Viajante

Se vai viajar
leva então na bagagem
um sorriso.

Se vai viajar me leva
um punhado de sol,
um bocado de brisa.

Guarda a memória
do retorno
no fundo dos olhos.

Back 2 Basics

Para todos aqueles que me perguntaram por que eu parei de escrever, a resposta: porque sim.

E eis que é hora de voltar. Ou melhor, seguir. Por mais que eu tente esgarçar o tecido da memória, já tenho idade suficiente para saber que ele não rasga, não em mim. Mas na verdade, tanta demora foi, em parte, por preguiça. E eu aproveitava essa pausa para ruminar mais um pouco.

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Disse adeus ao MT — essa é a parte da preguiça. A vontade de escrever andava pouca, daí que um upgrade para uma super-mega versão nova resolveu foder com os meus templates e tudo de repente ficou muito robusto, muito cheio de coisas e tags e variáveis e possiblidades e códigos… Ai, preguiça!

Como disse a loira com nome de rainha: “chega uma hora que tudo o que você quer é facilidade, né?” Como o WordPress importou tudo bonitinho — coisa que o MT não fez, parou no meio, pediu arrego —, eu me rendi. E por aí vamos, devagar e (quase) sempre. Uma odisséia. Não venham com muita sede ao pote.

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Quando partires em viagem para Ítaca,
faz votos para que seja longo o caminho,
pleno de aventuras, pleno de conhecimentos.
Os Lestrigões e os Ciclopes,
o feroz Poseidon, não so temas,
tais seres em teu caminho jamais encontrarás,
se teu pensamento é elevado, se rara
emoção afora teu espírito e teu corpo.
Os Lestrigões e os Ciclopes,
oirascível Poseidon, não os encontrarás,
se não os levas em tua alma,
se tua alma não os ergue diante de ti.

Faz votos de que seja longo o caminho.
Que numerosas sejam as manhãs estivais,
nas quais, com que prazer, com que alegria,
entrarás em portos vistos pela primeira vez;
pára em mercados fenícios,
e adquire as belas mercadorias,
nácaras e corais, âmbares e ébanos,
e pergumes voluptuosos,
e a maior quantidade possível de perfumes;
vai a numerosas cidades egípcias,
aprende, aprende sem cessar…

Guarda sempre Ítaca em teu pensamento.
É teu destino aí chegar.
Mas não apresse absolutamente tua viagem.
É melhor que dure muitos anos…
e que, já velho, ancores na ilha,
rico com tudo que ganhaste no caminho,
sem esperar que Ítaca te dê riqueza.

Ítaca te deu a bela viagem.
Sem ela não te porias a caminho.
Mas já nada tem a dar-te.

Embora a encontres pobre, Ítaca não te enganou.
Sábio assim como te tornaste, com tanta experiência,
já deves ter compreendido o que significam as “Ítacas”.
(Konstantinos Kaváfis, 1911)