correndo e urrando, sem exagero. Não tenho medo de altura se eu sei que não vou cair. Não tenho medo de bicho se sei que ele não vai me atacar — e é bem verdade que às vezes não sei se ele vai me atacar, mas mesmo assim eu acho que não. Não tenho medo de ser assaltado, nem de sair de casa, mas me cuido — há quem diga que não, geralmente os que têm medo. Nem de fantasmas. Aliás, tenho uma curiosidade muito pouco satisfeita sobre o desconhecido: não vejo, não ouço, mas queria. Enfim, respeito todos esses medos, mas eles fazem pouco sentido pra mim.

E aí chegamos ao ponto: meus medos têm pouco a ver com os meus sentidos. Disse logo ali que tenho medo de não amar, do término, do adeus. E isso é realmente forte em mim. Eu tenho medo de que chegue um dia em que eu não sinta mais — Marie, pode parar de rir agora —, de que eu não me envolva, de que eu não me entregue. E isso porque esses laços são vitais pra mim e perder essa capacidade significa perder um sentido de vida. Carência? Achei que fosse, mas quanto mais consciente eu me torno dos meus momentos de carência, mais eu vejo que eles vão e vêm, e o meu desejo de construir laços, de edificar, de me relacionar, não — uso termos sólidos não é à toa. Se há um trauma aí associado, é bem mascarado e eu ainda não o encontrei; encontrei outros, potencializadores.

Não é de morrer que eu tenho medo, nem de que morram, é antes: medo da agonia em vida. Não tenho medo do inevitável, mas justamente do evitável. É por isso que eu sempre digo que amo quando amo, que eu sempre dou quando tenho, que eu sempre cobro quando preciso e digo quando quero. Acho que os momentos em que não damos o que sentimos são momentos sem vida. É por isso que os términos de forma geral me incomodam e me doem tanto — saber quando algo é inevitável e aceitá-lo como processo natural é meu grande problema; aprendo devagarinho. É por isso que eu teimo. Porque é a nossa vida que precisa de cuidados. A morte não, ela vem com certeza, não preciso me preocupar com ela.

Balanço das horas

Já me contaram que a vida não é bolinho.
Mas quem foi que disse que tinha que ser esse angu de caroço?

+

Ainda tentando abrir uma porta na marra com essa história da tia doente. Parece brincadeira de mau gosto: ao mesmo tempo em que aparece a possíblidade de um erro de diagnóstico com a esperança de que, talvez, seja um caso tratável, a melhor de todas as portas permanece fechada, no caso, o Hospital do Câncer. “A esperança tá ali, mas vocês não podem alcançar”, parece que me dizem. E eu saio chutando porta pra tudo quanto é lado. A coisa tá ficando cada vez mais séria.

+

É estranha essa sensação de estar alegre de um lado e triste de outro — um certo desespero impotente, sabe? —, estar bem e nem tanto, porque eu pareço dois. Se me perguntam “tudo bem?”, eu tenho que pensar no que responder. A família se agüenta e luta como pode — minha mãe que o diga! Os dias por vezes assumem uma mesmice agoniante e o silêncio soa tonitruante aos meus ouvidos — porque não é aqui? porque não é agora? E no entanto, eu continuo acreditando no porvir. É simples: simplesmente não pode ser só isso, nossos vôos têm de ser maiores.

+

O aniversário tá chegando e o clima de faxina impera. Há pouco que você possa fazer se não for legítimo e de coração, então levante os pés se não quiser que eu os atropele com a vassoura. Mas 30 anos já são motivos suficientes pra se festejar — já pensou no trabalho que deu chegar até aqui? — e alegria é algo que se cultiva; aprendo a ser maior, tento ser melhor. E, claro, ainda há motivos mais altos que o correr indefinido das horas. Porque são tantas coisas azuis / E há tão grandes promessas de luz / Tanto amor para amar de que a gente nem sabe…

Não-classificado

Eu juro que eu começo a responder esses questionários que pululam nos blogs por aí, mas sempre paro pela metade. Ou porque a paciência me acaba, e eles são enormes, mas geralmente porque me agonia ter que escolher apenas um brinquedo preferido na infância, uma cor preferida, uma comida preferida, uma lembrança, tudo um de cada. E as respostas são múltiplas, do momento, e variadas. Parece de propósito, pra eu parecer a pessoa mais indecisa do planeta — antes fosse.

Mas adoro lê-los e recomendo o da Dani.

Aqui, seleciono 5 itens, à ocasião:
Perfume? Cool Water, Davidoff.
Piercings? Nos outros, mas não na língua, por favor; mamilo pode; lá não!
Medos? De não amar. Do término. Do adeus.
Como você quer morrer? Vivido.
O que você está ouvindo neste momento? Ella Fitzgerald, “More than you know”.

+

É, eu sou guloso mesmo. Não nego a raça.

Ninguém perguntou

Olha, você não vai querer saber…
Aliás, esqueci, você não quer saber!
Mas é isso mesmo que você não sabe.

Recursivo infernal

Sinto-me na entressafra da entressafra, é possível isso?

Parte de mim pulsa sem saber pra onde pular — mas sorri.
Parte de mim chora.
Parte de mim boceja.
Parte de mim suspira.

Cadê os caminhos? Ond’é?
Cadê eu em mim?

West Side (and almost Everyone’s) Story

There’s a place for us,
Somewhere a place for us.
Peace and quiet and open air
Wait for us
Somewhere.

There’s a time for us,
Some day a time for us,
Time together with time to spare,
Time to learn, time to care,
Some day!

Somewhere.
We’ll find a new way of living,
We’ll find a way of forgiving
Somewhere…

There’s a place for us,
A time and place for us.
Hold my hand and we’re halfway there.
Hold my hand and I’ll take you there
Somehow,
Some day,
Somewhere!

Enquanto isso a gente vai levando, como diria o Chico.
O importante é não perder o rebolado. E começar agora.

Miragem

Hoje é aniversário do Miró?
O Google, pelo menos, tá mirótico.

Pontes

É a isto que quero dedicar minha vida: à construção de pontes. Me fazer ponte, ligar minha margem à outra dentro de mim; colocar pedrinha em cima de pedrinha enquanto vejo o outro lado sendo construído também, neste esforço de pedras e luzes a que se chama amor. Deslizar em pontes diariamente, tentando o equilíbrio fino e leve da vida e da consciência, tentar pontes de marfim, de granito, de cerâmica e de papel arroz. Pontes feitas com letras, com desenhos e com olhares, pontes curtas e extensas, silenciosas e cantadas. Olhar em frente, Apontar: estar ponte, o meio do caminho entre o desejo e o futuro. (Teca)

Ela não me deixa esquecer. Que bom.
São como palavras minhas que perdi pra reencontrar. Virá o tempo de semear.

Eggplant

Comentei que estou de dieta? Pois estou, não quero chegar no meu aniversário balofo. Daí que eu abri mão do pouco chocolate da Páscoa e me arrependi: devia tê-lo guardado pra depois. Fui ao mercado atrás da xepa. Nada! Nem um ovinho sequer! Tudo já havia sido recolhido. Esse povo é cruel, hein!

E eu fiquei a ver navios. “Ah, mas chocolate é chocolate, compra uma barra!”, diriam. Mas não é a mesma coisa. Eu queria mesmo é aquela sensação de ter ganhado (e dado) um ovo. É, eu sinto falta das pequenas (grandes) trocas.

Passarim quis pousar, não deu, voou

…E no entanto é preciso cantar
Mais que nunca é preciso cantar
É preciso cantar e olhar a cidade…

Andando pelas ruas do centro, nem me dei conta de ter adaptado a letra. Ato falho. Como outros tantos, como tantos outros. É que tenho me ocupado muito mais à abservação do que à ação, que eu já fiz demais. É preciso alegrar a cidade? Acho que é preciso alegrar-se, antes de mais nada. Ou melhor, é preciso aprumar-se.

Daí vem o horóscopo dizendo que a minha Vênus saçaricando por aí sugere um período de festividades, de lazer, de romances e de sexo; mas adverte: é uma fase naturalmente predisposta a paixões. E eu penso que há um senso de humor um tanto sarcástico por trás disso tudo. Twisted, isn’t it?

Quando foi que eu não estive predisposto a paixões? Nem lembro mais. A mim parece que elas sempre aqui estiveram. Mas existe uma diferença muito grande entre predisposição e disposição, a despeito da proximidade dos termos. Sempre apostei fielmente nos meus amores (amados ou amigos), mas apostei demais, com o tempo a gente aprende a esperar pra ver o desenrolar do jogo. Ou não.

Mas sim, é preciso cantar, é preciso estudar e é preciso crescer. É preciso erguer as asas e partir. Escutar o vento. Às portas do nascimento devia haver um aviso: “Viva, mas com moderação”. Ignorei completamente, pelo menos no que tange a esse impulso quase dolorido de sentir. E é como eu já disse, depois de Pessoa: “Navegar. É preciso viver, não é? Preciso.”