Janelas

Ser poeta é ser mais alto, é ser maior
Do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Aquém e de Além Dor

É ter de mil desejos o esplendor
E não saber sequer que se deseja!
É ter cá dentro um astro que flameja,
É ter garras e asas de condor!

É ter fome, é ter sede de Infinito!
Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim…
É condensar o mundo num só grito!

E é amar-te, assim perdidamente…
É seres alma, e sangue, e vida em mim
E dizê-lo cantando a toda a gente!
(Ser poeta, Florbela Espanca)

Amo-te muito e sem descanso e sempre
E mais que a tudo e que à realidade
E como um louco e com serenidade
Amo-te com a dor de um amor ausente

Amo-te agora e pela eternidade
Como um bom deus sempre presente
Amo-te aflito e amo-te contente
E sem passado e nome e sem idade

Amo-te como uma criança, puro e casto
E com desejo e um amor devasso
E com saudade e mais do que podia

Amo-te enfim como um castigo
Sem fim, errante e sem amigo
Te esperando pra me raiar o dia
(Soneto de amar, Gabriel Dinnebier)

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E é assim que, subindo no ônibus no meio da tarde ensolarada, na cidade que é sua sem dela ter nascido, você se vê refletido em você mesmo, duas vezes.

Sem coração

Se tem uma coisa que eu aprendi sobre amar nestes meus poucos anos de estrada é que não se pode medir o que a gente sente pelo eco que isso causa nos outros. Amar não tem nada a ver com ser amado e existem tantas formas de se amar, expressar ou exercitar esse amor que qualquer tentativa de comparar gesto e resposta é um absoluto tiro no escuro.

No entanto, é isso o que a gente quer e espera: resposta. E quando não há resposta, há mágoa — pequena, disfarçada, mas vai dizer que ela não existe? Na verdade, nos magoamos com nossas expectativas e jogamos no outro a responsabilidade pelos nossos anseios, os dejetos desse… amor?

O amor assim é uma criança mimada que precisa crescer e aprender a encarar a vida. Precisa aprender que nem tudo o que quer é dela e que o importante é fazer a sua parte. Se não é o que o outro espera, não adianta fazer bico, manha ou pior: fazer ofensa, grosseria. Amor assim, como uma criança igual, incomoda. Tampouco é o outro menos capaz de amar ou receber amor. Se não é o seu amor que ele quer, então não é. Ponto. Fim de história. Inútil enumerar ou discorrer sobre um sem-número de fatores. Estúpido deixar-se machucar em vão. É ridículo, é sofrido, é infantil. E tal qual crianças que se dão ou não, sem porquê, assim é o amor-criança. Ou a paixão.

Amor maduro é amor construído, que sabe o seu valor sem precisar que o outro o reconheça ou o receba. Ama sem medo, dá sem rancor. Quando sentires se alinham e pensamentos se completam, o amor caminha junto e cresce para se tornar o que tem de ser; ambos se beneficiam porque é gostoso, é positivo, é natural. Quando não, ele parte, porque se ama, antes de mais nada; sabe que na dor também há renovação. Não se cega com a decepção. Assim se aprende.

Amar assim enobrece. Aquele outro, emburrece.

What a wonderful day!

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I see trees of green, red roses too
I see them bloom for me and you
And I think to myself what a wonderful world.

I see skies of blue and clouds of white
The bright blessed day, the dark sacred night
And I think to myself what a wonderful world.

The colors of the rainbow so pretty in the sky
Are also on the faces of people going by
I see friends shaking hands saying how do you do
They’re really saying I love you.

I hear babies cry, I watch them grow
They’ll learn much more than I’ll never know
And I think to myself what a wonderful world
Yes, I think to myself what a wonderful world.

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Com um céu desses pela manhã, quem precisa de parabéns? ;)