É a Rita quem (me) diz

Agora Só Falta Você
(Rita Lee / Luiz Sérgio)

Um belo dia resolvi mudar
E fazer tudo o que eu queria fazer
Me libertei daquela vida vulgar
Que eu levava estando junto a você
E em tudo que eu faço
Existe um porquê
Eu sei que eu nasci
Sei que eu nasci prá saber
Prá saber o quê
E fui andando sem pensar em mudar
E sem ligar pro que me aconteceu
Um belo dia vou lhe telefonar
Prá dizer que aquele sonho cresceu
No ar que eu respiro
Eu sinto prazer
De ser quem eu sou
De estar onde estou
Agora só falta você!
Agora só falta você!
Agora só falta…

Lindona passou aqui pelo meu cangote me ameçando. Avisou que se eu não disser que tô beijando na boca ela vai contar por aí que eu tô “na esbórnia”. E como se não bastasse a mãe ainda tem a filha, do mesmo quilate — essa mulherada não é mole! Se eu esbornear o tanto que a torcida clama, rapaz, tô feito! :D

Mas eu sempre preferi fazer do que falar… ui!

É doce morrer no mar

É muito fácil cair no encanto de (im)possibilidades que corre pelas águas desta cidade. Luz de olhos a sorrir — ou não — e a dançar que é, de fato, o mesmo feitiço auto-imposto e latente de uma vontade que eu trago e saboreio; é na minha calda de limão azeda e doce com um quê final de amargo que ora eu me traduzo. Mas se o dia deixa um travo no fundo da língua da noite, na luz do sol toda essa névoa se dissipa e traz a vida sua qualidade mais sutil e necessária de amar-se antes e acima do encanto outro; é ser narciso sem contudo ser alheio.

O barco que navega à noite acredita apenas na água que o cerca, pois tem no recife distante tanto o brilho do farol certo quanto o canto de sereia traiçoeiro. Seguir os passos do desejo é uma escolha nem sempre consciente, mas há de se saber os ciclos da própria maré se o que deseja é lançar-se do porto.

Otto, o gato

(ou, o amo e senhor todo poderoso deste lar)

A quem interessar possa, o gato mais genioso, chantagista, tímido, desconfiado e calado que eu já vi conversa comigo, fica no meu colo, aceita cafuné, me cheira e fica me observando através daqueles olhões cor de mel no meio da cara peluda e amassada. Te mete! ;)

Instantâneos solares

Dia 20, terça-feira, foi dia de São Sebastião, padroeiro da cidade maravilhosa. Também foi dia das boates gays daqui arrumarem encrenca com a diocese. Imaginem vocês uma leva de go-go boys todos rebolando com aquela fraldinha e marcas à guisa de São Sebastião flechado — e eu nem fui nas festas. Ninguém mandou a santa ser padreoeiro também da bicharada. Nessa cidade, muito apropriado…

Mas dia 20 foi aniversário da minha mãezinha, o que já é outra história. O primeiro em uma vida que eu passo distante. Obrigado, Graham Bell. Que a véia tenha ainda muitas rodas de samba pela frente! Amém!

Quatro dias ininterruptos de sol e tudo vai bem. Não fosse o sotaque carioquêish e eu pensaria que tô no nordeste. Mas parece que lá tá chovendo, não? Uma tal de frente fria. Aqui não tem frente fria, não. Nem na frente, nem atrás, tá tudo q… deixa prá lá.

E Ipanema decididamente é um espetáculo à parte. Aquele Posto 9 e sua famigerada R. Farme de Amoedo deixam a Augusta no chinelo. Vários meninos do Rio e várias garotas de Ipanema. E também, por que não, várias meninas do Rio e vários garotos de Ipanema. Gradação aí­ no meio é o que não falta! “Eu rogo prá Deus proteger-te”, já dizia Caetano, porque a gente vê que eu mesmo não vou proteger é ninguém, muito, mas muito pelo contrário mesmo! Onrron!

E o que eram aqueles dois, negão e neguinha, ambos de piercings nos mamilos, combinando? É, os quatro mamilos à mostra, assim, bem entendido — será que ela já ouviu falar da prolactina? E o neguinho… neguinha… — tanto faz! — de sunga fio dental vermelha com babadinho e piercing de brilhantes no umbigo? Sensacional! Aquilo não é nem sui generis mais. Sei lá, prá quê definir?

E depois de uma semana no Leblon quedo-me aqui em Copacabana. Eu mais a Princesona do Mar. Tudo de bom ponto com. Tava morrendo de saudade daquela risada. :)

Prá inglês ver

Três dias seguidos de sol e brisa??? Sei não, acho que errei de cidade. Tem certeza de que aqui é o Rio? :P

Saindo à francesa

Saí. Parti quase sem dizer tchau. Já tô com saudade de uns, ainda de outros e continuo precisando conversar seriamente com um ou dois amigos — não que eu não tenho tentado. Em todo caso, não vou entupir o DDD alheio com minhas pendências. E por falar em pendências, São Paulo ficou lá longe, anteontem. Três dias tentando colocar a casa em ordem e o melhor que eu fiz foi enfiar o maior número de camisetas coloridas possível na mochila e picar a mula — as pendências, ora, não vão a lugar nenhum.

E eis que da noite fez-se o dia e o Rio de Janeiro se fez multiplamente presente por todos os lados. Um Rio impossível, com seus taxistas insuportáveis e seus motoristas de ônibus incontroláveis. Um Rio abusurdo, com seus celulares à beira da sunga, seus pseudo-atletas de camiseta polo — diacho, isso não era coisa de paulishta? —, seus gringos de um vermelho-beterraba que dói na gente só de olhar, seus postos da praia que agora cobram R$ 1,00 a chuveirada — pô, cumpadi, sacanagem aê! Um Rio inconstante, com suas manhãs de sol, suas tardes molhadas e maré virada. Um Rio de beleza praiana, com seus corpos esculpidos ao sol, malhados e brilhantes de suor. Um Rio querido, de amigos saudosos e sumidos. Um mesmo Rio de todos os dias, acredito, àqueles que não vêem o que eu vejo, mas que não são os meus e, portanto, um Rio encantado, cheio de Tom.

Aprendo a dizê-lo meu e abraço, beijo, toco-lhe os dedos com um anel de lua e estrela, observo seus morros a sustentar-lhe os céus da minha janela de olhos aberta, sem gelosia. Acenda o refletor, apure o tamborim, aqui é o meu lugar, eu vim.

E você que é do Rio, você com quem vez ou outra eu converso, que tal mandar um e-mail para cantato, deixar um bilhete, um recado num pedaço de guardanapo prá gente se conhecer além desse traço incompleto e cibernético?

A.cor.dar

Não lembro quando foi que eu recebi um e-mail que brincava com a origem da palavra “acordar”. Separando suas sílabas, o texto defendia que a-cor-dar significava dar de coração, ou colocar o coração naquilo que se faz, sê-lo inteiro. Apesar do formato e-mail-auto-ajuda-corrente-cuti-cuti-gracinha que — não minto — me dá nos nervos, prá não dizer no saco, gostei da idéia.

Mas tem um porém. Dar-se, dar-ser mesmo, de coração, inteiramente, só é verdadeiro quando não esperamos nada em troca. Nada mesmo além de, talvez, um obrigado. E eu não estou falando de favores, de presentes, de atenção. Não, é muito maior, é dar-se ao mundo, à vida e aos seus tapas ciente — consciente e inconscientemente — de que o único reconhecimento de que você precisa é o que você já tem e vai encontrar em você mesmo. Amor próprio? Hoje eu tiraria até o amor da brincadeira. É só o próprio e é difícil prá caralho. Mas eu chego lá.

Quando 2002 acabou eu saí de férias e por vontade fui viajar prá ficar sozinho. Visitar amigos, sim, mas percorrer as ruas de ourta cidade, olhando rostos, acompanhando passos desconhecidos, seguindo a vida de lado. Conversa. Meus pés andaram o meu caminho, mas, depois de tanto tempo, sem que eu os controlasse, sem que eu tivesse conta.

Já faz um ano e eu continuo acordando, aprendendo a despertar sem força. Não que eu não tente, pois é da minha natureza querer que o sonho obedeça ao meu comando. Ele, no entanto, meu inconsciente, é mais teimoso do que eu e resiste bravamente às rédeas. E diz: “Basta! Agora chega! Agora você escuta e eu falo.” E eu sonho até que enfim, não com histórias, mas com caminhos e respostas que nem sempre entendo. Sonho com pequeninas chaves e imensas portas. E me sinto um grande idiota porque a porta enorme e colossal que eu esmurrava e à qual bradava e pedia entrada tinha sua chave logo ali sob o capacho. Acabou 2003 e eu tropecei no capacho. Achei a chave — muito menor do que eu imaginava —, estou abrindo a porta aliviado — não sei dizer que tamanho ela tem. Dou a mão ao sonho e entro tranqüilo no escuro — e viajo outra vez. Vou acordar quando for a hora.

Tem sempre algo no dial

Devotion
(Tracy Chapman)

If I am right
If I can be
Constant and faithful
You’ll find me

In my devotion
In my devotion

What if you find a fault
Between my purpose and my deeds
And deem me beyond salvation
Judge me to be unworthy

Of your devotion
Of your devotion

If this be obsession deliver me
A passing infatuation deliver me
A feeling lacking in purity deliver me
A test of fidelity deliver me
Deliver me
Deliver me

What if I should find
You’re no good for me
What if I can’t be strong enough
What if I can’t break free

Of my devotion
Of my devotion

A boa e velha auto-defesa

Não, não é impressão sua, eu não lido muito bem com rejeição, embora esse não seja exatamente o ponto. Eu lido muito bem com quem não liga a mínima prá mim — aí, não faz diferença, entende? O que me incomoda é a proximidade ausente, displicente. Mas que direito eu tenho além de ser apenas quem eu sou, de sentir apenas o que eu sinto?

Nem tanto a mim, nem tanto aos outros. Não consigo escrever exatamente o que sinto — apenas sinto —, somente o que eu penso. Ah, e como eu penso. Penso demais, eu sei! Será que existe o meio termo que não aperta o laço, nem desvia o passo? Estou tentando apreder a não prender e a não ser prendido, mas ainda assim é como ser um pouco leviano.

Tristesse

Vamos lá, um título melodramático. Mas eu sou dado a um melodrama, todo mundo sabe disso. No entanto, todo mundo sabe — ou deveria saber, pelo menos aquele círculo mais próximo — que a minha intensidade não é pequena e que eu cuido, me preocupo e faço questão de exercitar o meu carinho pelos meus íntimos. Mas eu não suporto ser esquecido.

Tiro a roupa do meu corpo, mudo meus horários, cedo a própria cama a um amigo — não um conhecido, um colega, mas aquele a quem você confia a própria vida — porque eu dou muito valor, valor demais, percebo, à proximidade de quem me é caro. E erro, violentamente, achando que a recíproca — qualitativamente, nem quantitativamente — seja verdadeira.

Pois bem… eu não fiz promessas de Ano Novo, nem vou fazê-las, mas tem algo que mudou essencialmente em mim e a dor do aprendizado é grande demais para que eu o esqueça: eu só estou aqui prá quem merece. Ponto. Não interessa o quanto você gosta de mim, o quanto você me ama, o quanto a gente se conhece, se você não tem competência prá demonstrar isso, então, foda-se. Com todas as letras, F O D A – S E. Te amo, te quero muito, muitíssimo bem, isso não muda, mas se vira porque ninguém se virou por mim e eu não vou me virar por você. Só eu sei o quanto me dói uma postura dessas e ela vai completamente contra a minha natureza, mas a quantidade de energia que eu já desprendi por gente que, na prática, cagou prá isso dava prá iluminar um estádio. E prá quê? Prá ouvir um “ai, desculpa”, um “mas eu achei”, um “nem imaginei”? Pois é. O problema é que eu penso, eu lembro, eu imagino. Quer dizer, imaginava e, portanto, o erro é meu. Corrijo-o, pois, dizendo que acabou. Acostumou? Desacostume. Existe apenas uma coisa que supera a minha disposição, a minha disponibilidade, acho eu, e é a minha capacidade de me virar ao meu extremo e egoísta oposto. Quero ver quem tem culhões de contestar o que é, ao fim e ao cabo, minha auto-preservação. Acabou, entendeu? E eu estou muito bem assim, obrigado.

Espadinhas de Iansã

Menina! Mas não é que eu passei por um vaso ainda essa semana e lembrei de você? Providenciarei, providenciarei… (a coisa já tá tão manjada que ela nem espera, já vai pedindo)

Um instante, Maestro!

Qual é a música?

“…Quem te inventou, meu pancadão
Teve uma consagração
A lua te invejando fez careta
Porque, mulata, tu não és deste planeta…”

Você certamente conhece essa música, mas provavelmente não esta estrofe. Quem falou O teu cabelo não nega, de Lamartine Babo e irmãos Valença, acertou. Isso porque a única parte que os bailes de carnaval se dignam a tocar é o estribilho, infelizmente.

O que é capaz que você também não saiba é que Lamartine Babo nasceu no dia 10 de janeiro de 1904, no Rio de Janeiro, Tijuca — mesmo ano da fundação do seu time favorito, o América — e foi um dos compositores mais versáteis de sua época. Começou a compor aos 14 anos — lá pelos idos de vovó menina — com uma valsa. Compôs também operetas e, quando no Colégio São Bento, dedicou-se a músicas religiosas. É ele o autor de vários dos hinos dos grandes times do futebol brasileiro, mas foi como O Rei do Carnaval que ficou conhecido, graças às suas marchinhas divertidas e bem humoradas — assim como ele próprio, irreverente. Seu amigo e parceiro João de Barro, o popular Braguinha, disse certa vez: “Costumo dividir o carnaval em duas fases: antes e depois de Lamartine”. Compositor de belas canções como No rancho fundo — não! não é de Chitãozinho e Xororó! —, Eu sonhei que estavas tão linda e Serra da Boa Esperança, Lamartine de Azeredo Babo faleceu no dia 16 de junho 1963, no Rio, e estaria completando 100 anos no sábado.

Mas o que você não tem nem idéia é que eu, a mulatacof! cof! cof! — e mais duas pessoas faríamos uma pequena participação cantando em flashes durante o programa Metrópolis, da TV Cultura, amanhã, se a equipe de gravação não nos tivesse deixado esperando por uma hora, se não tivesse chovido e se a produção — seja lá quem for — tivesse se lembrado de *pedir* a porra da autorização para filmar no vão do MASP. Certamente, Lalá faria deboche. É de lascar…

Minha vida é uma grande novela

(ou, alguém tira esse roteiro da mão do Manuel Carlos, pelamordedeus!)

Vai vendo. Primeiro Capítulo. Protagonista conhece — vamos dar um desconto pro termo, ok? — Fulano na internet através de um famoso site de encontros. A conversa começa como quem não quer nada, sorrisos se abrem, lisonjas são trocadas, algumas semelhanças, perguntas, respostas e aquela sesanção de que não importa quanto os anos andem, você sempre tem um pézinho na adolescência. Telefones são anotados. Mas como Fulano tem um compromisso tudo fica para um próximo capítulo. Nas últimas cenas, Fulano apresenta Sicrano, seu irmão um pouco mais novo e sorri abertamente ao ouvir que beleza pode até ser um mal de família, mas que ele é mais bonito.

Os dias passam. Nosso herói telefona, mas ninguém atende. A novela continua enquanto goza de bom ibope.

Alguns dias depois os caminhos novamente se cruzam, mas dessa vez com Sicrano, o irmão mais novo, que se mostra ainda mais comunicativo e demonstra que, além de bonitos, os irmãos têm as mesmas predileções, elevando em alguns anos a classificação etária da novela. Nosso herói que se vê em situação delicada se vira como pode e pergunta por Fulano, mas Sicrano não se mostra muito interessado no irmão. O telefone é inútil.

No capítulo seguinte nosso herói novamente encontra com Fulano que, num acesso de ciúmes se recusa a conversar e diz, magoado, que o protagonista prefere seu irmão. Inúteis são os apelos — hein? — do paladino que afirma o contrário e evoca as cenas do primeiro capítulo em seu testemunho. Fulano não o ouve…

Corta! O galã pede demissão, chuta o roteirista, rasga o seu contrato e muda de profissão. Rindo. Ah, qualé? É que a temática é muito mais apropriada a um seriado gay mais ou menos realista, mas eu diria tranqüilamente que por uma traquinagem do espaço-tempo meus dias incorreram em alguma dimensão paralela muito parecida com o Vale a Pena Ver de Novo. De tanta graça que isso tem, não tem nenhuma. Não fossem as pessoas maravilhosas que eu já conheci por essa via eu diria que aqui só tem maluco!

Pensando bem…

O mesmo bat-horário, no mesmo bat-céu

Será que toda terça-feira agora é dia de arco-í­ris redondo? É, que nem foi semana passada! E você nem olhou pro céu? tsc, tsc, tsc…

E aí, barbudo? Isso é mesmo uma promessa?

circuladô de fulô ao deus ao demodará que deus te guie
porque eu não posso guiá eviva quem já me deu
circuladô de fulô e ainda quem falta me dá

Quase nenhuma vontade de escrever. As palavras batem asas dentro da minha cabeça, mas nenhum assunto parece digno de nota. Ou isso ou a preguiça de alinhar o pensamento beira a hibernação. Os (re)encontros parecem próprios às pessoas e não ao blog. O espírito crítico antecipou a viagem de férias, bateu asas e voou. Sinto-me muito mais interessante que estas parcas linhas, então por que escrevê-las?

Permanecer — a palavra é muito mais apropriada que simplesmente “ficar” — sozinho nos feriados de fim de ano deve ser um arte de origem monacal. Eu, sinceramente, espero não adquirir experiência suficiente para aprendê-la.

Você voltou, já não era sem tempo! Sua casa já era a minha, mas não era a mesma sem você. Te amo muito, muito, muito mesmo.

Você está ótimo, brigadeiro! No ponto, eu diria. O recheio está tão feliz quanto o granulado e o sorriso confeiteiro? Tomara que sim.

E essas luzes, Estrela D’Alva? Roubou da terra dos homens que falam com biquinho? Abalou Paris, não foi? Aprender a voar é um pulinho.

Como tentar falar sem sucesso com pessoas me cansa. Melhor evitar a fadiga. Mentalizo tudo de bom e seja o que deus quiser.

Decididamente, essa história de publicar colchas de retalhos não há de virar um hábito. Já me bastam meu pensamento em mosaico, minha imaginação febril e meus hormônios superlativos.

E estes títulos estróficos, então? Já me vejo atacando decassilabicamente: As armas e os barões assinalados… E era uma vez a síntese.

E a você, meu grande amor desconhecido e não-linkado, devo dizer que então tá combinado é quase nada, é tudo somente sexo e amizade. Enquanto você brinca de esconde-esconde eu brinco de verdade. E se você me encontrar por aí, dê sinal, deixe um cartão — em formato de beijo, com cheiro de flor — prá quando o carnaval chegar. De nada adianta meus olhos de lince e minha mira dos diabos se esta indiscutível vocação prá encrenca torna todos os gatos no lodo da noite extremamente pardos — no Rio, então, suspeito indiferençável seus gatos, suas lebres e seus lobos em pele de cordeiro. Eu não vou desabrochar nenhuma flor-de-lótus na marra que ninguém merece, muito menos eu.

É verão.

Esperança furta-cor

As Estrelas
(Pablo Neruda)

Dali, dali, assinalou o sineiro,
a multidão viu para esse lado
o de sempre, o noturno azul do Chile,
uma palpitação de estrelas pálidas.

Vieram mais, os que não haviam nunca visto
até agora o que sustinha o céu
cada dia e cada noite,
e outros mais, outros mais, mais surpreendidos,
e todos perguntavam, onde, aonde?

E o sineiro, com grave paciência
indicava a noite com estrelas,
a mesma noite de todas as noites.

Segundo o Velho Testamento — me disse a mulher do ônibus —, após o dilúvio, Deus prometeu a Noé que nunca mais o mundo seria destruído daquela forma e, como símbolo de sua aliança com a humanidade, criou o arco-íris. O que em sua simplicidade poderia ser descrito como um fenômeno meteorológico — o desabrochar da luz em sete cores contínuas, liberadas pelas gotículas d’água ou cristais de gelo em suspensão na atmosfera — é, mais que tudo, símbolo de sorte, esperança e fortuna a muitos olhos.

Mas há que se tirar os olhos do chão.

© Beth Viveiros (http://fotolog.net/faerie/)Hoje, em São Paulo, quem se atreveu a elevar sua visão e encarou um sol a pino, muito acima das nuvens, foi presenteado por um céu coroado de sete cores. Um halo — disseram os jornais — que por mais de duas horas circunscreveu o astro-rei. Um disco de luz furta-cor.

Lá onde o vento sopra sempre gelado eu vi a promessa de uma reconciliação. Do quê, com quem, não sei. Talvez com o Tempo, um dos deuses mais lindos.

Creio que, como o arco da aliança que se fechou em torno do sol, também um ciclo tenha se fechado e que 2004 seja a promessa de mudança. Para melhor. E espero que mais pessoas pensem assim. O dilúvio acabou.

Pelo sim e pelo não, em 2004, olhe para o céu!

Obrigado, violinos, por este dia
de quatro cordas.
É puro o som do céu,
a voz azul do ar.

(Vários Nerudas. Leiam-me.)

O dia não é hora por hora,
é dor por dor,
o tempo não se dobra,
não se gasta,
mar, diz o mar,
sem trégua,
terra, diz a terra,
o homem espera.
E só
seu sino
está ali entre os outros
guardando em seu vazio
um silêncio implacável
que se repartirá
quando levante sua língua de metal
onda após onda.

De tantas coisas que tive,
andando de joelhos pelo mundo,
aqui, despido,
não tenho mais que o duro meio-dia
do mar, e um sino.

Eles me dão sua voz para sofrer
e sua advertência para deter-me.
Isso acontece para todo o mundo,
continua o espaço.

E vive o mar.

Existem os sinos.

Chove sobre a areia,
sobre o teto
o tema da chuva,
os largos eles da chuva lenta
caem sobre as páginas
de meu amor sempiterno,
o sal de cada dia,
regressa chuva a teu ninho anterior,
volta com tuas agulhas ao passado,
hoje quero o espaço branco,
o tempo de papel para um ramo
de roseira verde e rosas douradas,
algo da infinita primavera
que hoje esperava,
quando voltou a chuva
a tocar tristemente
a janela,
depois a dançar
com fúria desmedida
sobre meu coração e sobre o teto,
reclamando
seu lugar,
pedindo-me um cálice
para enchê-lo uma vez mais de agulhas,
de tempo transparente,
de lágrimas.

Este sino roto
quer ainda cantar,
o metal agora é verde,
o sino tem a cor da selva,
cor da água de poça de bosque,
cor do dia nas folhas.

O bronze roto e verde,
o sino de bruços
e dormido
foi enredado pelas enredadeiras
e a cor de ouro duro do bronze
passou à cor da rã,
foram as mãos da água,
a umidade da costa
que deu verdura ao metal,
ternura ao sino.

Este sino roto
arrastado no brusco matagal
do meu jardim selvagem,
sino verde, ferido,
funde suas cicatrizes na erva,
não chama a mais ninguém,
não congrega
junto a sua copa verde
mais que uma borboleta que palpita
sobre o metal caído e voa
fugindo com asas amarelas.

Quero saber se você vem comigo
a não andar e não falar,
quero saber se ao fim alcançaremos
a incomunicação; por fim
ir com alguém a ver o ar puro,
a luz listrada do mar de cada dia
ou um objeto terrestre
e não ter nada que trocar
por fim, não introduzir mercadorias
como o faziam os colonizadores
trocando baralhinhos por silêncio.
Pago eu aqui por teu silêncio.
De acordo, eu te dou o meu
com uma condição: não nos compreender.

Não um caso doentio,
nem a ausência de grandeza, não,
nada pode matar o melhor de nós,
a bondade, sim senhor, que padecemos:
— bela é a flor do homem, sua conduta
e cada porta é a bela verdade
e não a sussurante aleivosia.

Sempre ganhei, por ter sido melhor,
melhor que eu, melhor do que fui,
a condecoração mais taciturna:
— recuperar aquela pétala perdida
de minha melancolia hereditária
— buscar mais uma vez a luz que canta
dentro de mim, a luz inapelável.

Se cada dia cai
dentro de cada noite,
há um poço
onde a claridade está presa.

Há que sentar-se na beira
do poço da sombra
e pescar luz caída
com paciência.

Aí está o mar? Muito bem, que passe.
Dá-me o grande sino, o de fenda verde.
Não esse não é, o outro, o que tem
na boca de bronze uma ruptura,
e agora, nada mais, quero estar só
com o mar principal e o sino.
Não quero falar por um largo tempo,
silêncio, quero aprender ainda,
quero saber se existo.

Vim aqui para contar os sinos
que vivem no mar,
que soam no mar,
dentro do mar.

Por isso vivo aqui.

(Últimos Poemas (O Mar e os Sinos), Pablo Neruda)

O saco do barbudo — highlights

Quem não se lembra do saudoso Traço Mágico que a finada Brinquedos Rei fabricava — sob licença da Ohio Art — há, sei lá, uns vinte anos? O cidadão que inventou essa moda certamente ficou rico. Pois o tal brinquedo não só ainda existe lá fora como eu tenho uma prima em Nova Iorque capaz de me mandar um dos vários modelos de presente de Natal. Prá viagem! Aqui tá dizendo “Ages 4 & Up”, então tá valendo! A criança grande agradece saltitante! :D

O ouvido se deleita ao som de Olivia Byington e o seu Canção do Amor Demais. A prova de que sopranos levinhas também podem cantar MPB, é só saber fazer. Arranjos de um bom gosto impressionante e uma afinação surpreendente. Biscoito Fino, claro!

Um quadrinho azul e um ideograma — “vitória” — prá reforçar a cabeceira.

Sachês artesanais de lavanda feitos-pela-minha-tia para perfumar as vestes e encantar meu sono.

O último Harry Potter que, digam o que quiserem sobre o texto, sim, eu sei que tem muita litaretura infanto-juvenil superior em vários aspectos — eu li Monteiro Lobato, O Gênio do Crime, entre outros —, mexe com a minha imaginação infantil.

Os brinquedos vão na bagagem e é assim que eu embarco prá 2004 logo mais.

E Deus disse:
— Fiat UTF-8!
E o caracter se fez.

Se não pode vencê-lo, engana-o! Pronto. O servidor agora tá mandando o seu navegador escolher a codificação certa — a culpa é dos cabeçalhos de data, cuspam neles, cuspam neles! — não interessa o que ele ache do assunto. Ainda tenho que lidar com o bug do Movable Type cá deste lado — humpf! —, mas pelo menos vocês podem ler novamente o fruto de minha idiossincrasia sem o auxílio da inspiração divina. Voilà!

Ho! Ho! Ho!

Astral bom para o taurino que pode contar hoje com um clima ameno, confiável, sensual. Muitas luzes para iluminar seu canto, seu coração e sua paz, que pode ser distribuída generosamente entre os que perderam o caminho. É o mito do Sol invicto que retorna, eterno, reiniciando a vida de novo. (Folha)

Diz aí se isso não é um horóscopo natalino? :)

E este ano eu não tenho nenhuma mensagem inspirada, talvez porque 2003 tenha sido um ano de conquistas interiores. Inspiração na melhor acepção da palavra. Foi um ano prá aprender a cuidar de mim. Um ano difícil em muitos sentidos, mas um ano caminhado. Se antes eu já sabia o que eu queria, hoje eu sei mais. Se hoje ainda não sei exatamente como querer, pelo menos já sei muito de como não querer. Hoje eu sei melhor e é isso o que importa, afinal, para o ano que vem. Carrego a sensação de força construída em certezas, em passos aprendidos, não fabricada em torno de inseguranças. Saio de 2003 feliz e agradecendo primeiro a mim porque eu fiz por merecer. Depois, a quem esteve ao meu lado, mesmo sem eu pedir, e mais ainda àqueles que me são amados e irmãos — e sabem eles quem são, pois faço sempre questão de dizer pessoalmente.

E se há algo em mim prá dar é minha luz que dou, mas não mais do que o pouco que de mim se desprende, nem menos do que o que em mim não faz falta — a medida do equilíbrio —, mais o desejo de um porvir melhor “e o peito cheio de arte a todos aqueles de boa vontade”. Que 2004 seja um ano iluminado.

Amém! Shalom! Saravá! Namastê!

Arremedos de Don Juan

É triste, mas o mundo da sedução vai de mal a pior. Muito, na minha opinião. Deu de eu conferir as cantadas enviadas a um concurso promovido por uma empresa de telefonia celular com ares de descolada — por sinal, essa mania de mostrar gente descolada fazendo bico em campanha tá começando a dar no meu saco.

A curiosidade matou o gato, mas dessa vez foi de desgosto. Rapaz, eu temeria pela minha vida se usasse a grande, avassaladora maioria das cantadas que, pasmem, foram pre-mi-a-das! Por exemplo, como você reagiria se fosse abordado criativamente — ai! — com algo como “Cerveja..R$2Caipirinha..R$5 Entrada para a boate..R$25 Ficar com você ….NÃO TEM PREÇO!!!”? Pior, essa: “Se meu motor deslizasse nestas curvas. Gata, seria um shumarcher so para te segurar no braco.” Coitado, derrapou feio na curva.

Mas nem tudo é desilusão. Se alguém ainda tem humor e aquela falsa mas cativante modéstia prá chegar dizendo “O que uma garota legal como voce está fazendo em uma mente suja como a minha?” é porque ainda há esperanças na humanidade.

De minha parte, nem posso reclamar. Não é no celular que minha vida corre e, vez ou outra, numa madrugada baladeira, ainda há — com sorte — quem me chegue com olhos brilhantes e sinceros dizendo, simplesmente: “sabia que você tem um sorriso lindo?”. Aí é que eu sorrio mais ainda. :)

Metropolitano

Eu odeio o teu trânsito, São Paulo.
Mas adoro teus arranha-céus de vidro vestidos de céu.

O Pinóquio dos sete mares

Lendo alguns dos contos das Mil e Uma Noites, narrados pelo Carlos Heitor Cony, é que me dei conta: Sindbá, o marujo, deve ser o pai de todas as histórias de pescadores — apesar dele ser comerciante —, o fundador de toda uma tradição.

Sim, porque eu tô prá ver criatura mais loroteira do que esse aí. O bichinho nunca morreu no mar deve ser por causa do nariz de madeira que boiava. Rapaz, quanta cascata! :P

Magneto

Correndo, caminhando no Ibirapuera com a minha melhor versão blasé. Óculos escuros. Camiseta Hering. Olhando prá frente. Na minha. Absolutamente tranqüilo e na minha. Juro! Ponto. Pois o cidadão veio sei lá de onde puxar papo. Ok. Claro que ele era virginiano. Claro que ele tinha 19 anos. Claro que ele era interessante… Claro que ele tinha problemas e mais claro ainda que ele não disse, mas depois de marejar os olhos, nem precisava — como é que um virginiano encouraçado como aquele, que nem me conhece, chora na minha frente, explica?

Tá, eu fico feliz e me envaideço, sim, em saber que, se o fulano não saiu de lá melhor ou aliviado, pelo menos saiu com novos ares — e eu, aí sim, saí correndo, rapidinho! —, mas, poxa, alguém pelamordedeus me explica essa atração fatal. Eu NÃO preciso desse tipo de encosto, mas mesmo quando não procuro eles me acham! — tô fugindo, ligeirinho…

Tem mais algum taurino no recinto que padece desse mesmo distúrbio ou sou só eu?

A.A. — Ai-meu-deus-alguém-me-ajude Anônimos

Ouçam o apelo desesperado desta ovelha desgarrada! Estou descontrolado! Meus reais não mais me pertencem! Compadeçam-se do meu triste martírio e, quiçá, eu encontre a luz — ou pelo menos não encontre o fundo do bolso.

Mas mais do que tudo, para o meu próprio bem, se alguém me vir parado sobre a calçada da Neto Discos — aquele antro abominável de perdição a R$6,00 — que me lance sem dó nem piedade sob o primeiro elétrico que estiver subindo a Augusta! Já tenho mais horas de óperas prá assistir do que o Ministério da Saúde considera salutar.

Eu faço graça — eu faço é drama, sou bom nisso —, mas o sorriso vai de uma orelha à outra. :-D Nunca meu dinheiro rendeu tanto! O que é de gosto é regalo da vida, já dizia minha mãe, e esse ano eu consegui me organizar prá quitar minhas dívidas, comprei algumas das coisas de que mais precisava e outras prá me fazer feliz, da melhor maneira possível. Em suma, eu mereço cada mimo.

E agora deu! A próxima extravagância só daqui a um mês, à beira da praia, respirando aquela bossa-nova que faz parte da brisa daquele lugar. Sabe? Aquele da “coisa mais linda que vem e que passa”? Daquele “calor que provoca arrepio”? Ah, Dindi…

Ó, raios!

Putaria à lusitana soa tão douta a estes ouvidos brasis. Mas, valha, eu já vi uma porção razoável de blogs de cunho punhetesco, só que nenhum com uma audiência tão… hm… grande. O povo não cansa de meter-lhe — epa! — comentários. Não sem mérito.

Um pirulito grande e rosado a quem adivinhar de quem foi a dica. ;P

O que não tem remédio, remediado está

Já dizia a minha, a sua mãe, a avó do outro, enfim. O fato que é esse blog padece de um bug agudo. Só posso lamentar. Enquanto o povo do Movable Type não resolve essa porra ficamos assim: eu escrevo, ele fode. Ou não, eu largo de escrever e vou pintar aquarelas na parede. E enquanto todas as coisas a serem ditas permanecem indizí­veis — verdes e invisí­veis — saboreio mais um momento, uma fatia de segredo. Porque cada minuto é um passo. Não sou um livro. Não sou um retrato. Sou o desejo intraduzí­vel intraduzido atrás do bordado de uma camisa de linho branco que observa o mundo entre a trama de ser e estar. E fazer.

E se você está vendo caracteres aliení­genas, no Internet Explo[rer|der], vá no menu Exibir -> Codificação e selecione Unicode (UTF-8) — no Netscape não lembro, se vira que tu não é quadrado. :P

Perdido

Hoje. A última, derradeira e anacrônica aula.
Não tem viv’alma nessa porra de instituto. :-\

Mais tarde. Sumiço. Alforria praiana. :-D Anda, relógio! Anda!

Quem sou eu? Onde estou? Tudo é tão estranho…

Tá se sentindo deslocado? Déjà vu? Falha na Matriz? Não, sou eu de mudança do Typepad de volta pro bom e velho (e lento) servidor meu. Porque acabou o perí­odo gratuito, sabe? Acabou a mamata. E se for prá pagar, prefiro pagar uma hospedagem onde eu posso escovar cada bit do meu domí­nio. Mas o serviço é de primeira e eu recomendo.

Enquanto isso eu me debato aqui com essa porra que ainda não percebeu que os 2595 posts — agora 2596 — e 3223 comentários estão em unicode (utf-8) e não em iso-8859-1. Meuszóvo! Já não me bastassem as milhares de lí­nguas no mundo ainda foram inventar mais umas tantas maneiras de colocá-las em letrinhas?

Eu mereço

Eu não sei por que cargas d’água insistem em me desejar que eu crie juízo. Particularmente, sou da opinião de que se eu criar mais juízo acabo virando padre, e padres comem criancinhas. Isso dá cadeia!

Eu desejo que criem sorrisos. Vários. É mais fácil. :D

O trenó à frente das renas

Só prá eu pagar a minha língua — Fer e Zel, já podem atirar suas pedras :P —, passei pela Neto Discos, a saber, a mina de ouro da Augusta, e comprei nada mais, nada menos que CINCO DVDs de ópera numa tacada só. O montante? 30 “reaus”. Só. Seis cada. Devia ter levado mais uns três. Acho que vou voltar lá. Socorro!

No (meu) saco de Papai Noel, algumas preciosidades:

Tristão e Isolda, de Richard Wagner. Com Birgit Nilsson, Jon Vickers e Ruth Hesse, Theatre Antique D’Orange (França), regência de Karl Böhm. 1973. Só mitos em gravação histórica.
Adriana Lecouvreur, de Francesco Cilèa. Com Mirella Freni no papel principal, Orquestra do Teatro Alla Scalla de Milão, regência de Gianandrea Gavazzeni. 1989. Não conheço o regente, mas quem não conhece o Alla Scalla e melhor, quem não conhece Mirella Freni?
Sansão e Dalila, de Camille Saint-Saëns. Com Placido Domingo, Shirley Verret e Wolfgang Brendel, coral e orquestra da San Francisco Opera e regência de Julius Rudel. Cadê a data? Se Shirley Verret fizer Dalila tão bem quanto fez Carmen, valei-me deus!
Don Carlo, de Giuseppe Verdi. Com Placido Domingo, Mirella Freni e Luis Quilico, The Metropolitan Opera, regência de James Levine. 1983. Pois é… prá você ver, seis reais!
Semiramide, de Gioacchino Rossini. Com June Anderson, Marilyn Horne, Stanford Olsen e Samuel Ramey, The Metropolitan Opera e regência de James Conlon. 1990. Esta é uma das infelizmente pouco produzidas óperas sérias de Rossini. Não sou grande fã da June Anderson, prá ser bem sincero, mas quem liga? Ainda tenho os bárbaros Marilyn Horne e Samuel Ramey!

Mas sabe, não peguei nada de Puccini. Nem Mozart. Nem Mascagni. Ô, senhor, então…
Detalhe: só falta o aparelho de DVD. Alguém se habilita? Eu já fiz a minha parte. :P

“E tudo nascerá mais belo,
O verde faz do azul com o amarelo
O elo com todas as cores
Pra enfeitar amores gris.”

“Exibir as suas cores é um direito seu.” É o que diz o cartão postal de coluna de boteco que ele me deu. Adorei. Pelo gesto simples, pela associação e pelo fato delicioso da minha cor amorenada — que deus não me deu, mas os genes encomendaram e o sol mandou entregar.

Mais ainda porque gosto de cores. Todas elas. Das suas exuberências às suas delicadezas, temperaturas, seus infinitos tons e possibilidades. Miríade alimentar de um meu sentido esfomeado. E de cada uma delas sou um pouco. Se o amarelo me envolve desde a infância e o vermelho me alavanca, o azul me refresca o espírito e o verde me dá força, enche meus olhos d’água e de esperança.

Quais são as suas cores?

Concatenado

Manhã de sol. Corte de cabelo (ufa!). Olhares desejosos (não meus) — brilho na vaidade. A cidade, seus carros, um viaduto. Vó. Bis(es). Metrô. Cabelos negros e olhos brilhantes. Uma escada que sobe e outra(o) que desce. Um pescoço que vira — opa, dois! A transitória beleza transeunte — definitivamente, vou me mudar prá Higienópolis, quiçá Pacaembu (vamos?). Almoço. Conversa. Compreensão. Repreensão. Mão. Museu. Exposição. Arquitetura — beleza pura. Japão de um lado. Um moça que come tinta do outro. Digressões artísticas (arteiras?) sobre as dificuldades do relacionamento amoroso e um sorvete Parmalat. Mais transeuntes de beleza transitória — é de propósito? Plataforma de pés inchados. Micropoesias no metrô. Ônibus quente. Chuva fria. A vida de um dia, assim, em retratos.

The voyage out

O primeiro romance. A primeira viagem, onde tudo começou. “Era tudo muito real, muito grande, muito impessoal, e depois de um ou dois momentos ela começou a erguer o dedo indicador e deixá-lo cair sobre o braço da cadeira como se trouxesse de volta alguma consciência de sua própria existência. Em seguida foi tomada pela estranheza indizível com relação ao fato de estar sentada numa poltrona, de manhã, no meio do mundo.” Mais uma incursão pelo universo escrito de Virginia Woolf.

Mas eu fico mordido quando contam a história já nas primeiras páginas do prefácio! Aquela sobrinha dela, futriqueira, não tinha nada que abrir a boca e contar que a personagem morre. E como. E onde. Desmancha-prazeres! Só de birra eu vou ler Harry Potter antes.

Onomatopeido

Não sei, Zel, mas palavras como tapa e cachoeira prá mim têm os sons que lhes valem. Assim como murmúrio, sussurro, cicio, chiado, ronco, mugir, coaxar, bisbilhar, estrondo, ribombar, reco-reco, tique-taque e pum, que não tem cheiro, ainda bem. ;)

Tão sutil, tão galante

E eis que um ilustre desconhecido me manda uma mensagem com uma só imagem ilustrando seus belos e fartos dotes pessoais — tudo, exceto seus lindos olhos azuis, porque não os tinha mesmo — e com um único e econômico dizer: “topas”. Não se deu nem ao trabalho do ponto-de-interrogação — decerto pensou que a única resposta cabível fosse a da sua cabeça (a outra).

*suspiro*

Eu sinceramente não sei se rio ou se choro — o que será que eu tô fazendo de errado? é o cabelo? é o sorriso? é o perfume? Alguém, por gentileza, avisa esse povo que não é assim que funciona — não comigo —, que lingüiça eu compro no açougue? Pois.

Ensaboa, Concetta. Ensaboa!

Ei! Psiu! Tem alguém aí com bom domínio de italiano — o meu tá falhando — que poderia traduzir isso aqui pra mim? É o pedacinho que falta. Traduzir ária de ópera é um trampo!

“Ah! da quel giorno che insiem le soavi
aure grate con essa spirò,
queste mura a Fernando son gravi
altra sorte sognando anelò.
Ah! mio padre, mio padre,
di mie pene nell’altra procella
un’aita ricerca il mio cor,
ah! ed al nume mi volgo, ma quella
allo sguardo presente m’è ognor.”

Não basta cantar, tem que traduzir e montar programa de recital também. Blé! :P

[Do lat. procrastinatione.]

Por que, meuszóvo, eu não sou um prodígio, um primor de eficiência, determinação, disposição e concentração logo no começo do jogo? Tem que ser sempre no segundo tempo, bem nos pênaltis, com a água na bunda, com a faca nas costas?

Maldito seminário! Tinha que estar justo na frente das minhas férias? :P

Fever!

E por falar em sexta-feira, morder e arranhar — também, não necessariamente nessa ordem —, coisas que eu já pensei e não disse: sabe o que é melhor em cuecas modelo boxer? A sensação constante e deliciosa de que tem alguém agarrando a parte alta das tuas coxas, ui!

(caralho, a lua nem tá cheia ainda…)

Todo mundo tem seu momento Pavlov

Diga “sexta-feira” e meus olhos brilham. Diga “fim de semana” e eu babo. Mas, rapaz, diga “férias” em alto e bom tom que eu abano o rabo, lato, mordo, arranho suas pernas, pego a coleira e finjo de morto — não necessariamente nessa ordem.