É pau, é pedra… É essa chuvinha

Eu disse a cidade, não a cerveja! Eu me sinto tão destrambelhado!
Ainda bem que eu ando sóbrio, senão era bem a mesa que eu derrubava.

+

Noite. Boteco. Riso. Lágrima. Conversa.
Ainda não têm a mesma graça sem você.

Um dia, quem sabe. Que droga…

Oi, tudo bom? Tudo bem?

Que óstsimo, não? Que óstsimo…

Luca chegou. Já conversamos muito, o que ainda é pouco. Já comemos, já bebemos, já brigamos com a garçonete cretina e mal educada que queria nos vender sopa de carne como se fosse carne de panela. Já fomos no Burdog. Já vimos exposição de arte dos bi-bi-bi-bi-bi-bi-(hehehe)-bisavós de Ronaldo.

Amanhã, Segundas Intenções. Quem quiser ir, apareça.

Ainda não fomos ao cinema, ao Balé da Cidade, ao Outback.
A cidade ainda está de pé. Alguém nos ajuda a derrubá-la?

Cartas na mesa

Num jogo antigo, o baralho deixa
clara a mensagem de almas marcadas.
O amor tem lá os seus mistérios.

Mistérios demais pro meu gosto.
Eu vou ali e já volto. Ou não.

Las brujas están sueltas!

Eu voto pela volta dos colchões! Pelo menos eles não cobram taxas pra usufruir do nosso dinheiro. Reativei uma conta que eu tinha aqui em São Paulo antes de ir pra Unicamp. Tinha um saldo devedor de R$2,21 — do quê, nem sei. Paguei. A conta tem saldo, mas não aceita depósitos em agências que não a minha porque esse débito não é processado. Eu permaneço sem cartão, sem senha, etc. Mas meu talão de cheques, que deve ter uns 3 anos, ainda vale. É o Itaú 60 anos: ficou caduco!

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Ele vinha ontem, tá chegando hoje. É porque não deixaram o moço embarcar com a carteira de motorista vencida. Ufa! Ainda bem que alguém que alguém zela pela segurança de todos. Já pensou se ele resolve dirigir o avião? Um perigo! :P

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Meu pai resolveu mexer na caixa d’água aqui de casa justo no dia de receber visita. Resultado: tropeçou num cano que não devia e deixou a casa sem água o dia todo. Dá pra imaginar o tamanho do meu piti? So sei que passou o dia consertando.

Arremesso de paralelepípedo à cruz é modalidade olímpica?

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Agora as notícias boas: não vou ficar careca nem tenho lepra! O que eu tenho é dermatite seborréica e ptiríase alba. A primeira, devidamente estimulada pelo estresse e por anos sem dar conta da danada, faz minha cabeça coçar e aumenta a queda de cabelos temporariamente. Completamente reversível, ufa! A segunda é uma despigmentação da pele por causa do excesso de cloro da piscina nos áureos tempos de natação. Um xampu, um creme, e eu terei meus cachinhos e meu bronzeado garantidos — mas os preços são de amargar, argh!

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A advogada já tem toda a papelada e tá dando início ao processo que limpará meu nome imediatamente e enfiará a faca em todas as lojas que fizeram crediário em meu nome com meu RG roubado, sem nem tomar cuidado. Foderam o meu nome? Acabaram com o meu crédito? Quero que morram! Depois de anos e vergonha na cara, umas 500 almas foram pro céu. A Tim é a próxima se não parar com a graça.

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Conseguiram a partitura! :D Mas isso é segredo… Tem bruxa demais por aí.

Libera me, Domine, de poenis inferni!

Alguém aí quer passar a tarde gravando guias de estudo pra tenores no estúdio — uns 22 coros do Messias, coisa pouca, uma bobagem! —, enquanto eu permaneço, lindo, embaixo das cobertas o resto do dia? Não? Tem certeza? Bom, eu tentei!

Infância

— Tio Gui, você tá gato!
— O que foi, Gabi? Você quer dizer eu sou um gato? — o animal.
— Não, tio! Eu disse que você tá gato!
— Puxa, meu anjo, obrigado!

Abraços apertados da sobrinha de 5 anos têm muito calor num dia frio.

Teu mundo

É, te ouvir cantando aquela música doeu.

Então é mais uma alegria e uma dor pra minha coleção. E coleção é aquela coisa com o que não podemos brincar. É algo que a gente vai guardando dentro de um armário nosso até não poder mais. E geralmente a gente descobre com o tempo que aquilo, pela sua grande particularidade, vale muito, é um tesouro, e morre de orgulho. Mas isso é tão abstrato pra mim, que sempre fui da concretude!

Sinceramente? Preferia poder brincar, se eu pudesse escolher.
Prefiro os sentimentos gastos e vividos aos cristalizados.

Porque tudo no mundo acontece — mas é pessoal, né?

Então, deixa só eu pegar o CD do Cartola que eu já explico.

Sabe aquelas coisas que fazem crer que das duas uma, ou tão de sacanagem muito grande contigo, ou você é muito burro? Eis que num ato de distração que só me é digno se for pra dar muita merda, eu esqueci minha melhor jaqueta, de couro, no ônibus, ontem, só me dando conta alguns segundos depois quando o maldito já tava for de alcance. Pois é, do inferno o menor dos males, eu acho, mas é pra se sentir órfão, ou querer se jogar num buraco e tapar com terra por cima. Isso acontece.

It’s show time!

Hora de ir lá e mostrar a que vim. E eu vim de várias formas.
Eu adoro o palco! — também e não menos, no sentido religioso do termo.

Escrituras

Eis que abro meu livro e leio:

— Talvez — ele disse. — Talvez eu consiga algum tipo de final feliz.
— Não só não existem finais felizes — ela explicou a ele — como também não existe final nenhum.

Não deixa de ser verdade.

Quando os poros da pele falam

Já posso cruzar com você por aí e sair inteiro. Não ileso, por deus, isso não existe! Se até o espelho nos arranha… Nunca se sai ileso. Sou uma pessoa de poucos pudores, mas no entanto, não há força ainda que me faça ouvir aquele CD e ele permanece na prateleira. Quando o ganhei não disse, mas tive medo da primeira música — presságio. Hoje me lembro dela com um tom de escárnio naquela voz ligeiramente rouca. Não ouço. Sou um homem de poucos pudores, este é um deles.

“Serás o meu amor, serás a minha paz…”
São tantas as referências perdidas! Parecia tão simples quanto certo. Mas não foi a ciência, os astros ou o calendário, fomos nós mesmos que encerramos o dueto.

Música Vocal na Idade Média

Gostaria de convidá-los para o próximo concerto do Audi Coelum, amanhã.

O repertório deste concerto é centrado na música vocal da Idade Média — ótima oportunidade, pra quem não está acostumado ao repertório erudito, de se deparar com composições outras além dos tradicionais cantos gregorianos. O repertório mostra também o início da prática polifônica que floresceu durante a Renascença.

“O concerto Música Vocal na Idade Média que o Audi Coelum realizará no Santuário do Sagrado Coração de Jesus é uma imperdível oportunidade para conhecer este fascinante universo da música sacra e secular raramente apresentado. Muitas obras serão executadas em primeira audição em São Paulo e foram editadas pelo Audi Coelum num trabalho de pesquisa e produção artística. Serão dez solistas e um coro a cappella, mostrando quase mil anos de realização musical.”

Vejam informações detalhadas sobre o concerto, o grupo e solistas — eu! — no site.

Música Vocal na Idade Média
17 de julho, domingo, 20h
Santuário do Sagrado Coração de Jesus
Largo Coração de Jesus 154 (Al. Glete) – Campos Elíseos

ENTRADA FRANCA
(estacionamento gratuito com entrada pela Al. Dino Bueno)

Quem pariu Mateus que o embale

Os são-paulinos que me perdoem — e se não quiserem perdoar também, por mim, tudo bem —, mas eu acho, sim, que o clube (ou o time, sei lá, o dono do time) e as torcidas organizadas deveriam ser obrigados a pagar pelos estragos na Av. Paulista e redondezas, até o ponto em que o time e as torcidas falissem por falta de verba e os torcedores ficassem merecidamente órfãos. E isso vale pra qualquer time na mesma situação, antes que alguém pense em se sentir ofendido.

Pra fazer volume no estádio na hora da final torcedor serve, né? Na hora de arcar com as conseqüências de ter esse bando de trogloditas ensandecidos pelas ruas, cada um com os seus problemas? Ora, não sabem dar educação aos próprios filhos, agora paguem pela má conduta deles ao invés de jogar a culpa na polícia.

Em tempo, a parada gay teve muito mais gente e nem metade dos problemas. Quem é a aberração, o desvio, o pecador, o maldito, o perigo pra sociedade agora?

“Gordo” é um estado de espírito, já disse

Um gordo que emagrece não é necessariamente um magro. No obstante, como o botão da calça gritava, já que o corpo não tem propriedades tão etéreas, é com orgulho que anuncio 3Kg a menos. Regozijem-se! Eu me recuso a vestir calças de tamanho maior que 40 de novo nessa vida! (Acho que 38 é uma utopia pra quem tem a minha largura, então 40 tá bom. E ademais eu tenho onde apertar, tá?)

Agora, vamos torcer para o espírito ficar também com a maior parte do fondue desta noite. Afinal, eu mereço. Nem só de vegetais folhosos vive o homem.

Repertoire

La fleur que tu m’avais jetée
dans ma prison m’était restée;
flétrie et sèche, cette fleur
gardait toujours sa douce odeur,
at pendant des heures entières,
sur mes yeux fermant mes paupières,
de cette odeur je m’enivrais
et dans la nuit je te voyais!
Je me prenais à te maudire,
à te detester, à me dire:
Pourquoi faut-il que le destin
l’ait mise là sur mon chemin?
Puis je m’accusais de blasphème,
et je ne sentais en moi-même,
je ne sentais qu’un seul désir,
un seul désir, en seul espoir:
te revoir, o Carmen, oui, te revoir!

Car tu n’avais eu qu’à paraître,
qu’à jeter un regard sur moi,
pour t’emparer de tout mon être,
o ma Carmen! et j’étais une chose à toi!
Carmen, je t’aime!

Deeeeus, por que eu invento de cantar essas coisas? Ô, troço difícil!
Como é que alguém pode escrever si bemol em piano e sem falsete?

Podem me chamar de Don José!

Missão? Impossível!

Alguém mais quer falar da Daslu? Eu quero saber o que se passa na cabeça da Polícia Federal. Mega-operação, não sei quantos policiais alocados, uma coisa Swat.

Esse povo tá assistindo cinema demais — e fazendo cinema demais. O que eles esperavam encontrar, uma versão novo-rico e maligna das Panteras, dando voadora com saltinho e celular durante a “missão”? Não, queriam aparecer na globo mesmo. Ah, me poupem! Bota a outra logo em julgamento e não enche o saco! Vai gastar bala e esquema tático com traficante, se quer fazer bonito. Ou em Brasília.

Flores de um mundo distante

Não por acaso andei lembrando do filme Eternal Sunshine of a Spotless Mind. Se eu lembrasse apenas do filme seria melhor. Mentira, seria mais fácil, nunca melhor.

Mas o filme. Acho que nem se aquela história de fazer uma lavagem seletiva do cérebro fosse possível eu daria os meus miolos a isso. Sou feito de carne e osso, pensamento, sentimento e memória — isso sem entrar em questões metafísicas —, e qualquer coisa a menos do que isso seria um amputamento. No entanto, a idéia de recomeço, tentar de novo, é tentadora. E como eu me conheço não é de hoje, sei bem onde quero chegar com essa história, então vamos mudar de assunto.

Por essas e por outras estou tomando florais. Não, não virei hippie. Mas se minha ansiedade quiser sair por aí vestindo batas indianas e chinelos de couro, com uma cara zen, dançando e cantando Let the Sunshine In, cara, eu vou achar o máximo!

Linhas tortas

— Você escreve tão bem sobre o amor quanto sobre a dor de sua ausência.

Penso aqui que talvez essa seja a maior ironia de todas. Ou não, vai saber.

Uma mistura de Closer com Something’s Gotta Give

Eu estou dentro de um filme e isto aqui é cinema, certo? Desde o começo.
Não é possível, não pode ser tão difícil! Não dá pra ser um equívoco tão grande.

Onde foi que o erro começou e tentar deixou de valer a pena? Eu perdi essa cena.
Ou não, simplesmente foi. Eu que não vi os letreiros finais. Um filme feliz. E triste.

Pedaço(s) de mim

Oh, pedaço de mim
Oh, metade afastada de mim
Leva o teu olhar
Que a saudade é o pior tormento
É pior do que o esquecimento
É pior do que se entrevar

Oh, pedaço de mim
Oh, metade exilada de mim
Leva os teus sinais
Que a saudade dói como um barco
Que aos poucos descreve um arco
E evita atracar no cais

Oh, pedaço de mim
Oh, metade arrancada de mim
Leva o vulto teu
Que a saudade é o revés de um parto
A saudade é arrumar o quarto
Do filho que já morreu

Oh, pedaço de mim
Oh, metade amputada de mim
Leva o que há de ti
Que a saudade dói latejada
É assim como uma fisgada
No membro que já perdi

Oh, pedaço de mim
Oh, metade adorada de mim
Lava os olhos meus
Que a saudade é o pior castigo
E eu não quero levar comigo
A mortalha do amor
Adeus
(Chico Buarque)

Na fotografia
Estamos felizes

Como é que se desliga o amor?

Você já amou alguém? Não quero dizer paixão, carência, tesão, nada disso que eu conheço bem. Amor. Você já teve alguém do seu lado que tudo o que precisava fazer era dizer um “oi” mais dengoso, sorrir um pouco, mexer no seu cabelo? Alguém imperfeito e único, mas que te completava. Não, te ampliava, não sei explicar. Te ampliava e te tornava assim incompleto. Alguém que te fazia feliz, te dava um calorzinho gostoso e não te dava medo de ser mentira, miragem, loucura. E que te dava um brilho nos olhos, e que te deixava louco da vida vez em quando, mas com quem era muito difícil permanecer bravo, e que quando te evitava era como se te apunhalasse, e que quando te ligava era como se cantasse, e que quando te tocava era… era ele, apenas ele, sabe como? Mas que valia, sobretudo, o esforço, a batalha, o crescimento, a chuva, o sol — não importa o que digam.

Então, teve? Eu tive. Já perdi as contas de quantas vezes ensaiei ligar e não liguei — por quê? ora, porque… por quê? —, quantas vezes vi aquele rosto e quantas vezes arranquei meu pensamento à força de onde havia calor e agora faz frio — o frio lá fora, amigo, não é nada —, pra não querer o que não posso, pra não procurar o que não tenho, pra não esperar ser procurado e respeitar escolhas, por mais que muitas vezes eu discorde e me revolte com elas. E caminho indeciso pra três portas: uma se chama esperança, a outra desespero, e a última desegano. Cada vez que eu dou um passo, elas giram e eu nunca tenho certeza pra onde ando. Mas não há uma porta chamada felicidade, ou alívio, por enquanto. Há janelas com cara de alegria, mas não são portas, veja, janelas não são portas. Então fecho os olhos e ando, aperto o passo. Quem sabe se eu não ver por onde bato não acabo achando a saída. (E se minha mão encontrar a tua — as vezes era tudo o que eu queria: a tua mão pra chorar um pouco —, desculpe, é que ela ainda tem a tua idéia, a tua geografia, e sabe o teu caminho, literalmente, de cor.)

Mas o que dói, dói mesmo, é sentir que amar não foi o suficiente. Que eu tentar pode simplesmente não dar em nada. Que há barreiras que podem ser muito mais altas do que a vontade de estar junto, ou a intenção de construir. E que a distância consegue ser tão grande e intransponível que todo o amor doado não faz eco.

Como é que se desliga o amor? Por que a vida faz isso com a gente?

Rinite

Atchim!ad libitum…
Eu tenho que cantar hoje. E amanhã. Fodeu.

Leitura sem drama

A terra é lugar de alegria penosa,
de alegria que fere.

Mas ainda que assim fosse,
ainda que fosse verdade que só se sofre,
ainda que fossem assim as coisas da terra,
haverá que estar sempre com medo?
haverá que estar sempre tremendo?
haverá que estar sempre chorando?

Para que não andemos sempre gemendo,
para que nos sature a tristeza,
o Sonhor Nosso nos deu
o riso, o sonho, os alimentos,
nossa força, e finalmente o ato de amor
que semeia gentes.
(Conselho dos Velhos Sábios Astecas, Eduardo Galeano)

O frio parece que veio como pra me lembrar de ausências. As pessoas me perguntam se estou bem e não sinto sinceridade no sim sem o não, nem no não sem o sim, pois ambos o são. Então sorrio, e meus olhos mostram promessas de dias quentes. Isso porque minha matéria é forte, porém sensível. Eu sinto. Eu sinto muito — e sinto muito, será que um dia consigo me convencer de que deixei isso claro? E no entanto, é preciso fazer jus à voz mais leve, à força das pernas, já que a do pensamento é tão traiçoeiramente mancomunada com o coração.

Já encontro meu lugar na cama e a deixo pela manhã com mais vontade. Dou destino ao que precisa ser feito — e acredite, tem um porrilhão de coisas às quais eu preciso dar rumo. Acho que a grande diferença que existe entre o que sou e o que fui, há tanto tempo que até parece mentira, é que hoje eu me permito sentir dor: ela existe e eu não a ignoro ou nego, não tento ser maior que ela. Acreditei que a dor pudesse me matar, mas não, a dor transforma. E no entanto, há um pedaço de mim que permanece quase fechado, observando a luz do sol pela janela, esperando uma primavera e querendo outra — eu não enganaria nem a mim mesmo se negasse. A vida, eu digo, é feita de pérolas, mas podia vir sem ostras.

+

Eu sugiro que vocês vão ao Segundas Intenções na próxima segunda assitir à performance “Sensorial”, às 21h, com trechos de textos de Jorge Luiz Borges, Julio Cortázar e Eduardo Galeano. Direção de Thereza Piffer e Marcelo Varzea, produção de Camila Sartorelli. Feche os olhos e viaje numa explosão de sensações além da palavra: nunca os textos foram tão sensuais. O poema acima é um presente.

Figaro goes diet

É isso aí. Como não tá dando pra gastar tudo o que se come, então vamos pelo menos comer direito. E a tirinha é do Níquel, do insuperável Fernando Gonsales que, pra quem não sabe, é magro, mas daqueles que sempre foram e sempre serão — a maldade em pessoa. Odeio isso! Ele não, que é gente boa e da família.

E hoje eu sonhei com o quê? Chocolate, óbvio! Mas ó, nem posso reclamar, que esse esquema dos Vigilantes do Peso é uma beleza. Acho que o segredo é manter você entretido brincando de contar pontos — há que se vestir a camisa porque ir em reunião eu não vou, não tenho saco. Me aguardem, a balança só regride!

Sol na casa 8, lua na casa 8

Horóscopo, vai se foder! Eu não quero nem saber, não vou te colocar aqui. Você vem todo metido a besta, com uma página inteira enfiando o dedo na minha cara, dizendo o que eu já tô cansado de saber — esqueceu que as lambadas são no meu couro? —, “transbordamento de emoções”, que eu tenho que fazer isso, que eu tenho fazer aquilo, que a lua é nova, que o momento é de reciclagem. Dizer como, nem pensar? Se eu soubesse (ou pudesse) já tinha feito! E não vem com essa de me perguntar do que eu preciso me libertar que eu te coloco no topo da lista!

Quase um poema — imagem

Dia de sol
azul de inverno;
calor fora de hora.

Nuvens renitentes
como um pedaço de memória.
(Os céus são sempre lentos?)

Flores maternas
begônias pendentes —
vermelhas, sangüíneas
em sua felicidade suspensa.

Minha felicidade
guardada, esquecida
entre dias e noites.

Il Giardino Armonico — Cultura Artística

Sensacional! Ponto. Claro, tem coisa pra ser criticada, como sempre. Como uma ou outra passagem da cadência do violino solista que careceu de um pouco mais de precisão, mas que a maioria nem percebeu. E diante do brilhantismo e requinte com que foram interpretados os concertos, isso é pinto pequeno. Pianíssimos irreais, acentos e contrastes improváveis pra um grupo só de 13 instrumentistas: a música barroca realmente merece o vigor que este, dentre poucos grupos, sabe dar.

Você, estudante com até 30 anos (ou dinheiro no bolso), vá! E descubra que Vivaldi não é aquela musiquinha besta que você ouve em propaganda de sabonete.

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Lembrei de vocês dois: entre um concerto e outro — às vezes entre um movimento e outro — o teatro parecia uma convenção de tuberculosos terminais, credo!

Céu de estrelas

Sim, eu fiz! Eu coloquei Cats pra tocar e esqueci da vida. Sim, tocou Memory e eu lembrei de tudo — da cena, da sala, do sofá, da noite, do abraço, de tudo o que cada poro da minha pele (junto da tua ou não) pôde lembrar, até as lágrimas.

Como alguém pode ser tão burro e tropeçar no próprio pé assim? Saco! Eu não quero lembrar de você dessa forma, a cada curva do pensamento, a cada acorde, cada vez que eu durmo ou acordo. Dói, sabia?

Enquanto penso em você um misto de calor e frio se revolve em mim. Outro dia encontrei escondidos num bolso da mochila aqueles dois bilhetes de correio elegante que você me escreveu. Eles andavam às minhas costas esse tempo todo como promessas, talvez esperando um momento certo ou preciso de me lembrar de ti, mas muito antes, quando nossos caminhos ainda não se afastavam e eu me perdia tentando te alcançar. Yo no buscava a nadie y te vi. Fiz o que qualquer pessoa sensata faria: chorei. Veja, a memória sempre teve uma força muito grande sobre mim e é graças a ela que hoje sou quem sou; eu carrego um mundo vivo comigo e dentro de mim, um mundo ainda cheio dos teus sorrisos.

Sinto falta da covinha do lado direito do teu rosto como se fosse do meu que ela tivesse sido arrancada. E eu não vou tentar dizer que tá tudo bem porque a verdade é que não tá. Estará, sabe deus quando, logo, lá no horizonte. Mas por enquanto a verdade é esta: tenho sonhos aqui dentro que não se encaixam mais em meu peito, ondas e mais ondas, vagalhões que carregam teu nome pra lá e pra cá e açoitam as minhas costas, inundam meu mar. Você vai partir e eu vou seguir sendo eu mesmo como sempre fui, com um pouco de novo, um pouco de velho, procurando gavetas para bilhetes antigos, dando novos sorrisos.

Talvez ainda não fosse a hora de você ler isso. Eu devia ter avisado antes, então desculpa, mas é como eu torno o que sinto palpável, e é assim que eu consigo, de frente, fazer as pazes com meu coração, lentamente. E se você chegou até aqui, quero que saiba que eu preciso dizer adeus — e nada pra mim é mais difícil. Talvez nem a você, nem a mim, talvez nem a nós, posto que ainda existimos em algum lugar lá atrás, algum lugar que foi por mim absorvido e não pode, nem quero que seja esquecido. Eu preciso dizer adeus ao que não foi e que agora não mais será. Eu preciso dizer adeus aos meses que vêm e não têm milagre, não têm mais o eco de um encontro que me trouxe à vida algumas das alegrias mais delicadas e que encheu meu céu de estrelas. Eu digo adeus ao que sonhei contigo pra guardar o que vivi e que é real e lindo, e porque preciso acordar se quiser sonhar de novo.

Pré-datado

No te amo como si fueras rosa de sal,
topacio o flecha de claveles que propagan el fuego:
te amo como se aman ciertas cosas oscuras,
secretamente, entre la sombra y el alma.

Te amo como la planta que no florece y lleva dentro de sí,
escondida, la luz de aquellas flores,
y gracias a tu amor vive oscuro en mi cuerpo
el apretado aroma que ascendió de la tierra.

Te amo sin saber como, ni cuando, ni de donde,
te amo directamente sin problemas ni orgullo:
así te amo porque no sé amar de otra manera,

sino así de este modo en que no soy ni eres,
tan cerca que tu mano sobre mi pecho es mía
tan cerca que se cierran tus ojos con mi sueño.
(Cem sonetos de amor, Pablo Neruda)

Não me culpe. Não são minhas as palavras, mas de Neruda; tomei-as emprestadas — há outros 99 sonetos de amor, não acho que um fará falta — porque as minhas já estão por demais comprometidas. E é preciso tempo pra que venham livremente: as palavras têm vida, minha vida que, ultimamente, tem-me sido muito cara.

Sempre foram minhas as palvras, mas hoje não. Hoje, sou apenas água, olhos e sentimento — elemental, primordial. É que hoje é, e sempre será (enquanto o hoje não for mais algo tão repleto de ontem), um dia difícil, você sabe.

E o resto eu falo depois.

Agenda cultural

Esta quarta, quinta, sábado e domingo tem ópera no Theatro São Pedro: Così fan tutte, de Mozart, a preços bem interessantes. Vale a pena. Conheço parte do elenco e iria — eu disse iria — ao ensaio geral hoje se não tivessem me informado que sim, eu tenho que ir trabalhar hoje e que não, o ensaio não foi cancelado. Meleca!

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Nas mesmas quarta e quinta tem Il Giardino Armonico — que é um puta conjunto de música barroca, embora o site deles seja uma merda — no Teatro Cultura Artística, a preços nada convidativos se você não tem carteirinha de estudante ou tem mais de 30 anos. Como não é o meu caso, pretendo engrossar a filha de famintos musicais que hão de comprar ingressos por 10 reais, lá, meia hora antes do espetáculo. Rezem por mim!

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Hoje tem gente mais que fera no Segundas Intenções. Faz tempo que eu tô com saudade daquele lugar — não, vou não, ainda não, sorry.

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E em outubro tem Wallace & Gromit!!! :D
Lembram de Fuga das Galinhas? Então.

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E o mais importante de tudo: 17 de julho, Audi Coelum, com participação solista minha. Não marquem absolutamente nada na agenda, entenderam? Nada!

The hours

O fim de semana foi pro saco com os compromissos de trabalho — e o público do CEU Parque São Carlos continua aquela coisa mal educada de sempre. Restou essa hora maldita — já falei sobre ela antes, não? —, momento ideal pra tirar a trilha sonora de As Horas da gaveta, mergulhar num livro e esquecer um pouco de mim.

Quadrilha

(Ou: Perdoai, São João, eles não sabem o que fazem!)

Hoje passei na festa junina dos meus sobrinhos, na escolinha, e sinceramente fiquei meio horrorizado. Quando eu tinha a idade deles (e durante bem mais uns dez anos) ia pras festas juninas de escola, ou mesmo as que fazíamos aqui na rua e ouvia música de quadrilha. E dançava quadrilha. Mas dançava mesmo, com ensaios durante o mês, no recreio, pau de fita, parzinho e tudo o mais.

Eu nasci e cresci em São Paulo, nunca fui do interior, muito menos lá do sertão, e mesmo assim eu sei o que é música de festa junina, com muitaas das suas variantes. Eu só posso crer que os professores de hoje são meio estúpidos, ou moucos. É o único motivo que explicaria uma festa junina onde o que mais se tocou foi música country (não, nem sertaneja, country) e axé! — que têm a sua época e razão de ser, longe de uma festa junina.

Forró universitário soa como se fosse de raiz perto disso, credo.

Zero caloria

Eu sei que ando na minha, mas me dei conta também que não ando visitando blogs, páginas ou pessoas muito enamoradas, casadas, cúti-cúti, essas coisas. E nem é inveja que eu não sou disso — e daí deveria ser o contrário, ou não? Mas é aquela história: quando alguém está de dieta a última coisa que quer ver é foto de comida.

Day by day

A felicidade do homem passa pelo estômago? Não. O segredo é desviar o sangue de áreas mais afetadadas — se for com uma comidinha caseira, melhor ainda.

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Sorte de hoje:
Você é diligente e sistemático em seus acordos comerciais.

E a sorte, cadê? De onde o Orkut tira essas coisas, me diz?

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Tem gente que faz massagem, e só, e tá bom pra quem tem os ombros pesados. Mas tem gente que toca camadas muito mais profundas do que a nossa pele, como se fosse possível massagear o próprio coração, ou tecidos de nossa existência.

São essas pessoas que curam — embora quem tenha que sarar é sempre a gente.

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Santana é outra dimensão, certeza. Porque no meu mundo um ônibus não passa por umas ruas estreitas daquele jeito nem com reza brava! E as pessoas esperam ônibus ali, isso que é o melhor. Eu esperaria o Papai Noel ali, nunca um ônibus.

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O bolo de chocolate ficou ótimo — é, eu fiz, aquele mesmo. E lindo. Mesmo eu tendo invertido toda a ordem da receita, donde se deduz que a ordem dos fatores não deveria ser uma coisa assim tão importante.

Então por que na vida a gente não pode enfiar um pouco os pés pelas mãos?

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É tanta coisa que eu gostaria de dizer! Mas como? Quando? Pra quê? E pra quem?

Massage day

É isso aí, eu vou lá ganhar uma massagem que eu também mereço. Mas não é propriamente os meus músculos que eu vou relaxar; meus nós são sempre outros.

Soneto (par)a quatro mãos (póstumas)

Tudo de amor que existe em mim foi dado.
Tudo que fala em mim de amor foi dito.
Do nada em mim o amor fez o infinito
Que por muito tornou-me escravizado.

Tão pródigo de amor fiquei coitado
Tão fácil para amar fiquei proscrito.
Cada voto que fiz ergueu-se em grito
Contra o meu próprio dar demasiado.

Tenho dado de amor mais que coubesse
Nesse meu pobre coração humano
Desse eterno amor meu antes não desse.

Pois se por tanto dar me fiz engano
Melhor fora que desse e recebesse
Para viver da vida o amor sem dano.
(V. de Moraes e P. M. Campos)

Perdeu-se um coração na Av. Paulista com a Carlos Sampaio, ou muito antes.
A quem o encontrar, é favor não dizer nada: trate com cuidado; seu caminho é o estreito da pulsação atravessada entre o amor e a rota do indivíduo, sem milagres.

From inside out

Ali está ele
ferido
sem entender porque certas coisas são: não
ele poderia erguer o mundo nos braços
preferiu beijá-lo suevemente nos lábios
ele masca a vida com vontade
engole todos os gomos de uma vez só
caminha incólume sobre cacos de vidro
e geme diante de uma pétala de noite caída no chão
ele tempera os dias com aço e mel
arregala os olhos dos medrosos
ele olha para o teto à noite
ele poderia facilmente te amar
pois para seres como ele
o amor não é paradoxo de mil esquinas
seu dia possui mais luz do que sombras
ele goza, pulsa, cala, fala mais do que pode às vezes
mas seu silêncio vai te deixar surdo
prefira o riso à parede fria
não
não há nada mais além desse muro
tu nunca mais vai encontrar outro ser
que possa ser tão ferido
(Love song for a hurt friend, Luca Molina)

Eu não tenho o que dizer — é desnecessário.
Não sei se me conheço bem. Mas ele conhece.

Várias coisas

(Ou, sai da frente que eu quero falar com o vento.)

Investigação rigorosa dos escândalos recentes mudaria a cultura política e teria efeito positivo na economia. Há evidências de que a corrupção afeta negativamente o desempenho econômico. (Folha, apud José Alexandre Scheinkman, professor da Universidade Princeton)

Depois de um artigo inteiro sobre o cenário corrupto-econômico-político — ok, não era nada assim brilhante — vem a anta jornalística e me diz o óbvio. E se recebe pra escrever comentários brilhantes como esse num jornal? Ou será que alguém acha que o país não vai pra frente porque o povo é que não gosta de trabalhar?

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Daí, no sábado, eu perdi a hora. Mas não é só que eu perdi a hora, eu tinha que acordar às 7h30 e acordei às 9h45, bem no dia de ensaio geral do coro com a orquestra. E então você me pergunta: “Mas como assim, não ouviu o despertador tocar?”. Não, veja bem, eu não liguei o despertador. Fui deitar, lindo, porque tinha que acordar cedo e não liguei o maldito despertador! Veja só como vão as coisas.

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Pneus não deviam furar. Pneus, no meio da madrugada, não deviam furar. Pneus, no meio da madrugada, na Av. 23 de maio (na pista da esquerda), não deviam furar. Pois é, mas eles furam, e quando vai alta a madrugada, você tá sozinho.

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…Ah perché spietato Amore
Nel mio core entrasti mai?
Perché vidi i cari rai
Onde appresi a sospirar?

(Lorenzo da Ponte)

Não quero mais falar. Quero a intenção, o ato e a comunicação primordial. Quero o toque, a luz, o calor e a sombra. Quero tudo o mais que é vivo e, vivo sendo, se transforma, se devora e se pare. Repare: do amor o tempo renasce a cada minuto.

“Remember me…”

“…once in a while —
please promisse me
you’ll try.”

Não, eu não quero que você se esqueça. E porque hoje eu tive um dia tranqüilo, quando pensei em você, muito e com carinho, mesmo onde havia sombras e cantos com pedaços de nós dois espalhados na memória dos gestos, no cinema, no filme tão cheio de delicadas sugestões de sentimentos, é que repito com certeza, para que o tempo ouça e também se recorde: amo você.

Matou a família e foi ao cinema

Na verdade não matou ninguém — nunca foi capaz de matar uma mosca que fosse (como era exigido dos bravos), quanto mais seus sonhos. Mas foi ao cinema mesmo assim, pois os sonhos à noite não dormiam e, cansados, buscavam o escuro de outros mundos para repousar na realidade do dia; o inverso da insônia.

As águas de março

E o que é que eu faço contigo, coração. Em que cabide eu te penduro?

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Não, eu disse que esperava e mantenho a minha palavra e o status quo — que a hora se anuncie e se faça o momento presente antes do tempo ruir, mas não a minha consciência. No entanto, algumas coisas, mesmo paradas, se transformam, assim como a estrada que é sempre estrada pertence a caminhos diferentes.

É como o leito do rio por onde as águas passam: ele se mexe e se transmuta pra suportar as correntes que o castigam. Mas as águas passam — e trazem com elas a vida e a morte — enquanto o leito do rio permanece, guardando seus tesouros pra quem souber buscá-los com vontade e um pouco de fôlego. Eu transbordo.

De atar no poste

Se hoje você viu alguém de óculos escuros no ônibus com uma partitura na mão, crente que ninguém percebia que ele tava lendo uma ária de Mozart — porque o tempo na semana foi curto —, eu juro que não era eu. Tem gente doida, credo!

O não-horóscopo

O meu horóscopo de hoje tá uma desgraça, de lascar. Então eu decidi que hoje não tem horóscopo: os astros foram dar uma voltinha em uma galáxia qualquer, sei lá, e vão me deixar em paz. Cara, pára com isso, é tensão demais pra um taurino só!

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O céu tá uma coisa azul-mais-linda-de-meu-deus-do-céu — redundante, não? —, mas, sério, eu preciso de uma chuvinha porque meu nariz tá pedindo arrego. Argh!

A tristeza é senhora

Desculpe se falo bobagem, mas eu tenho esse direito. É que há momentos que parecem ser uma dor por si só. É a hora em que eu me sinto mais frágil e renegado — ninguém consegue ser forte e pronto o tempo todo. E tudo fica tão sentido, tão sem sentido, tão desesperançoso!

Observo o ramo de amor-agarradinho em flor na minha mesa e seus galhinhos me lembram braços estendidos para o nada; as flores não têm mais significado fora do jardim e caem a pequenos intervalos. Braços que são tão envolventes e firmes se tornam débeis, flores tão cheias de verdade viram apenas flores, alimentam os olhos e mais nada. O ramo morre e se despede lentamente fora da terra. Será mais fácil (deixar) morrer à mingua, longe? Com certeza não é menos dolorido. Saberão as flores em seu silêncio que suas cores perfazem o tom de nossos sonhos?

O sono traz sonhos incômodos, medos e algum alívio pela manhã. No entanto, o que se sente é real e sintomático. Meu lugar não é aqui, meu lugar é ali no jardim, com a mão no barro, onde meu dedo é verde — a cor da esperança. Faça chuva ou faça sol, é ali que eu sei ser eu mesmo. Nasci pra estar tanto ao sol quanto na tempestade, mas vivo, e a reclusão me deprime. Canto como pra mandar a tristeza embora, mas não é meu canto que desejo ser ouvido. Há uma voz mais funda e urgente, persistente, que é também a alma da minha voz e que resiste quando tudo o mais parece surdo. E essa voz sou eu e mais ninguém. Ela te chama. Ouça.