Estou meio ausente e é uma ausência meio necessária, meio imposta. Nem tanto física, mas difícil de dosar. Uma parte em mim está procurando um sentido, uma pista, um fio que me explique algumas coisas. Sobre? Euzinho mesmo. A maneira como me ponho diante das pessoas que amo. A forma como estou, quem sou eu para o amor-amante, o amor-fraterno e o amor-amigo.
Venho já há algum tempo ouvindo conselhos, absorvendo opiniões, os pontos de vista das pessoas a meu respeito. Retrucando, como é de praxe, mas registrando tudo porque eu sei que tem algo errado, só não sei exatamente o que. Tenho pistas — opiniões não faltam —, apenas pistas. Um emaranhado de feedbacks sem todo o discernimento que indicam a necessidade de mudança, mas qual? E o que reside em mim e o que não?
A maneira como me dôo e que encanta, mas que se torna demasiado pesada para o outro sustentar. E o que era brilho vira clarão e assusta, incomoda. O jeito como ocupo meu espaço, um tempo meu, com algo que não é meu no simples desejo de ajudar, resolver, por mais que eu ache muitas vezes que posso, que tenho como fazê-lo. Por mais que tantas vezes me façam assim acreditar e, uma vez começado, não sei como parar. A minha ânsia em ter o outro socorrido. O que quero com isso? Tudo isso exacerbado pela minha visão hipermetrope dos fatos, pelo meu desfecho ideal, egoísta, que me consome em antecipação. O afã com que me envolvo, não respeitando os meus limites emocionais — o que dizer dos alheios — acreditando na minha força e poder sincero de doação. A maneira como desvio meu olhar de mim. A atitude que me põe à parte quando, na realidade, quero estar ao lado.
Tudo isso é uma ponta. São qualidades e não são. São poderes superestimados e cobertos com minha capa de herói. Curioso: eu que nunca em minha infância quis a fantasia de super-herói, vesti a fantasia não no corpo, mas em mim mesmo. Os poderes a mascarar meus medos que, mesmo expostos, continuam a me delinear. A angústia, o horror besta à piedade comigo, sufocando a minha própria necessidade de colo, mascarando-a de mim mesmo, diminuindo-a.
Não sei. Não sei como trabalhar isso, não sei nem ao certo o que é isso. Só sei que do super-homem só quero o homem, não quero capa nem nada. E rasgá-la dói, como dói ao super não poder salvar o homem — o próprio ou o outro. E portanto, sofro de uma síndrome cheia de boas intenções, tal qual o inferno, se existisse.