Natal requentado

Tou requentando a minha mensagem porque, na realidade, nada mudou — exceto a preguiça. Continuo desejando “em prece, em um anseio vibrante que este novo ciclo traga o bem, a evolução, a liberdade, a igualdade, a fraternidade, a diferença, a diversidade, a tolerância, a mudança, o equilíbrio, a esperança, a vida, o amor e o peito cheio de arte a todos aqueles de boa vontade”.

Acrescento apenas uma sugestão: vivam seus sonhos. Sejam tão racionais quanto passionais e andem sempre com os pés no chão e a cabeça nas nuvens — nada mais apropriado para um taurino com ascendente em sagitário e lua em câncer.

(…)

Sundown… ok
Sunga… ok

Maracangalha, aí vou eu. Fui!

Noite de Estrelas

A última música, o último tango pra terminar — e resumir um pouco, já que há tantas outras… — pois o meu ano termina agora. Figaro sai de férias e volta a qualquer hora do Ano Novo. De novo. O mesmo, porém outro. O outro mesmo peito ardente. No entanto, um passo adiante, o olhar a frente e (somente) na mente a bagagem. Um ano inteiro de vida cheia de vidas. O ano mais intenso da minha vida.

E sigo com a certeza de que o que quero não está mais aqui. Vou lá em 2003 buscar.

Noite de Estrelas
(Roberto Mendes / Ana Basbaum)

Arde na terra a solidão da Lua
Iluminando meu olhar perdido
Entre campinas, abismos e chapadas
Meus olhos queimam a última lembrança
Como fogueira em noite de estrelas
Me deito só
Com vista para o mundo
Calando fundo meus sonhos,
                minhas queixas
Mas alço vôo em busca de teus passos
Piso descalço na terra do teu corpo
suave passo, suave gosto,
                cheiro de mato
Meu braço laço, te lanço em segredo
Vem ser meu canto, meu verso,
                meu soneto
Vem ser poema no árido deserto
Serei oásis, silêncio, festejo
Serei sertão nas horas de aconchego

Nem Sol, Nem Lua, Nem Eu

Esse CD tá dando pano pra manga… Depois de passar quase dois dias encalhado na primeira faixa, remoendo, encalho na sexta. É próprio do fim de ano esse processo incômodo de auto-digestão, mas se eu pudesse imaginar o efeito do presente, talvez não pedisse. Ainda bem que pedi.

Nem Sol, Nem Lua, Nem Eu
(Lenine / Dudu Falcão)

Hoje eu encontrei a lua
Antes dela me encontrar
Me lancei pelas estrelas
E brilhei no seu lugar
Derramei minha saudade
E a cidade acendeu
Por descuido ou por maldade
Você não apareceu

Hoje eu acordei o dia
Antes dele te acordar
Fui a luz da estrela-guia
Pra poder te iluminar
Derramei minha saudade
E a cidade escureceu
Desatei na tempestade
Por um beijo seu

Nem a lua, nem o sol, nem eu
Quem podia imaginar
Que o amor fosse um delírio seu
E o meu… foi acreditar

Hoje o sol não quis o dia
Nem a noite o luar…

Eu sei, o amor, eu sei
Não marca hora, nem lugar
Cansei, amor, cansei
A gente cansa de esperar…

Dói, viu? E eu queria não ter essa sensação, mas tem sido inevitável. Pelo menos essa dorzinha liberta. Eu não posso dizer que tô sofrendo, é um misto de saudade e tristeza quando eu penso no assunto. Um desejo de que fosse diferente, uma imagem que se desconstrói. Mas de escolhas eu já tenho as minhas pra fazer e não há super-humanidade que me permita fazer as escolhas dos outros — graças a deus, diga-se de passagem.

Filial do Inferno

O Inferno abriu mais uma filial na Terra. Chama-se Terminal Rodoviário do Tietê, o horror dos horrores em filas homéricas. ARGH!

Mas o almoço foi a melhor coisa. Sossego, carinho e tranqüilidade há muito tempo esperados. É bom poder conversar de novo.

Maricotinha

E no entanto, o arrepio percorre o corpo na manhã nescente. Hoje, o Sol desponta na rua semi-deserta e domingueira da metrópole paulistana olhando para mim como quem diz e grita: aqui é o teu lugar, olha pra mim!

E no brilho radiante contida toda a verdade essencial de que não é minha luz que está errada, mas a direção de seus raios que se perdem na cochia sem encontrar o palco e suas cortinas azuis. Seguindo cego em busca do proscênio em minha vida.

E recebo luz na forma de presente — mais presente e pungente do que ele imagina (mil vezes obrigado!). A visão em versos cantados para mim e para mais ninguém. Tão real! Tão verdadeira que se torna impossível que tais notas antes existissem, mesmo que eu as ouvisse. Sou eu quem canta, mas não é minha voz que ouço. São minhas as palavras apropriadas sem nunca tê-las escrito no papel, mas sempre e nunca as tido tatuadas na alma, dona de meu dom.

Dona do Dom
(Chico César)

Dona do Dom que Deus me deu
Sei que é ele a mim que me possui
E as pedras do que sou dilui
E eleva em nuvens de poeira
Mesmo que às vezes eu não queira
Me faz sempre ser o que sou e fui
E eu quero, quero, quero, quero ser sim
Esse serafim de procissão do interior
Com as asas de isopor
E as sandálias gastas como gestos do pastor

Presa do Dom que Deus me pôs
Sei que é ele a mim que me liberta
E sopra a vida quando às horas mortas
Homens e mulheres vêm sofrer de alegria
Gim, fumaça, dor, microfonia
E ainda me faz ser o que sem ele não seria
E eu quero, quero, quero, é claro que sim
Iluminar o escuro com meu bustiê carmim
Mesmo quando choro
E adivinho que é esse o meu fim

Plena do Dom que Deus me deu
Sei que é ele a mim que me ausenta
E quando nada do que eu sou canta
E o silêncio cava grotas tão profundas
Pois mesmo aí na pedra ainda
Ele me faz ser o que em mim nunca se finda
E eu quero, quero, quero, quero ser sim
Essa ave frágil que avoa no sertão

O oco do bambu
Apito do acaso
A flauta da imensidão

Agenda — Van Gogh

E eu já ganhei meus dias de 2003 cheios das cores loucas do genial Van Gogh — ela me deu uma agenda linda!

E é isso que eu quero em meus dias: a loucura e a genialidade dos sentimentos transpostos em tons paupáveis. Quero tudo o que habita meu peito trasportado em expressão viva.

Quero — porque sei que posso — viver ainda mais intensamente e tocar aqueles que amo de forma aida mais especial. Quero vida!

Luz, quero luz / Sei que além das cortinas / São palcos azuis / E infinitas cortinas / Com palcos atrás / Arranca, vida / Estufa, veia / E pulsa, pulsa, pulsa / Pulsa, pulsa mais / Mais, quero mais / Nem que todos os barcos / Recolham ao cais / Que os faróis da costeira / Me lancem sinais / Arranca, vida / Estufa, vela / Me leva, leva longe / Longe, leva mais…

Sorriso de criança

Porque — não importa o que digam —
não há nada que se compare
a um sorriso largo de criança,
com 8 ou com 80 anos.

Dedoff

Minha sobrinha: o dedoff mais rápido do oeste. :P PUF! Lá se foi o micro.
Faz horas que eu tô procurando o mesmo botão nela, mas quem disse que eu acho?

Cachucha

Minha sobrinha — a saber, a coisinha mais fofa, mais meiga, mais simpática, mais cachucha, mais doce, mais linda, mais esperta, mais sorridente que existe — que (graças a deus) não me deixa mais trabalhar hoje está aqui no meu colo mandando um alô pra vocês:

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— Isqueveu!!!

Entenderam? Eu entendi tudinho.
É linda a minha cachucha. =)

Haikai oval

Haikai para uma amiga que escreve poemas em ovos:

mundo de casca quebrada
o frigir da vida
outrora aprisionada

Gil ministro II

Aqui, mais informação sobre a palhaçada ministério-cultural.

Aproveito para esclarecer: não acho, nem desacho que Gilberto Gil deva se contentar com o salário ministerial. Mas se o montante não é suficiente para manter o “padrão de vida” e também a “estrutura corporativa” do artista, então (por favor!) que não aceite. Disse e repito: ministério, na minha opinião, necessita de dedicação integral. Como disse um amigo meu, ministério não é trio elétrico!

Em tempo, R$ 8.500,00 — mais as mordomias inerentes ao cargo — é dinheiro suficiente para sustentar uma família mediana. Dinheiro público não é para bancar estrutura corporativa de ninguém. Ou, pelo menos, não deveria ser.

Gil ministro

Saiu hoje na Folha de São Paulo:

Frei Betto ataca escolha de Gil para a Cultura

MÔNICA BERGAMO
COLUNISTA DA FOLHA
JOSÉ ALBERTO BOMBIG
DA REPORTAGEM LOCAL

O convite do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, para que o cantor e compositor Gilberto Gil seja ministro da Cultura pode vir a ser mais uma crise para o PT no processo de transição. Ontem, Frei Betto, coordenador de mobilização social do Fome Zero e amigo de Lula, criticou a escolha.

“Respeito o Gil, um dos maiores talentos da música brasileira, mas existe um grupo no PT que há 13 anos elabora a política cultural no partido. Gostaria que esse grupo indicasse alguém para o ministério. Eu preferia o Antonio Cândido no cargo”, disse.

Lula e Gil se encontraram ontem à noite no DirecTV Music Hall, em São Paulo. O cantor comentou a declaração de Frei Beto: “É opinião dele, Frei Beto, e do partido. Não parece ser a do presidente. Aliás, ele [Lula] não é o presidente do PT; agora, ele é presidente do Brasil”.

Gil disse ainda que só aceitará o convite se puder continuar a exercer suas atividades profissionais. “Eu não tenho uma poupança que me permita passar quatro anos vivendo com R$ 8 mil [o salário de ministro é de R$ 8.500].” O cantor diz que levou o problema a Lula, que estaria estudando a questão. “Acho que a tradição natural indica que eu poderei conciliar as duas coisas.”

Antes do encontro com Lula ontem, Gil teria telefonado a lideranças do PT na área de cultura dizendo estar disposto a trabalhar em conjunto. A Folha apurou que José Dirceu, futuro ministro da Casa Civil, afirmou a alguns grupos do PT na área que Lula apenas manifestou a Gil o desejo de tê-lo no ministério, mas deixou aberta a possibilidade de a pasta da Cultura ser incluída em uma negociação política.

Eu concordo com o Frei Beto. Que palhaçada é essa? Ser ícone da MPB não dá gabarito algum para um ministério. E eu falo com conhecimento de causa, a grande maioria dos artistas não tem o menor tino administrativo. Estão aí os empresários do meio artístico para comprovar o que digo. Ministério é um cargo político e administrativo, antes de mais nada.

Mas enfim, mesmo que eu esteja errado — e posso mesmo estar —, já que não conheço a fundo as habilidades políticas e administrativas de Gilberto Gil, ainda sim é leviana a delcaração do artista e, na miha opinião, suficiente para desqualificá-lo para o cargo.

Gilberto Gil, antes que eu me esqueça, “tradição natural” de cu é rola! O que é que você tá pensando? Que espécie de declaração é essa? Bebeu? Como cidadão, eu não posso acreditar que a dedicação a um cargo de tamanha importância para o futuro cultural do Brasil possa ser outra coisa que não integral. Como artista, músico, inclusive, sei quanto tempo se gasta em um processo criativo, de estudo e interpretativo, quanto tempo se gasta em ensaios, meu deus! Como é que alguém pode dizer uma coisa dessas?

Como brasileiro, sinceramente, dá raiva ler algo como “eu não tenho uma poupança que me permita passar quatro anos vivendo com R$ 8 mil”. Quem me dera um salário de oito mil reais! Parece-me que o principal fator que desqualifica o tão renomado artista da música popular brasileira é simplesmente a completa falta de sintonia com a situação social desse país — isso sem falar no tremendo buraco no discurso político. Gilberto Gil, cria vergonha nessa cara!

Quanto ao governo, não vacila, faz favor!

Vórtice

Mas então por que me sinto solitário? Por que tudo é intangível? Por que não encontro no meio do esquema o meu espaço? Por que não vejo nexo? Por que não vejo? Por que me sinto tão vórtice, tão gravitacional e mesmo assim tão à parte, com a sensação de que todo mundo gira, menos eu. Na realidade, giro, mas não na roda. Concentro.

É mais do que físico, antes do emocional. É uma falta de sentir essencial que dói pela ausência. Uma peça que não se encaixa, um elemento deslocado, torto, um circuito queimado, um buraco na mente. Estar ali, estar presente mas não ser presente. Estar no meio e não participar — catalisar?

Não sei o que estou fazendo, não sei por que estou aqui e gostaria muito de entender — ao menos ver — o meu sentido metafísico, algo que amenizasse a sensação crônica de surdez. A vida inteira eu soube que um véu cobria o mundo sem nunca vê-lo e, por suas tramas, sigo em busca de sinais.

Sem palavras

Eu ando meio sem palavras — porém, cheio de coisas aqui dentro da cachola — e fico procurando palavras dos outros para exprimir as minhas. Dei de cara com Elisa Lucinda. Gostei bastante.

O Poema do Semelhante
(Elisa Lucinda)

O Deus da parecença
que nos costura em igualdade
que nos papel-carboniza
em sentimento
que nos pluraliza
que nos banaliza
por baixo e por dentro,
foi este Deus que deu
destino aos meus versos,

Foi Ele quem arrancou deles
a roupa de indivíduo
e deu-lhes outra de indivíduo
ainda maior, embora mais justa.

Me assusta e acalma
ser portadora de várias almas
de um só som comum eco
ser reverberante
espelho, semelhante
ser a boca
ser a dona da palavra sem dono
de tanto dono que tem.

Esse Deus sabe que alguém é apenas
o singular da palavra multidão
Eh mundão
todo mundo beija
todo mundo almeja
todo mundo deseja
todo mundo chora
alguns por dentro
alguns por fora
alguém sempre chega
alguém sempre demora.

O Deus que cuida do
não-desperdício dos poetas
deu-me essa festa
de similitude
bateu-me no peito do meu amigo
encostou-me a ele
em atitude de verso beijo e umbigos,
extirpou de mim o exclusivo:
a solidão da bravura
a solidão do medo
a solidão da usura
a solidão da coragem
a solidão da bobagem
a solidão da virtude
a solidão da viagem
a solidão do erro
a solidão do sexo
a solidão do zelo
a solidão do nexo.

O Deus soprador de carmas
deu de eu ser parecida
Aparecida
santa
puta
criança
deu de me fazer
diferente
pra que eu provasse
da alegria
de ser igual a toda gente

Esse Deus deu coletivo
ao meu particular
sem eu nem reclamar
Foi Ele, o Deus da par-essência
O Deus da essência par.

Não fosse a inteligência
da semelhança
seria só o meu amor
seria só a minha dor
bobinha e sem bonança
seria sozinha minha esperança

(madrugada onde fui acordada pelo poema
no Rio de Janeiro, 10 de julho de 1994)

Pedalando

E assim caminha pedala a humanidade…

O duro mesmo é tirar as rodinhas.

Azulão

Ai…

Ouvir Bethânia cantando Luar do sertão, Azulão —principalmente —, O Trenzinho Caipira e Romaria, assim, na sequência, tá acabando comigo.

Um choro tranqüilo — saudável — e silencioso. Mas ainda sim um choro.

Ópera Estúdio

Recital de Ópera Estúdio hoje. Maravilha! Tranqüilo, sem problemas, a voz correndo solta. Berrei… digo, cantei com fé!

Agora é trabalhar… É, trabalhar pra diminuir um pouco a miséria das férias. Vida de músico é foda!

PS: Você não apareceu, desgraçado! Não me ama mais! :P

Flor da idade

Tem coisas que só uma barra de chocolate e Chico Buarque fazem por você.

Flor da idade
(Chico Buarque/1975)

A gente faz hora, faz fila na vila do meio dia
Pra ver Maria
A gente almoça e só se coça e se roça e só se vicia
A porta dela não tem tramela
A janela é sem gelosia
Nem desconfia
Ai, a primeira festa, a primeira fresta, o primeiro amor

Na hora certa, a casa aberta, o pijama aberto, a família
A armadilha
A mesa posta de peixe, deixe um cheirinho da sua filha
Ela vive parada no sucesso do rádio de pilha
Que maravilha
Ai, o primeiro copo, o primeiro corpo, o primeiro amor

Vê passar ela, como dança, balança, avança e recua
A gente sua
A roupa suja da cuja se lava no meio da rua
Despudorada, dada, à danada agrada andar seminua
E continua
Ai, a primeira dama, o primeiro drama, o primeiro amor

Carlos amava Dora que amava Lia que amava Léa que amava Paulo
Que amava Juca que amava Dora que amava Carlos que amava Dora
Que amava Rita que amava Dito que amava Rita que amava Dito que amava
Rita que amava
Carlos amava Dora que amava Pedro que amava tanto que amava
a filha que amava Carlos que amava Dora que amava toda a quadrilha

Saudade

Eu ando lendo tão pouco os blogs em geral — nem os que eu leio normalmente eu tenho visto direito — que resolvi “bater cartão” essa manhã, enquanto o sol não vinha.

E de repente (não mais que de repente) me deu uma saudade absurda dela. Mi, cadê você?

Bloganiversário

Já é dia 10? Onrron! Lembrei foi por acaso, mas hoje fazem faz dois anos que esse blog começou. Um bloganiversário.

E dando uma passada de olhos em cada mês deu pra ver que a essência do que digo — quando não é bobagem — continua a mesma, mas a forma mudou bastante. Que bom. É gratificante constatar que isso aqui serviu pra alguma coisa, serviu pra melhorar, pensar, evoluir.

Mas o mais importante: olhando do alto desses quase 2000 posts (!!!) e munido de severa auto-crítica devo dizer… Taquiospa! Eu falo pra caralho!

E chega! Isso aqui é só um blog.

Surrealismo japonês

�?gua quente sob uma ponte vermelha: eu não entendo patavina de surrealismo japonês, mas que o filme é divertido, lá isso é! A expressão “me molhei toda(o)” ganha todo um novo significado.

Emoções fortes

Chega de emoções fortes pra mim, eu quero ser exilado desta realidade! Alguém me acorda só no ano que vem, faz favor? De preferência num universo paralelo, com abraço, beijo e cafuné, dizendo que tudo não passou de um sonho ruim, sim?

E me traz mais um copo de água com açúcar.

Assalto 2

Eita! Blog tem poder! Minha mãe acabou de ligar. Acharam o carro parado ali perto — meno male. Não liga e a alavanca do câmbio tá mole.

Agora resta a dúvida: zoaram o carro ou ele quebrou na mão dos assaltantes e eles super se foderam? Isso é que é carro fiel!

Em tempo, eu tô tranqüilo — puto, mas tranqüilo — porque não enconstaram um dedo na minha mãe. E quero que todos os bancos implodam por fazerem um sistema de bloqueio de cartões só via telefone — não tem via internet — que te deixa esperando até a linha cair. ARGH! Itaú e Real, no 3: 1, 2, 3! MORRAM!

Assalto

Ah, ótimo! Que bosta! Minha mãe acabou de ser assaltada na entrada da avenida. Levaram carro, celular, bolsa, tudo. Que beleza. Hohoho! Feliz Natal!

Caralho!

Síndrome de super-homem

Estou meio ausente e é uma ausência meio necessária, meio imposta. Nem tanto física, mas difícil de dosar. Uma parte em mim está procurando um sentido, uma pista, um fio que me explique algumas coisas. Sobre? Euzinho mesmo. A maneira como me ponho diante das pessoas que amo. A forma como estou, quem sou eu para o amor-amante, o amor-fraterno e o amor-amigo.

Venho já há algum tempo ouvindo conselhos, absorvendo opiniões, os pontos de vista das pessoas a meu respeito. Retrucando, como é de praxe, mas registrando tudo porque eu sei que tem algo errado, só não sei exatamente o que. Tenho pistas — opiniões não faltam —, apenas pistas. Um emaranhado de feedbacks sem todo o discernimento que indicam a necessidade de mudança, mas qual? E o que reside em mim e o que não?

A maneira como me dôo e que encanta, mas que se torna demasiado pesada para o outro sustentar. E o que era brilho vira clarão e assusta, incomoda. O jeito como ocupo meu espaço, um tempo meu, com algo que não é meu no simples desejo de ajudar, resolver, por mais que eu ache muitas vezes que posso, que tenho como fazê-lo. Por mais que tantas vezes me façam assim acreditar e, uma vez começado, não sei como parar. A minha ânsia em ter o outro socorrido. O que quero com isso? Tudo isso exacerbado pela minha visão hipermetrope dos fatos, pelo meu desfecho ideal, egoísta, que me consome em antecipação. O afã com que me envolvo, não respeitando os meus limites emocionais — o que dizer dos alheios — acreditando na minha força e poder sincero de doação. A maneira como desvio meu olhar de mim. A atitude que me põe à parte quando, na realidade, quero estar ao lado.

Tudo isso é uma ponta. São qualidades e não são. São poderes superestimados e cobertos com minha capa de herói. Curioso: eu que nunca em minha infância quis a fantasia de super-herói, vesti a fantasia não no corpo, mas em mim mesmo. Os poderes a mascarar meus medos que, mesmo expostos, continuam a me delinear. A angústia, o horror besta à piedade comigo, sufocando a minha própria necessidade de colo, mascarando-a de mim mesmo, diminuindo-a.

Não sei. Não sei como trabalhar isso, não sei nem ao certo o que é isso. Só sei que do super-homem só quero o homem, não quero capa nem nada. E rasgá-la dói, como dói ao super não poder salvar o homem — o próprio ou o outro. E portanto, sofro de uma síndrome cheia de boas intenções, tal qual o inferno, se existisse.

Chove chuva…

Escuta… mas… tipo assim, não vai mais parar de chover, não? Tudo bem, eu não vou mais pedalar, mas tá começando a me dar urticária de ficar nesse quarto! :P

Senhora

Senhora das tempestades
(Manuel Alegre)

Senhora das tempestades e dos mistérios originais
Quando tu chegas, a terra treme do lado esquerdo
Trazes a assombração
As conjunções fatais
E as vozes negras da noite
Senhora do meu espanto e do meu medo
Senhora das marés vivas e das praias batidas pelo vento
Senhora do vento norte com teu manto de sal e espuma
Há uma lua do avesso quando chegas
Há um poema escrito em página nenhuma
Quando caminhas sobre as águas
Senhora dos sete mares
Conjugação de fogo e luz
E no entando eclipse
Trazes a linha magnética da minha vida
Senhora da minha morte
Quando tu chegas, começa a música
Senhora dos cabelos de alga
Onde se escondem as divindades
Trazes o mar, a chuva, as procelas
Batem as sílabas da noite
Batem os sons, os signos, os sinais
E és tu a voz que dita
Trazes a festa e a despedida
Senhora dos instantes com sua rosa dos ventos
E teu cruzeiro do sul
Senhora dos navegantes
Com teu astrolábio e tua errância
Tudo em ti é partida
Tudo em ti é distância
Tudo em ti é retorno

Senhora do vento
Com teu cavalo cor de acaso
Teu chicote, tua ternura
Sobre a tristeza e a agonia
Galopas no meu sangue com teu cateter chamado
Pégaso
Senhora dos teoremas e dos relâmpagos marinhos
Senhora das tempestades e dos líquidos caminhos
Quando tu chegas, dançam as divindades
E tudo é uma alquimia
Tudo em ti é milagre
Senhora da energia!

Os doces bárbaros

O show de ontem no Ibirapuera que completou 10 anos do projeto Pão Music e reuniu, após 25 anos, os Doces Bárbaros novamente foi, no mínimo, curioso. No chão, a catarse foi garantida. Basta o momento, a música, a companhia e, para alguns, a lembrança para tacar fogo em braços, pernas e voz. Mas no palco não se via um brilho coeso, uma unidade bárbara. Ficou claro — para mim, pelo menos — que quem evocava o momento era o público.

Caetano, Bethânia, Gal e Gil vivem, cada um, momentos diferentes de carreira, opinão, etc., o que se reflete diretamente na música deles. Mesmo assim, duetos como o de Gal e Bethânia — claro que eu não me lembro do nome da música — ficaram maravilhosos. Estranho, por exemplo, foi que praticamente só Bethânia falou com o público. Caetano estava quieto. Gil apresentou, rouco, a canção composta especialmente para o evento e para os quatro. Gal, sei lá por que, cantou Lanterna dos afogados ao invés de cantar algo que fosse mais expressivo na sua voz — que, eu espero, ela pare de jogar para o grave.

O show foi bonito, mas se era para evocar os Doces Bárbaros talvez fosse melhor reviver aquele momento musicalmente, retratando aquela época ao invés de tentar reconstruí-la hoje.

A chuva foi um capítulo especial. Antes do show o sol forte foi encoberto por nuvens carregadas que ameaçavam, gotejavam e não despencavam. Foi o show acabar, tocarem o ponto final e o temporal se abateu sobre o parque, transformando suas ruas em rios, lavando tudo, rasgando o céu — adorei essa parte. E saímos todos encharcados, uns correndo, outros brincando. Eu? Cantando e pulando na chuva, feliz da vida.

Ninguém tira da minha cabeça que aquela chuva foi encomendada. Ainda mais com uma suposta filha de Iansã no palco.

Tentativa de assalto

Tive meus pensamentos cortados hoje, há umas duas horas, violentamente. Fui arrancado de mim por um grito desesperado, vocês exaltadas e a certeza de que alguém quem eu amo, a poucos metros, tinha a vida por um fio. Uma tentativa de assalto a mão armada, em frente à casa de minha avó. Eu terminando minha aula, o casal de fruteiros e sua Kombi lá fora, minha avó no jardim. O facão na mão do fruteiro, a arma na mão do ladrão, meu coração… gelado. Minha avó no jardim. A aula interrompida, a sala do tamanho de um passo. Minha avó no jardim! O fruteiro acuado, sua mulher desesperada. MINHA AVÓ NO JARDIM! Eu no portão, a mulher soluçando, vizinhos saindo. O ladrão correndo. Minha avó, parada, em pé, no jardim. Viva.

Vozeirio, discussão, choro, mas todo mundo bem. Não era a hora de ninguém. Não era a hora, nunca é. O sangue frio volta a correr. Minha avó com a cara calma de quem sabia o que estava acontecendo, de quem sabia e observava, acalmava a pobre mulher que chorava após o susto.

E eu agradecia à mão que sustentava a todos, que impediu o ato impensado, o movimento desesperado, o único e abominável som do disparo que podia acabar com tudo. Dia, ano, alegria, sonho, vida. Eu agradecia à mão em meu ombro.

Penso em como o amor nos é tirado à força, em como é violento o ato. Penso nas pessoas que amo e penso que não teria pensado, teria me jogado na frente da minha avó. E talvez esse ato impensado tivesse criado desgraça.

Eu estava pensando. Passei o fim da manhã e o almoço pensando, conversando, olhando pra mim. E agora isso! Não sei, perdi o fio da meada. A ponta do fio que desfia minha capa. Depois eu procuro. Mas uma coisa é certa: minha capa de super-homem está sendo rasgada.

Massagem

Hoje é dia de massagem terapêutica — o toque que cura. Todo toque é (potencialmente) curativo. Tudo depende apenas da intenção de quem toca e do desejo de quem recebe. Meu anseio.

Suplício

“E se, de repente
A gente não sentisse
A dor que a gente finge
E sente
Se, de repente
A gente distraísse
O ferro do suplício
Ao som de uma canção
Então, eu te convidaria
Pra uma fantasia
Do meu violão

Canta-se! Enperança. Alegria. Noite. Dia. Homem. Vida. Terra. Vinho. Gozo. Graça. Mais! Tinta. Praça. Glória. Melodia. Noite e dia.

Furo na orelha

Parece besta, mas eu não entendo nada disso mesmo: onde é melhor furar a orelha? Um furo simples, padrão, no meio do lóbulo. Nesses lugares que aplicam piercings ou na boa e velha farmácia mesmo? Alguém me diz?

Mochila nas costas

Se eu tivesse condições — entenda-se, dindim — e nenhum compromisso, o que eu queria mesmo era jogar uma mochila nas costas e sair viajando. Sozinho, de prefetência, ou com algum novo amigo ou amiga. Passar um mês — e, se possível, dois — parando onde desse, acampando em uma praia, perto de uma cachoeira, subindo, até algum ponto do nordeste, quem sabe. Daí, pegar um avião e voltar. Continuar de onde eu tirei férias e deixei o mundo girando sozinho.

Horóscopo

(Folha, 5/12/2002)
TOURO
Você, que está tendo de rever tanta coisa em sua vida, que se cuide ainda mais hoje! Uma postura prática, consciente, e humilde será quase impossível. O que dará certo é cuidar para que seus contatos com o mundo exterior primem pela crença de que o tempo seja respeitado.

É isso aí. Eu vou é ficar com a minha boca fechada por um bom tempo, isso sim. Descanso (merecido) pra todo mundo, inclusive pra mim.

In the rain

“I’m singing running in the rain…”

As gotas precipitadas e frias da chuva sobre o meu corpo veranil me dão alívio. Chove! Chove mais! Eu quero água, quero vento, quero mais. Tudo em mim pulsa e vibra com força. Força imposta, recomposta e alimentada pelo meu amor. Não dá pra entender. Só entendo a chuva, fonte refrescante de vida.

Dois boxers e um labrador brincam pelas poças do parque enxarcado. Felicidade simples, companheira e (graças a deus) sem palavras. Só o gesto, o olho-no-olho, o diálogo corporal. Claro e palpável.

Os cisnes se agrupam às margens do lago. Engraçado, têm medo da chuva? Por que não nadam? Nenhum pato, nenhum ganso, nemhuma ave aquática nada na chuva. Curioso.

Corro, pisando nas minhas próprias poças.

Sentimento

“Cantar é mais do que lembrar
É mais do que ter tido aquilo então
É mais do que viver, do que sonhar”

Todo o sentimento
(Cristóvão Bastos – Chico Buarque/1987)

Preciso não dormir
Até se consumar
O tempo
Da gente
Preciso conduzir
Um tempo de te amar
Te amando devagar
E urgentemente
Pretendo descobrir
No último momento
Um tempo que refaz o que desfez
Que recolhe todo o sentimento
E bota no corpo uma outra vez

Prometo te querer
Até o amor cair
Doente
Doente
Prefiro então partir
A tempo de poder
A gente se desvencilhar da gente
Depois de te perder
Te encontro, com certeza
Talvez num tempo da delicadeza
Onde não diremos nada
Nada aconteceu
Apenas seguirei, como encantado
Ao lado teu

Uma hora dessas…

Chaplin

“A coisa mais injusta sobre a vida é a maneira como ela termina. Eu acho que o verdadeiro ciclo da vida está todo de trás pra frente. Nós deveríamos morrer primeiro, nos livrar logo disso. Daí viver num asilo, até ser chutado pra fora de lá por estar muito novo. Ganhar um relógio de ouro e ir trabalhar. Então você trabalha 40 anos até ficar novo o bastante pra poder aproveitar sua aposentadoria. Aí você curte tudo, bebe bastante álcool, faz festas e se prepara pra faculdade. Você vai pro colégio, tem várias namoradas, vira criança, não tem nenhuma responsabilidade, se torna um bebezinho de colo, volta pro útero da mãe, passa seus últimos nove meses de vida flutuando… E termina tudo com um ótimo orgasmo!!! Não seria perfeito?” (Chaplin)

É… de fato e de direito.

Fora de hora

Não coloquei aqui o primeiro poema que li ontem, aquele que abriu as páginas do livro antes mesmo que eu pensasse em lê-lo. Mas foi assim, assustadoramente premonitório. E eu soube, claro, embora não quisesse saber.

Fora de hora
(Carlos Drummond de Andrade)

Entrega fora de hora
e posse fora de hora.
Quem mandou
você atrasar a hora,
você apressar a hora,
você aceitar a hora
não madurada
ou demasiado madura?

O tempo fora de hora
não é tempo nem é nada.
O amor fora de hora
é como rolar a escada.

Ok, poema, eu não concordo com você, mas você ganhou o direito de ficar na memória. O tempo é meu e quem decide o que ele é ou não sou eu mesmo. O tempo é apenas tempo. O demais, não sei. É sonho? Que seja, eu acredito neles.

Crediários?!

AAAAAAAAAAAAAAAARGH!!!

Eu não acredito! De novo, caralho?! De novo?!!! Abriram crediários (é, plural) no meu nome DE NOVO?! Já deu um ano que roubaram meu RG, já fizeram crediários, já declararam uma puta grana de imposto em meu nome (e não pagaram), já foderam o meu nome, já fui no SERASA, já fui no SPC, já fui na Receita Federal, já berrei aos quatro cantos, esfreguei BO na cara de meio mundo e isso ainda acontece? CARALHOS ME FODAM!!! É karma, é? Pois alguém vai pagar dessa vez! Agora eu me enfezei.

Diante de uma criança

Poema para um amigo-pai (e para amigos-filhos).

Diante de uma criança
(Carlos Drummond de Andrade)

Como fazer feliz meu filho?
Não há receitas para tal.
Todo o saber, todo o meu brilho
de vaidoso intelectual

vacila ante a interrogação
gravada em mim, impressa no ar.
Bola, bombons, patinação
talvez bastem para encantar?

Imprevistas, fartas mesadas,
louvores, prêmios, complacências,
milhões de coisas desejadas,
concedidas sem reticências?

Liberdade alheia a limites,
perdão de erros, sem julgamento,
e dizer-lhe que estamos quites,
conforme a lei do esquecimento?

Subter-me à sua vontade
sem ponderar, sem discutir?
Dar-lhe tudo aquilo que há
de entontecer um grão-vizir?

E se depois de tanto mimo
que o atraia, ele se sente
pobre, sem paz e sem arrimo,
alma vazia, amargamente?

Não é feliz. Mas o que fazer
para consolo desta criança?
Como em seu íntimo acender
uma fagulha de confiança?

Eis que acode meu coração
e oferece, como uma flor,
a doçura desta lição:
dar a meu filho meu amor.

Pois o amor resgata a pobreza,
vence o tédio, ilumina o dia
e instaura em nossa natureza
a imperecível alegria.