Interneticalidades

Já notaram como as pessoas perdem seus pudores na internet? E não é questão de anonimato! Por exemplo, geralmente tem-se vergonha de conversar sobre detalhes a respeito de sexo, cara a cara ou por telefone, com um amigo relativamente recente — eu disse amigo, não pretê —, mas pelo Messenger bastam dois minutos pro papo descambar pra putaria. Também não é sexo virtual, veja bem.

Por que eu não sei, mas é assim. E como eu já não sou lá de muitos pudores mesmo, acho graça. O problema é quando confundem meu despudoramento com outras intenções ou mesmo flerte — que comigo é outra história, muito mais sutil. O buraco não é mais embaixo, não, nem vem! Falar é uma coisa, fazer é outra.

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Quem já se inscreveu naquele tal de sms.ac e pode atestar e dar fé de que aquilo realmente funciona? Pode-se mandar torpedos de graça pros quatro cantos mesmo? Eu recebo semanalmente uma dezena de convites de pessoas conhecidas — que obviamente vão direto pro lixo —, muitos dos quais repetidos ad nauseam, o que só me inspira desconfiança. Tudo o que eu não preciso é de um pouco mais de spam.

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Eu vou começar a apagar da minha lista todo mundo que mandar mensagem dizendo que os serviços do Orkut serão cobrados a partir de outubro, tô avisando!

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E os convites pro Orkut? Assim, eu gosto de gente que tem alguma percepção do que não é dito, mas que é meio óbvio, sacumé? Daí, menininha, cara de lolita, seus 18 anos, e que o que gosta mais de fazer é sair pra balada com seus “miguxinhus” — seja lá o que for isso —, me escreve (escreve?) algo como: “oi mininu t axei na comunidade eu bjo bem te add falow tem msn?” — assim, de uma tacada só.

Juro que eu fiquei com vontade de escrever algo do tipo: “Lindinha, olha só, não é neste mato que tu vai encontrar coelho, não!” — será que ela ia entender? Fora os casos que não inspiram nem comentários. Ô, povinho mais sem savoir-faire!

Fotorkut

Diz aí se a gente não é a coisa mais fofa do mundo! Mas eu sou mais fofo do que ele: eu só tenho chifres, ele tem ferrão. Já tô doido de saudade — “é nada!” ;)

Você trouxe bons ventos a uma casa fechada, querido. Obrigado pelo alento!

Sol na casa 9, lua na casa 7

Sol e Lua estarão em harmonia entre os dias 30/07 (hoje) e 01/08, Guilherme. Excelente momento para realizar passeios e/ou viagens com a pessoa amada! Caso esteja sem ninguém no momento, boas novas poderão surgir caso você passeie, viaje, saia da rotina. De uma forma ou de outra, você poderá receber telefonemas, cartas ou e-mails nestes dias que lhe deixarão particularmente feliz, e a temática pode ser afetiva. Não perca a oportunidade de sair da rotina e dar uma dinamizada em sua vida amorosa! (Personare)

— Ha! — faz-me rir…

Se lembra quando toda modinha falava de amor

(…)
Se lembra do futuro
Que a gente combinou
Eu era tão criança e ainda sou
Querendo acreditar
Que o dia vai raiar
Só porque uma cantiga anunciou
Mas não me deixe assim, tão sozinho
A me torturar
Que um dia ele vai embora, maninha
Pra nunca mais voltar
(Maninha, Chico Buarque)

Por que você foi se vestir de preto pra mim?

Diamante verdadeiro

Ontem, uma visita com biscoitos e café (que não tomamos) e que podia ser lúdica, mas me pareceu mais com a junção caudalosa de três grandes rios de tempo — passados, presentes e futuros. Algo se quebrou. Algo ali morreu. Algo renasceu. Algo que era muito e feito pouco. E tem algo que finalmente é só meu de novo.

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Fomos ao Balé da Cidade pra eu aprender a dançar conforme a música. E na contramão, me encantei com o pas des deux “Frágil” de Itzik Galili. Tanto me encantei quanto me incomodei — e por me instigar gostei tanto — com o rosto sempre virado do bailarino (contra a coreografia exposta da bailarina), sempre se escondendo, nunca enxergando que a vida não acontece no palco, mas na platéia.

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Uma hora a gente aprende. Demora e dói, mas aprende. E eu não esqueço.
Pela primeira vez vou dizer: estou bem, sou eu de novo e me pertenço.

Take on me

We’re talking away
I don’t know what
I’m to say I’ll say it anyway
Today’s another day to find you
Shying away
I’ll be coming for your love, OK?

Take on me, take me on
I’ll be gone
In a day or two

So needless to say
I’m odds and ends
But that’s me stumbling away
Slowly learning that life is OK.
Say after me
It’s no better to be safe than sorry

Take on me, take me on
I’ll be gone
In a day or two

Oh the things that you say
Is it life or
Just to play my worries away
You’re all the things I’ve got to remember
You’re shying away
I’ll be coming for you anyway

Take on me, take me on
I’ll be gone
In a day or two

É, A-HA. Porque eu cresci nos anos 80, meu bem. E o resto não mais se explica.

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Eu convido, eu chamo. Mais que isso não posso fazer, exceto dizer que eu paguei mico de novo e quem não foi perdeu. Admito: eu adorava cantar Dona, do Roupa Nova — na verdade, era do Sá e Guarabyra, mas eu não sabia disso àquela época. Tá bom, tenho que admitir também que tava meio bêbado, mas não ia fazer muita diferença. Afinal de contas, me divirto no palco, e nem sempre é pra me levar a sério. E quem não quer ganhar um jantar pra dois em dois restaurantes diferentes? Quem não chora não mama, dizem, e eu até que tenho chorado bastante.

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O show foi bárbaro, a noite ótima e cheia de memórias, como era de se esperar.

É pau, é pedra… É essa chuvinha

Eu disse a cidade, não a cerveja! Eu me sinto tão destrambelhado!
Ainda bem que eu ando sóbrio, senão era bem a mesa que eu derrubava.

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Noite. Boteco. Riso. Lágrima. Conversa.
Ainda não têm a mesma graça sem você.

Um dia, quem sabe. Que droga…

Oi, tudo bom? Tudo bem?

Que óstsimo, não? Que óstsimo…

Luca chegou. Já conversamos muito, o que ainda é pouco. Já comemos, já bebemos, já brigamos com a garçonete cretina e mal educada que queria nos vender sopa de carne como se fosse carne de panela. Já fomos no Burdog. Já vimos exposição de arte dos bi-bi-bi-bi-bi-bi-(hehehe)-bisavós de Ronaldo.

Amanhã, Segundas Intenções. Quem quiser ir, apareça.

Ainda não fomos ao cinema, ao Balé da Cidade, ao Outback.
A cidade ainda está de pé. Alguém nos ajuda a derrubá-la?

Cartas na mesa

Num jogo antigo, o baralho deixa
clara a mensagem de almas marcadas.
O amor tem lá os seus mistérios.

Mistérios demais pro meu gosto.
Eu vou ali e já volto. Ou não.

Las brujas están sueltas!

Eu voto pela volta dos colchões! Pelo menos eles não cobram taxas pra usufruir do nosso dinheiro. Reativei uma conta que eu tinha aqui em São Paulo antes de ir pra Unicamp. Tinha um saldo devedor de R$2,21 — do quê, nem sei. Paguei. A conta tem saldo, mas não aceita depósitos em agências que não a minha porque esse débito não é processado. Eu permaneço sem cartão, sem senha, etc. Mas meu talão de cheques, que deve ter uns 3 anos, ainda vale. É o Itaú 60 anos: ficou caduco!

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Ele vinha ontem, tá chegando hoje. É porque não deixaram o moço embarcar com a carteira de motorista vencida. Ufa! Ainda bem que alguém que alguém zela pela segurança de todos. Já pensou se ele resolve dirigir o avião? Um perigo! :P

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Meu pai resolveu mexer na caixa d’água aqui de casa justo no dia de receber visita. Resultado: tropeçou num cano que não devia e deixou a casa sem água o dia todo. Dá pra imaginar o tamanho do meu piti? So sei que passou o dia consertando.

Arremesso de paralelepípedo à cruz é modalidade olímpica?

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Agora as notícias boas: não vou ficar careca nem tenho lepra! O que eu tenho é dermatite seborréica e ptiríase alba. A primeira, devidamente estimulada pelo estresse e por anos sem dar conta da danada, faz minha cabeça coçar e aumenta a queda de cabelos temporariamente. Completamente reversível, ufa! A segunda é uma despigmentação da pele por causa do excesso de cloro da piscina nos áureos tempos de natação. Um xampu, um creme, e eu terei meus cachinhos e meu bronzeado garantidos — mas os preços são de amargar, argh!

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A advogada já tem toda a papelada e tá dando início ao processo que limpará meu nome imediatamente e enfiará a faca em todas as lojas que fizeram crediário em meu nome com meu RG roubado, sem nem tomar cuidado. Foderam o meu nome? Acabaram com o meu crédito? Quero que morram! Depois de anos e vergonha na cara, umas 500 almas foram pro céu. A Tim é a próxima se não parar com a graça.

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Conseguiram a partitura! :D Mas isso é segredo… Tem bruxa demais por aí.

Libera me, Domine, de poenis inferni!

Alguém aí quer passar a tarde gravando guias de estudo pra tenores no estúdio — uns 22 coros do Messias, coisa pouca, uma bobagem! —, enquanto eu permaneço, lindo, embaixo das cobertas o resto do dia? Não? Tem certeza? Bom, eu tentei!

Infância

— Tio Gui, você tá gato!
— O que foi, Gabi? Você quer dizer eu sou um gato? — o animal.
— Não, tio! Eu disse que você tá gato!
— Puxa, meu anjo, obrigado!

Abraços apertados da sobrinha de 5 anos têm muito calor num dia frio.

Teu mundo

É, te ouvir cantando aquela música doeu.

Então é mais uma alegria e uma dor pra minha coleção. E coleção é aquela coisa com o que não podemos brincar. É algo que a gente vai guardando dentro de um armário nosso até não poder mais. E geralmente a gente descobre com o tempo que aquilo, pela sua grande particularidade, vale muito, é um tesouro, e morre de orgulho. Mas isso é tão abstrato pra mim, que sempre fui da concretude!

Sinceramente? Preferia poder brincar, se eu pudesse escolher.
Prefiro os sentimentos gastos e vividos aos cristalizados.

Porque tudo no mundo acontece — mas é pessoal, né?

Então, deixa só eu pegar o CD do Cartola que eu já explico.

Sabe aquelas coisas que fazem crer que das duas uma, ou tão de sacanagem muito grande contigo, ou você é muito burro? Eis que num ato de distração que só me é digno se for pra dar muita merda, eu esqueci minha melhor jaqueta, de couro, no ônibus, ontem, só me dando conta alguns segundos depois quando o maldito já tava for de alcance. Pois é, do inferno o menor dos males, eu acho, mas é pra se sentir órfão, ou querer se jogar num buraco e tapar com terra por cima. Isso acontece.

It’s show time!

Hora de ir lá e mostrar a que vim. E eu vim de várias formas.
Eu adoro o palco! — também e não menos, no sentido religioso do termo.

Escrituras

Eis que abro meu livro e leio:

— Talvez — ele disse. — Talvez eu consiga algum tipo de final feliz.
— Não só não existem finais felizes — ela explicou a ele — como também não existe final nenhum.

Não deixa de ser verdade.

Quando os poros da pele falam

Já posso cruzar com você por aí e sair inteiro. Não ileso, por deus, isso não existe! Se até o espelho nos arranha… Nunca se sai ileso. Sou uma pessoa de poucos pudores, mas no entanto, não há força ainda que me faça ouvir aquele CD e ele permanece na prateleira. Quando o ganhei não disse, mas tive medo da primeira música — presságio. Hoje me lembro dela com um tom de escárnio naquela voz ligeiramente rouca. Não ouço. Sou um homem de poucos pudores, este é um deles.

“Serás o meu amor, serás a minha paz…”
São tantas as referências perdidas! Parecia tão simples quanto certo. Mas não foi a ciência, os astros ou o calendário, fomos nós mesmos que encerramos o dueto.

Música Vocal na Idade Média

Gostaria de convidá-los para o próximo concerto do Audi Coelum, amanhã.

O repertório deste concerto é centrado na música vocal da Idade Média — ótima oportunidade, pra quem não está acostumado ao repertório erudito, de se deparar com composições outras além dos tradicionais cantos gregorianos. O repertório mostra também o início da prática polifônica que floresceu durante a Renascença.

“O concerto Música Vocal na Idade Média que o Audi Coelum realizará no Santuário do Sagrado Coração de Jesus é uma imperdível oportunidade para conhecer este fascinante universo da música sacra e secular raramente apresentado. Muitas obras serão executadas em primeira audição em São Paulo e foram editadas pelo Audi Coelum num trabalho de pesquisa e produção artística. Serão dez solistas e um coro a cappella, mostrando quase mil anos de realização musical.”

Vejam informações detalhadas sobre o concerto, o grupo e solistas — eu! — no site.

Música Vocal na Idade Média
17 de julho, domingo, 20h
Santuário do Sagrado Coração de Jesus
Largo Coração de Jesus 154 (Al. Glete) – Campos Elíseos

ENTRADA FRANCA
(estacionamento gratuito com entrada pela Al. Dino Bueno)

Quem pariu Mateus que o embale

Os são-paulinos que me perdoem — e se não quiserem perdoar também, por mim, tudo bem —, mas eu acho, sim, que o clube (ou o time, sei lá, o dono do time) e as torcidas organizadas deveriam ser obrigados a pagar pelos estragos na Av. Paulista e redondezas, até o ponto em que o time e as torcidas falissem por falta de verba e os torcedores ficassem merecidamente órfãos. E isso vale pra qualquer time na mesma situação, antes que alguém pense em se sentir ofendido.

Pra fazer volume no estádio na hora da final torcedor serve, né? Na hora de arcar com as conseqüências de ter esse bando de trogloditas ensandecidos pelas ruas, cada um com os seus problemas? Ora, não sabem dar educação aos próprios filhos, agora paguem pela má conduta deles ao invés de jogar a culpa na polícia.

Em tempo, a parada gay teve muito mais gente e nem metade dos problemas. Quem é a aberração, o desvio, o pecador, o maldito, o perigo pra sociedade agora?

“Gordo” é um estado de espírito, já disse

Um gordo que emagrece não é necessariamente um magro. No obstante, como o botão da calça gritava, já que o corpo não tem propriedades tão etéreas, é com orgulho que anuncio 3Kg a menos. Regozijem-se! Eu me recuso a vestir calças de tamanho maior que 40 de novo nessa vida! (Acho que 38 é uma utopia pra quem tem a minha largura, então 40 tá bom. E ademais eu tenho onde apertar, tá?)

Agora, vamos torcer para o espírito ficar também com a maior parte do fondue desta noite. Afinal, eu mereço. Nem só de vegetais folhosos vive o homem.

Repertoire

La fleur que tu m’avais jetée
dans ma prison m’était restée;
flétrie et sèche, cette fleur
gardait toujours sa douce odeur,
at pendant des heures entières,
sur mes yeux fermant mes paupières,
de cette odeur je m’enivrais
et dans la nuit je te voyais!
Je me prenais à te maudire,
à te detester, à me dire:
Pourquoi faut-il que le destin
l’ait mise là sur mon chemin?
Puis je m’accusais de blasphème,
et je ne sentais en moi-même,
je ne sentais qu’un seul désir,
un seul désir, en seul espoir:
te revoir, o Carmen, oui, te revoir!

Car tu n’avais eu qu’à paraître,
qu’à jeter un regard sur moi,
pour t’emparer de tout mon être,
o ma Carmen! et j’étais une chose à toi!
Carmen, je t’aime!

Deeeeus, por que eu invento de cantar essas coisas? Ô, troço difícil!
Como é que alguém pode escrever si bemol em piano e sem falsete?

Podem me chamar de Don José!

Missão? Impossível!

Alguém mais quer falar da Daslu? Eu quero saber o que se passa na cabeça da Polícia Federal. Mega-operação, não sei quantos policiais alocados, uma coisa Swat.

Esse povo tá assistindo cinema demais — e fazendo cinema demais. O que eles esperavam encontrar, uma versão novo-rico e maligna das Panteras, dando voadora com saltinho e celular durante a “missão”? Não, queriam aparecer na globo mesmo. Ah, me poupem! Bota a outra logo em julgamento e não enche o saco! Vai gastar bala e esquema tático com traficante, se quer fazer bonito. Ou em Brasília.

Flores de um mundo distante

Não por acaso andei lembrando do filme Eternal Sunshine of a Spotless Mind. Se eu lembrasse apenas do filme seria melhor. Mentira, seria mais fácil, nunca melhor.

Mas o filme. Acho que nem se aquela história de fazer uma lavagem seletiva do cérebro fosse possível eu daria os meus miolos a isso. Sou feito de carne e osso, pensamento, sentimento e memória — isso sem entrar em questões metafísicas —, e qualquer coisa a menos do que isso seria um amputamento. No entanto, a idéia de recomeço, tentar de novo, é tentadora. E como eu me conheço não é de hoje, sei bem onde quero chegar com essa história, então vamos mudar de assunto.

Por essas e por outras estou tomando florais. Não, não virei hippie. Mas se minha ansiedade quiser sair por aí vestindo batas indianas e chinelos de couro, com uma cara zen, dançando e cantando Let the Sunshine In, cara, eu vou achar o máximo!

Linhas tortas

— Você escreve tão bem sobre o amor quanto sobre a dor de sua ausência.

Penso aqui que talvez essa seja a maior ironia de todas. Ou não, vai saber.

Uma mistura de Closer com Something’s Gotta Give

Eu estou dentro de um filme e isto aqui é cinema, certo? Desde o começo.
Não é possível, não pode ser tão difícil! Não dá pra ser um equívoco tão grande.

Onde foi que o erro começou e tentar deixou de valer a pena? Eu perdi essa cena.
Ou não, simplesmente foi. Eu que não vi os letreiros finais. Um filme feliz. E triste.

Pedaço(s) de mim

Oh, pedaço de mim
Oh, metade afastada de mim
Leva o teu olhar
Que a saudade é o pior tormento
É pior do que o esquecimento
É pior do que se entrevar

Oh, pedaço de mim
Oh, metade exilada de mim
Leva os teus sinais
Que a saudade dói como um barco
Que aos poucos descreve um arco
E evita atracar no cais

Oh, pedaço de mim
Oh, metade arrancada de mim
Leva o vulto teu
Que a saudade é o revés de um parto
A saudade é arrumar o quarto
Do filho que já morreu

Oh, pedaço de mim
Oh, metade amputada de mim
Leva o que há de ti
Que a saudade dói latejada
É assim como uma fisgada
No membro que já perdi

Oh, pedaço de mim
Oh, metade adorada de mim
Lava os olhos meus
Que a saudade é o pior castigo
E eu não quero levar comigo
A mortalha do amor
Adeus
(Chico Buarque)

Na fotografia
Estamos felizes

Como é que se desliga o amor?

Você já amou alguém? Não quero dizer paixão, carência, tesão, nada disso que eu conheço bem. Amor. Você já teve alguém do seu lado que tudo o que precisava fazer era dizer um “oi” mais dengoso, sorrir um pouco, mexer no seu cabelo? Alguém imperfeito e único, mas que te completava. Não, te ampliava, não sei explicar. Te ampliava e te tornava assim incompleto. Alguém que te fazia feliz, te dava um calorzinho gostoso e não te dava medo de ser mentira, miragem, loucura. E que te dava um brilho nos olhos, e que te deixava louco da vida vez em quando, mas com quem era muito difícil permanecer bravo, e que quando te evitava era como se te apunhalasse, e que quando te ligava era como se cantasse, e que quando te tocava era… era ele, apenas ele, sabe como? Mas que valia, sobretudo, o esforço, a batalha, o crescimento, a chuva, o sol — não importa o que digam.

Então, teve? Eu tive. Já perdi as contas de quantas vezes ensaiei ligar e não liguei — por quê? ora, porque… por quê? —, quantas vezes vi aquele rosto e quantas vezes arranquei meu pensamento à força de onde havia calor e agora faz frio — o frio lá fora, amigo, não é nada —, pra não querer o que não posso, pra não procurar o que não tenho, pra não esperar ser procurado e respeitar escolhas, por mais que muitas vezes eu discorde e me revolte com elas. E caminho indeciso pra três portas: uma se chama esperança, a outra desespero, e a última desegano. Cada vez que eu dou um passo, elas giram e eu nunca tenho certeza pra onde ando. Mas não há uma porta chamada felicidade, ou alívio, por enquanto. Há janelas com cara de alegria, mas não são portas, veja, janelas não são portas. Então fecho os olhos e ando, aperto o passo. Quem sabe se eu não ver por onde bato não acabo achando a saída. (E se minha mão encontrar a tua — as vezes era tudo o que eu queria: a tua mão pra chorar um pouco —, desculpe, é que ela ainda tem a tua idéia, a tua geografia, e sabe o teu caminho, literalmente, de cor.)

Mas o que dói, dói mesmo, é sentir que amar não foi o suficiente. Que eu tentar pode simplesmente não dar em nada. Que há barreiras que podem ser muito mais altas do que a vontade de estar junto, ou a intenção de construir. E que a distância consegue ser tão grande e intransponível que todo o amor doado não faz eco.

Como é que se desliga o amor? Por que a vida faz isso com a gente?

Rinite

Atchim!ad libitum…
Eu tenho que cantar hoje. E amanhã. Fodeu.

Leitura sem drama

A terra é lugar de alegria penosa,
de alegria que fere.

Mas ainda que assim fosse,
ainda que fosse verdade que só se sofre,
ainda que fossem assim as coisas da terra,
haverá que estar sempre com medo?
haverá que estar sempre tremendo?
haverá que estar sempre chorando?

Para que não andemos sempre gemendo,
para que nos sature a tristeza,
o Sonhor Nosso nos deu
o riso, o sonho, os alimentos,
nossa força, e finalmente o ato de amor
que semeia gentes.
(Conselho dos Velhos Sábios Astecas, Eduardo Galeano)

O frio parece que veio como pra me lembrar de ausências. As pessoas me perguntam se estou bem e não sinto sinceridade no sim sem o não, nem no não sem o sim, pois ambos o são. Então sorrio, e meus olhos mostram promessas de dias quentes. Isso porque minha matéria é forte, porém sensível. Eu sinto. Eu sinto muito — e sinto muito, será que um dia consigo me convencer de que deixei isso claro? E no entanto, é preciso fazer jus à voz mais leve, à força das pernas, já que a do pensamento é tão traiçoeiramente mancomunada com o coração.

Já encontro meu lugar na cama e a deixo pela manhã com mais vontade. Dou destino ao que precisa ser feito — e acredite, tem um porrilhão de coisas às quais eu preciso dar rumo. Acho que a grande diferença que existe entre o que sou e o que fui, há tanto tempo que até parece mentira, é que hoje eu me permito sentir dor: ela existe e eu não a ignoro ou nego, não tento ser maior que ela. Acreditei que a dor pudesse me matar, mas não, a dor transforma. E no entanto, há um pedaço de mim que permanece quase fechado, observando a luz do sol pela janela, esperando uma primavera e querendo outra — eu não enganaria nem a mim mesmo se negasse. A vida, eu digo, é feita de pérolas, mas podia vir sem ostras.

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Eu sugiro que vocês vão ao Segundas Intenções na próxima segunda assitir à performance “Sensorial”, às 21h, com trechos de textos de Jorge Luiz Borges, Julio Cortázar e Eduardo Galeano. Direção de Thereza Piffer e Marcelo Varzea, produção de Camila Sartorelli. Feche os olhos e viaje numa explosão de sensações além da palavra: nunca os textos foram tão sensuais. O poema acima é um presente.

Figaro goes diet

É isso aí. Como não tá dando pra gastar tudo o que se come, então vamos pelo menos comer direito. E a tirinha é do Níquel, do insuperável Fernando Gonsales que, pra quem não sabe, é magro, mas daqueles que sempre foram e sempre serão — a maldade em pessoa. Odeio isso! Ele não, que é gente boa e da família.

E hoje eu sonhei com o quê? Chocolate, óbvio! Mas ó, nem posso reclamar, que esse esquema dos Vigilantes do Peso é uma beleza. Acho que o segredo é manter você entretido brincando de contar pontos — há que se vestir a camisa porque ir em reunião eu não vou, não tenho saco. Me aguardem, a balança só regride!

Sol na casa 8, lua na casa 8

Horóscopo, vai se foder! Eu não quero nem saber, não vou te colocar aqui. Você vem todo metido a besta, com uma página inteira enfiando o dedo na minha cara, dizendo o que eu já tô cansado de saber — esqueceu que as lambadas são no meu couro? —, “transbordamento de emoções”, que eu tenho que fazer isso, que eu tenho fazer aquilo, que a lua é nova, que o momento é de reciclagem. Dizer como, nem pensar? Se eu soubesse (ou pudesse) já tinha feito! E não vem com essa de me perguntar do que eu preciso me libertar que eu te coloco no topo da lista!

Quase um poema — imagem

Dia de sol
azul de inverno;
calor fora de hora.

Nuvens renitentes
como um pedaço de memória.
(Os céus são sempre lentos?)

Flores maternas
begônias pendentes —
vermelhas, sangüíneas
em sua felicidade suspensa.

Minha felicidade
guardada, esquecida
entre dias e noites.