Fera (Carlos Drummond de Andrade) Às vezes o tigre em mim se demonstra cruel |
Todo bichano sabe eriçar os pelos das costas.
Navegar. É preciso viver, não é? Preciso.
Fera (Carlos Drummond de Andrade) Às vezes o tigre em mim se demonstra cruel |
Todo bichano sabe eriçar os pelos das costas.
“TAURUS:
>>Wednesday, December 4
There was a little girl who had a little curl, right in the middle of her forehead. And when she was good, she was very, very good, and when she was bad, she was horrid. Why is your horoscope spouting nursery rhymes? Well, with Jupiter retrograde until April, you’re more likely to be extreme than placid.”
Falou e disse.
Por que, Senhor?
Eu tô MORRENDO de saudade de cantar renascença. Eu não conheço nada que teça música através de vozes como o repertório dessa época.
Uma das apresentações mais lindas que eu já vi, umas das músicas de que mais gosto. Só vai captar a real beleza quem já ouviu, mas fica aqui a minha mensagem escrita, já que não posso cantá-la.
Mon coeur se recommande à vous (Orlando di Lasso 1532-1594) Mon coeur se recommande à vous Ma bouche qui savait sourire |
Brimbalar é o verbo!
Pra quem pensa que madrigal renascentista é só aquela coisinha cândida: voulez-vouz brimbaler avec moi? ;)
Sou só eu ou mais alguém já achou que a Rainha da Noite (A Flauta Mágica, Mozart) parece uma Iansã mozartiana? Sei lá, tava ouvindo a Gruberova cantando loucamente a segunda ária — é, aquela do Edson Cordeiro — e a imagem me veio.
Mas a melhor adaptação moderna pro personagem ainda é uma Drag Queen. Já pensou? Ficaria perfeito, a mulher já é surtada mesmo. ;)
Eu posso estar enganado, mas horários de faculdade não deveriam se parecer com queijo suíço. :P Em compensação, eu só não me formo um ano antes porque não deixam. Se dependesse de créditos, tão sobrando já!
Ouvi esse poema na apresentação das Mulheres de Ilú, mulheres que tocam tambor, um grupo formado por cinco mulheres que há mais de 10 anos pesquisa e desenvolve um trabalho voltado para percussão, a dança e o canto afro-brasileiro. Foda! Muito foda!
Mulher da Vida
(Cora Coralina)
Mulher da Vida, minha Irmã.
De todos os tempos.
De todos os povos.
De todas as latitudes.
Ela vem do fundo imemorial das idades e
carrega a carga pesada dos mais
torpes sinônimos,
apelidos e apodos:
Mulher da zona,
Mulher da rua,
Mulher perdida,
Mulher à-toa.
Mulher da Vida, minha irmã.
Pisadas, espezinhadas, ameaçadas.
Desprotegidas e exploradas.
Ignoradas da Lei, da Justiça e do Direito.
Necessárias fisiologicamente.
Indestrutíveis.
Sobreviventes.
Possuídas e infamadas sempre por
aqueles que um dia as lançaram na vida.
Marcadas. Contaminadas,
Escorchadas. Discriminadas.
Nenhum direito lhes assiste.
Nenhum estatuto ou norma as protege.
Sobrevivem como erva cativa dos caminhos,
pisadas, maltratadas e renascidas.
Flor sombria, sementeira espinhal
gerada nos viveiros da miséria, da
pobreza e do abandono,
enraizada em todos os quadrantes da Terra.
Um dia, numa cidade longínqua, essa
mulher corria perseguida pelos homens que
a tinham maculado. Aflita, ouvindo o
tropel dos perseguidores e o sibilo das pedras,
ela encontrou-se com a Justiça.
A Justiça estendeu sua destra poderosa e
lançou o repto milenar:
Aquele que estiver sem pecado
atire a primeira pedra.
As pedras caíram
e os cobradores deram as costas.
O Justo falou então a palavra de eqüidade:
Ninguém te condenou, mulher…
nem eu te condeno.
A Justiça pesou a falta pelo peso
do sacrifício e este excedeu àquela.
Vilipendiada, esmagada.
Possuída e enxovalhada,
ela é a muralha que há milênios detém
as urgências brutais do homem para que
na sociedade possam coexistir a inocência,
a castidade e a virtude.
Na fragilidade de sua carne maculada
esbarra a exigência impiedosa do macho.
Sem cobertura de leis
e sem proteção legal,
ela atravessa a vida ultrajada
e imprescindível, pisoteada, explorada,
nem a sociedade a dispensa
nem lhe reconhece direitos
nem lhe dá proteção.
E quem já alcançou o ideal dessa mulher,
que um homem a tome pela mão,
a levante, e diga: minha companheira.
Mulher da Vida, minha irmã.
No fim dos tempos.
No dia da Grande Justiça
do Grande Juiz.
Serás remida e lavada
de toda condenação.
E o juiz da Grande Justiça
a vestirá de branco em
novo batismo de purificação.
Limpará as máculas de sua vida
humilhada e sacrificada
para que a Família Humana
possa subsistir sempre,
estrutura sólida e indestrurível
da sociedade,
de todos os povos,
de todos os tempos.
Mulher da Vida, minha irmã.
Declarou-lhe Jesus: Em verdade vos digo que publicanos e meretrizes vos precedem no Reino de Deus.
Evangelho de São Mateus 21, ver.31.
Para uma amiga-irmã.
Sair. Pedalar — quase atropelar (ou ser atropelado por) umas 15 pessoas dentre as milhares que perambulam por um parque em um domingo de sol. Ver pessoas, crianças, cachorros, casais, grupos de amigos. Um cidadão performático cantando todo o repertório da Elis Regina. Uma platéia improvisada que ri sentada no gramado. Ver vida.
Minha vida pulsando com a circulação acelerada. O coração, sim, distante, mas o pensamento em mim. Se aquele eu não controlo — nem desejo tal feito —, este, pelo menos, eu estimulo. E estimulo os meus sentidos, me alimento de cores, sons e cheiros.
Penso no que sou, no que quero, no que dou. Penso nos outros e não penso mais, pois pensar pode muito bem ser doente dos olhos. Então, apenas pedalo. E me preparo para o dia que vem, para o caminho que segue, para o espírito que voa além, para o amor que me tem. Pro que der e vier. Ou não.
Eu não sei se eu sorrio ou se eu só rio mesmo, lendo a reportagem de hoje da Revista da Folha intitulada “Radical Chic”, sobre a elite que começa a ser chamada de “Golden Lula”. Trata-se do efeito inusitado dessa última eleição onde um ex-torneiro e revolucionário se tornou presidente da república.
Sorrio porque votei no Lula. Acredito, sim, que ele, mais do que condições de melhorar esse país, tem interesse em fazê-lo. Duvido que vá ser fácil. Se assim o fosse, quem evidentemente não tem intenções e dar um jeito no status quo dessa sociedade não teria muito como escapar de enfiar a mão na merda. Mas acredito que a vontade ali é mais resistente, se não inabalável.
O que me faz rir são os comentários de alguns dos bem aventurados entrevistados. Tem de tudo ali, dos simplesmente impressionados com a reforma no discurso e no visual do novo presidente aos realmente cônscios acerca do tamanho do buraco onde o país se encontra. Ouvir que “sempre houve pobre na rua, mas agora chegou a um ponto que incomoda” é de matar. O que me assusta um pouco é imaginar até onde vai o grau de preocupação social de quem diz isso, se ultrapassa o medíocre desejo de poder passear despreocupado com seu relógio Bulgari ou com sua bolsa Louis Vuitton.
Não sou cientista político, social ou economista, mas me parece claro que, dentro de um sistema capitalista — é este o corrente aqui, certo? — a grana tem que estar correndo, saindo de um lugar e indo parar em outro. Isso ultrapassa a esfera nacional, mas não a isenta. E o que eu quero ver é, se a tão sonhada reforma social ocorrer — quem diz que tem preocupação social almeja uma reforma social, né? —, o que a elite vai dizer quando a mão de obra barata e despreparada culturalmente ascender do estado miserável e quiser também andar de carro, ir ao Mc Donald’s, ao teatro, à universidade. E quando não tiver mais quem lave privadas? Porque cagar mesmo, todo mundo caga. E quando não tiver mais quem queira exercer a nobre arte do torneamento mecânico em condições baratas e insalubres de trabalho? A enlevada e articulada elite brasileira resistirá à enorme atração gravitacional de seu próprio umbigo?
Estou confiante de que agora a coisa começa a melhorar, mas é sempre bom pensar no assunto, pois isso custa a TODO MUNDO uma mudança de postura política, social e ECONÔMICA.
Sabe quando você não agüenta mais nem a opressão do seu próprio quarto? Nem esta aqui? Nem a sua própria? Por que chove quando eu quero correr, pedalar, sair? Manhã chuvosa só é legal quando se tem motivo pra ficar na cama.
Saí laranja. Voltei mais laranja ainda — caderninho laranja pra combinar com a bolsa laranja, com a meia laranja, com a camiseta laranja, com a cueca… branca, era só o que me faltava!
A sola gasta no solo da Paulista. A vista farta no cinema de Almodóvar — não comento não, não tenho cacife pra isso. O vício, há tanto tempo subjugado, alimentado a três CDs pelo preço de um: tem coisas que só Neto Discos faz por você. O alento de divas não menores que Maria Bethânia e Billie Holiday. O sorriso natalino da criança crescida.
A massagem no ego vaidoso — nem eu engulo meu ar blasé de quem passou e nem viu. O sorriso matreiro que não é visto por quem observa minhas costas. Eu passo, eu mesmo acho graça.
Uma tarde só minha.