Viver e morrer numa noite transfigurada

Faz tempo, mas eu sou lento.

Passou meu aniversário e eu nem disse nada. Muita coisa rolou, na verdade, mas eu tenho deixado passar. Sei lá.

Três grandes ondas mexeram comigo na semana do meu aniversáro, em medidas e porporções diferentes e ortogonais. Três grandes vagalhões, cada um me pegou de um jeito.

Chegando aos trinta e três, gosto cada vez mais dos meus aniversários. Não pela festa em si, mas pelo momento. É quando eu morro e vivo ao mesmo tempo. É quando melhor deixo que algo em mim caia por terra e outro algo se alevante. E há, na alegria, um quê de esperançoso que inunda essa melacolia que ronda os meus dias.

Fiz o que queria. Desconfiio que nunca terei uma casa grande o suficiente, então vou lotar o espaço que tiver. De amor. Lúcido, bêbado, tímido ou desbragado. É disso que eu gosto! De rostos felizes, olhos brilhantes e multi-apetites saciados. Eu gosto é do riso farto.

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Perdi um amigo. Não era um amigo particularmente íntimo, acho que nunca nos demos essa chance, infelizmente — pra não ser injusto nem com um, nem com outro. Não importa. Pessoalmente, me doeu muito mais a dor inflingida aos amigos em comum do que a que era minha de fato. Eu sei que é estranho dizer isso — e até socialmente questionável —, mas é um fato que não posso negar. Não sei se é a relação comparativamente mais tranqüila que eu desenvolvi com a morte nos últimos anos e se ela, portanto, não me afeta como à maioria, ou se eu não me deixo afetar. Não sei, não sei. Fato é que eu sinto falta da pessoa enorme de quem meus amigos sentem falta, mais do que daquele pedacinho de pessoa apenas que eu pude conhecer. Não sei se pra alguém isso vai fazer sentido, mas é o que eu sinto — ou o que eu acho que sinto. Eu apenas gostaria que tivesse sido diferente, se é que era possível. E tenho sentimentos bons, desejos de boa viagem, acho que é o mais importante.

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O concerto foi do caralho! E você perdeu. Você perdeu muita coisa, na verdade, mas isso é apenas o que eu acho. E é justamente pra não ficar achando que eu abro mão — assim você não perde nada; nem eu.

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Te ver não foi fácil. Dois anos e quatro meses depois, eu achei que estava pronto — e estava! —, mas não foi fácil. Talvez porque reencontrar alguém seja reencontrar a si mesmo, alguém que não existe mais.

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