Que delícia! Ser acordado com um presente chegando via correio. :) A melhor coisa!
“Astrologia é analogia. E analogia é metáfora. E metáforas são verdades. Maneira de relacionar coisas com pessoas. Climas com jeitos. Bestas com gente. E assim, dizem alguns, conter o caos pra lá de irriquieto. Mas antes de aplacar o caos, a falta de sentido, estabelecer analogias é propiciar o belo (ou o próprio caos), bater uma bola com aquilo que nos fita, clicar sentidos de modo que as coisas ganhem outros significados ou percam aquele que não desgruda nem a paulada.”
Pelo simples prazer de olhar as coisas. Não querendo aplacar o caos.
Cada olho fotografa. Por isso, pra mim a cebola parece uma usina d’água. O ar guarda fantasma do cigarro. A nuvem tem forma de chão. E o fogo lembra o suor ou o estopim do mundo. O óbvio.”
Sempre tive muita curiosidade acerca de oráculos. Mantive meus ouvidos sempre atentos para a voz de uma possível sibila a me contar talvez segredos, talvez notas de um conhecimento invisível aos olhos. Curiosamente, sempre fui ritualisticamente rebelde, difícil de me enquadrar em seita ou conceito. E mais, se o horóscopo me dizia para levar um guarda-chuva, vestia regata. Profundamente apaixonado e argumentativo mantenho, na minha inerente teimosia, os dois pés no chão e a cabeça nas nuvens — coerentemente, um taurino (asc.: sagitário; lua: câncer) descrito.
Há pouco tempo, no entanto, comecei a virar meus ouvidos para mim, em vários níveis. Ouvir-me, mais do que falar a mim, veio como um processo cheio de vivências e pontuado por pessoas das mais queridas. Contato, interior, auto-conhecimento para que sejam possíveis (melhor) contato, exterior, conhecimento.
Ela virou meus olhos para a astrologia como um princípio estatístico, desmistificado, crível. Aqui tenho encontrado personalidade no assunto. No presente — e no dado momento — folheio por belas páginas que procuram “aproximar as linguagens da Astrologia com a da cultura pop”. Adorei o presente.
Há um porém:
“Faltou apenas falar do outro lado deste signo, o da psicologia da amante que bate e faz suar os taurinos. Mas vou deixar você com água na boca, mordendo o lábio, porque essa história a gente conta outro dia. Quando a noite deitar sobre a lua.” (A ciranda zodiacal — Touro, p. 19)
Como alguém, em sã consciência, tem coragem de fazer isso com a curiosidade de um taurino?! Seria o sadismo uma das faces ocultas de todo bom virginiano? ;)