E você, observador atento, deve ter notado que há algumas semanas atrás eu andei mal. Não tenho muita experiência com isso, não tenho memória de algo parecido, mas acho que o que eu vivi foi um pequeno processo depressivo — usando o termo com toda a liberdade do leigo. As causas? Difícil dizer, mas a sensação de embotamento, de olhar pras coisas acontecendo ao seu redor e não entender, não conseguir interagir, não conseguir se expressar foi um tanto assustadora. Aparentemente, quanto mais o meu racional tentava equilibrar e domar meu emocional, e isso é praticamente um reflexo comportamental meu, mais eu me estrepava. Eu não tinha ação, não tinha forças, só queria sair dali.
Conversei com alguns amigos, pessoas mais velhas, com mais experiência do que eu, que me conhecem bem, outras nem tanto e consigo identificar alguns gatilhos, acho. Mas não dá pra atribuir tal processo a uma causa isolada. Desde o começo do ano eu estive em contato com uma parcela minha que, por muito tempo, eu mantive protegida, guardada, de certa forma isolada. Muita coisa mudou. Expus de uma vez só pra vida o meu lado não-calejado, sincero, imaturo, passional. Doeu pra caralho. Pela intensidade do choque, pela realidade do golpe, pela falta de sincronia, pela força da experiência. Ao mesmo tempo, uma situação financeira instável, um vínculo trabalhista fragilizado, um relacionamento familiar já desgastado. Parece um quadro horrível, mas eu sinto que não era pra tanto, são coisas com as quais eu consigo lidar. Então, per chè?
Por que eu me infligi esse estado? Não sei dizer. Talvez por não saber, talvez por não querer ver, talvez por não me conhecer ou, talvez, por precisar. Não tenho idéia. Assim como acho que não tenho a habilidade de falar disso aqui. Tagarelo porque ainda penso. E, quem sabe, chego à conclusão que supervalorizei tudo isso. Será? Ou será o contrário? É tudo muito importante, sintomático e deve ser destrinchado.
Seja o que for, está muito bem registrado aqui e cá dentro de mim, absorvido, amargamente engolido. Mas o gosto ruim passa, fica o efeito do remédio. E eu só consigo falar disso porque hoje minha alegria é mais forte. Sejam quais forem os sentimentos ou os ânimos que se movem no meu ser, eu tô caminhando e meu passo é firme, como deve ser.