Eu queria dormir hoje e só acordar mês que vem.
O outro lá que morre e eu aqui me matando — nem ressucitar eu sei!
Ah, esse inferno astral promete…
Navegar. É preciso viver, não é? Preciso.
Eu queria dormir hoje e só acordar mês que vem.
O outro lá que morre e eu aqui me matando — nem ressucitar eu sei!
Ah, esse inferno astral promete…
“Ó, lua branca de fulgores e de encanto,
Se é verdade que ao amor tu dás abrigo,
Vem tirar dos olhos meus, o pranto,
Ai, vem matar essa paixão que anda comigo.
Ai, por quem és, desce do céu, ó lua branca,
Essa amargura do meu peito, ó vem e arranca,
Dá-me o luar da tua compaixão,
Ó, vem, por Deus, iluminar meu coração…”
(Chiquinha Gonzaga)
Vão dizer que não é o mesmo que assitir no teatro — e não é mesmo — e que as câmeras não favorecem o gênero teatral — o que é verdade em muitos casos mal dirigidos, mas em alguns outros há bons resultados. Só que poder assistir a uma montagem de ópera com qualidade internacional e elenco estelar, na telona do cinema, com som e imagens cristalinas em alta definição por 15 mangos (meia), desculpem, mas é sensacional.
La Sonnambula, de Bellini, com Nathalie Dessay e Juan Diego Flórez nos papéis principais foi um presente para começar a semana com os pés um pouco acima do chão. Vale a pena conferir a programação — eu já perdi três, argh! — e assitir algumas dessas montagens do Met porque, com certeza, pelo menos cada uma das passagens para assistir lá vai sair bem mais cara.
Longe de querer fazer apologia ao sofrimento, uma tristezinha às vezes cai bem. Foi o que eu vim conversando com os meus pés no caminho do cinema até em casa, por entre esquinas e caminhos tortos.
Assisti finalmente O Leitor. E não pretendo avaliar o filme — há várias outras palavras muito mais precisas que as minhas por aí — além do sentimento que ele me inspirou: tristeza. Tristeza em ver a vida desperdiçada. Tristeza nas escolhas, nos caminhos, na culpa, no arrependimento, na dor, no rancor, na incapacidade do perdão. Uma história em linhas tristes. Uma história que não é minha, mas é humana essa capacidade de criar ecos e eu chorei pela personagem, chorei com ela, imolada para expiar a minha própria tristeza.
É por isso que às vezes eu gosto de um bom filme triste. É pelo descarrego. É porque ele — assim como uma massagem consegue aliviar uma tensão quando não conseguimos relaxar — também tem o poder de descarregar nossas pequenas tristezas, os desgostos diários, aquelas pequenas porções de dor ou raiva que guardamos e não choramos porque, afinal de contas, nem é para tanto. Mas de onde vem, senão daí, a expressão lavar-se em lágrimas?